O também apresentador do programa “Negócios da Semana”, da Sic Notícias, licenciado em Comunicação Social, volta a surpreender, agora aos 56 anos vestindo a pele de um quase detetive-historiador que revela novas provas sobre episódios cruciais da História de Portugal, com a qual espera que os portugueses se reconciliem, após leitura deste seu novo livro, capaz de gerar controvérsia.
Foram dois anos e meio de muito estudo, pesquisa e trabalho intenso, roubado ao escasso tempo livre, para que José Gomes Ferreira, ao longo de centenas de páginas que se leem num ápice, pudesse dar forma a um sonho antigo, uma paixão que mantinha há mais de dez anos, e agora materializou.
Na gaveta ficam, por enquanto, guardados mais documentos relevantes e “polémicos” que deixam adivinhar um próximo volume.
Nesta obra, “Factos Escondidos da História de Portugal”, diz que pretende revelar o que os compêndios não dizem. É uma provocação aos historiadores oficiais de Portugal?
É uma provocação assumida aos historiadores oficiais, sim, no sentido positivo. Não digo que há muitos erros nos manuais de História de Portugal, mas há algumas incorreções e sobretudo muitas omissões. Por exemplo, quando os historiadores portugueses dizem que Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, esquecem-se de acrescentar que esta “descoberta” foi no sentido de tomada de posse oficial de um território da América do Sul, a pedido do rei de então, D Manuel I.
Quase todos os historiadores reconhecem que houve viagens anteriores ao Brasil, não só portuguesas como a de Duarte Pacheco Pereira, dois anos antes, mas também espanholas, como a de Vicente Yanez Pinzón, alguns meses antes. Mas insistem em escrever e ensinar nas universidades que foi Pedro Álvares Cabral quem descobriu o Brasil porque esta é a verdade de Estado, a verdade oficial, política e diplomática e não querem ter o trabalho de mudar os manuais para um texto mais objetivo que deveria dizer o seguinte: o Brasil foi descoberto por navegadores portugueses em data incerta e viagem desconhecida realizada em meados do século XV, tendo Pedro Álvares Cabral tomado posse oficial daquele território para a Coroa de Portugal no ano de 1500, quando realizou a primeira viagem marítima na História da Humanidade que ligou quatro continentes, a Europa, a América, a África e a Ásia. É por este último feito que Pedro Álvares Cabral deve ser recordado nos livros de História, e não por uma falsa descoberta do Brasil.
O meu livro é uma provocação e um desafio aos historiadores oficiais – tenham a coragem de mudar o que está mal na sua narrativa, porque com as modernas tecnologias de comunicação e a facilidade de acesso às fontes diretas, há cada vez mais capítulos da História Oficial de Portugal em que os cidadãos deixaram de acreditar.
Acha que após a leitura deste seu último livro, os portugueses poderão, de alguma forma, reconciliar-se com a História, com a qual têm estado um pouco indiferentes, para não dizer mesmo de costas voltadas?
Há de facto muitos portugueses de costas voltadas para a versão imutável da História que aprendemos durante décadas na escola, porque está cheia de contradições e absurdos; e há também cada vez mais portugueses e estrangeiros a considerar que a História de Portugal e da Europa se resume a um extenso rol de atentados aos direitos de outros povos.
Os recentes fenómenos de vandalização e derrube de estátuas de navegadores europeus como as de Cristóvão Colombo são a prova direta de uma agressividade ideológica crescente contra a História Europeia, sobretudo da época dos Descobrimentos. É o resultado social de uma narrativa enviesada que tudo resume a práticas de escravatura, massacres, destruição cultural e exploração social e económica dos europeus sobre os outros povos, como se estes tivessem vivido antes como bons selvagens no Paraíso, sem guerras nem conflitos, nem pecado. Tudo isso é de um lirismo confrangedor, quando sabemos que a escravatura foi inventada e praticada desde há milénios.
“É tempo de os portugueses deixarem de ter vergonha do passado e de se reconciliarem com a História de Portugal, que é muito maior do que as narrativas atuais nos fazem crer”
Claro que a História da Europa e de Portugal ficou marcada pela escravatura e sobretudo pela amplificação e massificação dessa hedionda prática. Mas também já os gregos tinham escravos que lhes faziam o trabalho pesado e não votavam, enquanto os filósofos e os matemáticos escreviam, ensinavam e faziam avançar a cultura ocidental e não é por isso que andamos agora a queimar livros de Platão e Aristóteles.
A nossa História teve crimes e misérias, que devem ser vistos à luz dos códigos éticos e morais da época, e também teve exemplos de extrema generosidade e entrega. Os nossos navegadores, cartógrafos e marinheiros deram a vida pela descoberta da maior parte dos territórios do globo contribuindo decisivamente para o avanço da civilização, das ciências, da medicina, da gastronomia, da cultura e também das condições económicas e sociais da Humanidade.
Uma visão justa da História tem de valorizar estes últimos aspetos, não esquecendo os primeiros. É tempo de os portugueses deixarem de ter vergonha do passado e de se reconciliarem com a História de Portugal, que é muito maior do que as narrativas atuais nos fazem crer.
“O que manda atualmente na História de Portugal é o critério económico, político e diplomático, que determina que seja construída uma versão de acordo com os (alegados) interesses estratégicos do país”
Este livro é em tudo diferente dos livros anteriores que assinou… depois da estreia, com uma obra voltada para a Economia e a Análise Económica, que apontava para soluções políticas, depois de um quase “manual” para aprimorar o atual sistema político e constitucional e do anterior, sobre a banca e os sistemas financeiros vigentes, este é fruto de uma antiga paixão pela História da nação. Porque sentiu necessidade de lançar agora este compêndio que, além da História de Portugal, abarca, também, a de tantos outros países?
Na verdade, este não é um livro de História. Este é um livro de política, ou melhor, um livro com a minha interpretação política sobre a maneira como nos é contada a História de Portugal e sobre o que tem de ser mudado. O que manda atualmente na História de Portugal é o critério económico, político e diplomático, que determina que seja construída uma versão de acordo com os (alegados) interesses estratégicos do país.
Mapa de “Colombo” (1490), com as Ilhas das Sete Cidades ou Terra Nova, Nova Escócia e Península do Labrador
O conjunto de mapas e documentos que provam que os portugueses descobriram a América antes de 1492, a começar pelo mapa de Andrea Bianco de 1447, até ao mapa de “Colombo” de 1490 e a inscrição em latim que dizia que as Ilhas das Sete Cidades (a Terra Nova) eram uma colónia de portugueses, bem como o conjunto de documentos e mapas que provam as duas expedições de Cristóvão de Mendonça à Ilha do Ouro (Austrália) entre 1521 e 1524, esses dois conjuntos de provas de que a História foi diferente já são demasiado volumosos para continuarem a ser ignorados.
Mas porque é que a História de Portugal não diz claramente que os nossos navegadores descobriram a América e a Austrália na era moderna? Porque quem manda na História são os agentes do Estado nomeados pelos governos. E nenhum governo de Portugal quis até agora que os manuais dissessem estas verdades, por razões estratégicas. Se um diplomata português começasse a argumentar com os colegas americanos e australianos, numa receção oficial antes de uma votação importante para Portugal, que os portugueses descobriram estes territórios, o nosso país arriscar-se-ia a perder essa votação…
É assim que funciona a diplomacia. Mas agora, que já não temos império e já estamos plenamente integrados nas instancias europeias e mundiais, porquê continuar a manter uma História oficial cheia de contradições com as provas de uma verdade diferente que se acumulam debaixo dos nossos olhos?
“Não quero reescrever o passado. A História é o que foi, nenhuma ideologia nem pensamento politicamente correto a consegue reescrever. O que quero é que as interpretações oficiais da nossa História, que são manifestamente erradas, sejam corrigidas”
O José Gomes Ferreira jornalista e escritor vestiu a pele de detetive e partiu em busca de factos e provas irrefutáveis que podem vir a corrigir, a reescrever o passado, tal como sempre o conhecemos? De que forma chegou a tantos documentos, mapas e fotografias antigas?
Não quero reescrever o passado. Aliás, ninguém consegue reescrever o passado, a História é o que foi, nenhuma ideologia nem pensamento políticamente correto a consegue reeescrever. O que quero é que as interpretações oficiais da nossa História, que são manifestamente erradas, sejam corrigidas. Por exemplo, a História diz que entre 1488 e 1498, os reis de Portugal não mandaram mais nenhuma expedição para lá do Cabo da Boa Esperança até à célebre viagem de Vasco da Gama. Ora esta é uma mentira comprovada.
Há vários relatos de historiadores muçulmanos que provam avistamentos de navios dos “francos” (como os europeus eram conhecidos na África oriental e na Índia) e até naufrágios, nas costas orientais de África e no Índico durante aquele período. Aliás, o mapa de Cantino desmonta essa mentira porque, em 1501-2, já mostra quase todos os territórios do Índico no seu devido lugar e proporções e não teria sido possível mapeá-los apenas nas viagens de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral. Alguém em seu perfeito juízo acredita que Vasco da Gama acertou por acaso na melhor rota para passar o cabo da Boa Esperança na direção da Índia, aproximando-se previamente do Brasil e só depois virando para leste, sem o sistema de ventos e correntes do Atlântico Sul ter sido estudado antes durante décadas pelos portugueses?
“A interpretação correta da História dos Descobrimentos portugueses e europeus no globo não é feita porque as diplomacias não deixam”
Gago Coutinho quase 100 anos antes alertava para este estudo sistemático e para a pré-descoberta do Brasil por Bartolomeu Dias. A História oficial também diz que Fernão de Magalhães descobriu o Estreito que ficou com o seu nome. Mas alguém em seu perfeito juízo acredita que uma viagem financiada pelo Rei de Espanha para chegar às Molucas pelo Ocidente teria sido planeada sem o navegador ter a certeza da existência do estreito da Terra do Fogo e da sua navegabilidade até ao Pacífico? Aliás, o próprio cronista da viagem, Pigafetta, se encarregou de escrever no célebre diário que Magalhães já tinha visto antes o estreito na carta de Martim Behaim, no paço real em Lisboa.
Alguém em seu perfeito juízo acredita que Cristóvão Colombo, que tinha sido navegador ao serviço de D João II, acertou à primeira na rota que o levaria às Antilhas das Caraíbas em 1492, sem antes o próprio ou outros navegadores portugueses lá terem ido? Por estas e por muitas outras razões não posso aceitar que a atual História Oficial de Portugal seja correta…
Com base na investigação que fez, nas provas que recolheu, o Brasil, a América e a Austrália foram todas descobertas por lusitanos…crê que estas passagens podem provocar alguma celeuma internacional, não teme algum conflito diplomático?
Nenhum dos países envolvidos, a começar por Portugal, quer alterar a sua própria interpretação da História. Na Austrália contam-se às dezenas os historiadores que defendem a pré-descoberta lusitana. Nos museus australianos há artefactos portugueses como canhões, e também mapas cheios de nomes portugueses, com datas comprovadamente anteriores à descoberta oficial pelos holandeses, em 1606.
Nos Estados Unidos, são cada vez mais os investigadores que defendem a pré-descoberta portuguesa tanto das costas leste como do Pacífico, sobretudo com base no mapa mundo de Martim Waldseemuler de 1507, baseado em informações dos navegadores lusitanos ou ao serviço do Rei de Portugal, como o cosmógrafo Américo Vespúcio.
A interpretação correta da História dos Descobrimentos portugueses e europeus no globo não é feita porque as diplomacias não deixam. No livro “Columbus was Last”, o jornalista americano Patrick Huyghe conta a história de um conjunto riquíssimo de ânforas romanas encontrado no fundo do mar à mistura com destroços de madeirame, junto de um rochedo na costa nordeste do Brasil. Um investigador pediu licença ao governo brasileiro para investigar o achado, mas não só este recusou como Portugal apresentou imediatamente um protesto diplomático a solicitar essa recusa. Querem melhor prova de que é a chancelaria que manda na História dos países?
“Os intelectuais portugueses alinhados com as verdades oficiais que digam e façam o que quiserem acerca do meu livro e dos livros de outros investigadores independentes, a verdade histórica não depende deles…”
Numa imagem do livro, na página 219, aparece reconstituida toda a costa australiana, com base em mapas de 1547. Não teme ser contestado, como aconteceu ao militar malaio Manuel Agostinho de Herédia, que foi desacreditado e ostracizado após ter desenhado os primeiros mapas da Ilha do Ouro?
O jornalista australiano Peter Tricket foi o primeiro a perceber que os mapas de Vallard de 1547 se baseavam em portulanos desenhados pelos portugueses alguns anos antes. No livro “Beyond Capricorn”, mostra como segmentou os mapas de Vallard e descobriu que os desenhadores na escola de Dieppe tinham juntado mal os portulanos. O “Atlas Vallard” mostra mesmo as costas australianas com nomes portugueses e Peter Tricket demonstrou-o claramente.
Da minha parte, o que fiz foi, na sequência da investigação dele, seguir cada linha de costa dos mapas de Vallard, cada baía, cada cabo, cada promontório, cada ilha e conjunto de ilhas. Reduzi algumas partes na fotocopiadora, aumentei outras, mantive outras tantas, e no final descobri algo mais do que Peter Trickett: os mapas de Vallard não têm só as costas leste, norte e oeste da Austrália representadas, têm também a costa sul, a chamada Grande Baía australiana. No final do século XVI, o militar e navegador luso-malaio Manuel Agostinho de Herédia já tinha feito mapas com ilhas e costas do Norte da Austrália. Foi desacreditado mas tinha razão. Os intelectuais portugueses alinhados com as verdades oficiais que digam e façam o que quiserem acerca do meu livro e dos livros de outros investigadores independentes, a verdade histórica não depende deles…
Mapas de Vallard de 1547 com a representação de toda a costa da Austrália
Por que acha que a História está escrita consoante a vontade imposta pelos reis aos cronistas da época? Pelo peso que sempre teve e continua a ter a chancelaria, a diplomacia e os interesses geoestratégicos e políticos da maioria dos países?
Não é só na atualidade que o interesse económico, político, diplomático e estratégico dos países dita a forma de escrever e ensinar a História. Os registos dos cronistas que ficaram para a História de Portugal ao longo dos séculos foram sempre mais ou menos controlados pela Casa Real.
O mesmo se passou com os mapas e outros documentos, não só em relação ao que ficou escrito como ao que foi deliberadamente omitido ou deturpado. D João II escondeu o máximo que podia das descobertas lusitanas do outro lado do Atlântico porque queria garantir um tratado que lhe assegurasse a exclusividade do verdadeiro caminho marítimo para a Índia, bem como as (na altura consideradas) melhores terras do Novo Mundo; D Manuel I mostrou o que quis, quando quis e como quis, chegando mesmo a mandar acrescentar terras fantasiosas nalguns mapas, como o do “Atlas Miller”, que prolongou a Terra do Fogo numa costa contínua até ao inventado grande Golfo da China, para enganar os outros reis europeus e impedir que descobrissem a passagem para o Pacífico pelo ocidente. Uma autêntica obra prima da propaganda mundial, que faz agora 500 anos.
“Magalhães não era traidor de Portugal coisa nenhuma, foi enviado pela diplomacia portuguesa da época para ajudar o rei de Espanha a tomar conta do “seu” hemisfério ocidental definido pelo tratado de Tordesilhas”
A versão oficial da história da viagem de Fernão de Magalhães é também outra peça de propaganda montada há 500 anos, que ainda hoje perdura. Magalhães não era traidor de Portugal coisa nenhuma, foi enviado pela diplomacia portuguesa da época para ajudar o rei de Espanha a tomar conta do “seu” hemisfério ocidental definido pelo tratado de Tordesilhas. A expedição de Magalhães não foi contra Portugal, foi organizada com a ajuda do rei português, que era familiar de Carlos I de Espanha. Foi uma expedição científica organizada pelos dois reis ibéricos para demarcar o antimeridiano de Tordesilhas.
Dentro deste plano de colaboração ibérica secreta, em que Portugal forneceu o conhecimento e o comandante, e a Espanha pagou os custos, o rei de Portugal jogou em dois tabuleiros de xadrez: fez outro acordo ainda mais secreto com Magalhães para este entregar um novo território a Carlos I, as futuras Filipinas, em “compensação” pelo facto de as Molucas estarem no hemisfério “português”, o que D Manuel I já sabia há vários anos.
O mapa Kunstmann IV, feito por Pedro Reinel, cartógrafo também enviado para Espanha pela diplomacia portuguesa, é outra peça de propaganda internacional que ajudou a concretizar estes planos políticos…
Por que razão os historiadores, que dependem da Academia, estão calados? Temem represálias ?
Na verdade, a maior parte dos historiadores trabalha muito, bem e com honestidade. Mas há também muita inércia no meio académico. Mudar a História dá muito trabalho, exige muita investigação, muito esforço para sustentar a argumentação. Depois, há a verdade oficial que pesa e influencia menos como censura e mais como autocensura.
Os historiadores oficiais inibem-se de escrever outras versões da História porque receiam ser ostracizados pelos seus pares… Depois, ainda, há a pressão dos orientadores de teses, dos decanos e, no fim da linha, de quem paga as bolsas, isto é, do poder político representado pelos ministérios da Educação, da Ciência, da Cultura e, “last but not the least”, das Finanças!
As teses sobre os Painéis de São Vicente refletem estes constrangimentos e esta atitude dos investigadores oficiais e da Academia?
É um exemplo bem ilustrativo desta realidade! O engenheiro Fernando Branco, professor do Instituto Superior Técnico, conseguiu desmontar as versões fantasiosas sobre o significado dos painés e, de caminho, conseguiu provar que as figuras de D. Henrique e de D. Pedro que ficaram plasmadas na História de Portugal e na mente dos portugueses estão trocadas, mas a Academia nem uma palavra diz sobre estas descobertas. É como se não existissem.
E na verdade os Painéis de São Vicente não foram pintados em 1471 nem assinalam as conquistas de Arzila e Tanger em África. Pelo contrário, foram feitos em 1444-5 e assinalam a derrota da expedição portuguesa de 1437 que foi comandada por D. Henrique.
A figura do homem do chapeirão dos painéis não é de D. Henrique, mas sim de D. Pedro, o regente, que encomendou a obra a Nuno Gonçalves.
D. Henrique é o cavaleiro de roxo que aparece ajoelhado a pedir perdão perante as relíquias de D. Fernando, em uniforme militar, tal como está representado na porta sul do mosteiro dos Jerónimos e na estátua jacente do seu túmulo no Mosteiro da Batalha.
O conjunto dos painéis é uma glorificação a D. Fernando e aos cativos de Arzila, cujo valor religioso e místico ao longo dos séculos chocou com o interesse político – era na verdade a representação de uma derrota. Por isso os painéis foram desmontados e retirados dos olhos do público durante séculos, até que foram redescobertos, no século XIX, no Convento de São Vicente de Fora, em Lisboa…
Deve dar muito trabalho e ser bastante oneroso investigar, esmiuçar, passar quase três anos a arranjar provas para corroborar o que o apaixona, há uma década…esclarecer as dúvidas e corrigir alguns dos erros que nos ensinam desde tenra idade na escola. Foi um “parto” dificil, complicado, “dar à luz” a sua paixão em forma de livro?
As paixões não custam nem dão trabalho. A minha paixão pela História já tem muitos anos, mas a certa altura, quando julgamos saber algumas verdades e a interpretação oficial não as reconhece, isso obriga-nos a partilhar o que sabemos, neste caso sob a forma de livro. Demorou de facto dois anos e meio a escrever, nos tempos livres e nos que deviam ter sido dedicados à família e aos amigos, a quem agradeço profundamente.
“Há muita autocensura em Portugal e há pouca ou nenhuma censura. Os interesses modernos são muito mais sofisticados que a ditadura do Estado Novo e o célebre lápis azul”
Ficou com mais material “na gaveta” para uma obra futura?
Ficaram ainda muitos outros factos históricos não conhecidos por analisar, desenvolver e explicar. Ficam para outro livro sobre o assunto. Mas antes disso ainda tenho de escrever sobre dois temas urgentes: a exploração que certas grandes empresas em Portugal fazem sobre os consumidores abusando dos preços, e o risco que o fim do dinheiro físico pode representar para a democracia no mundo. Estes são os temas dos meus próximos dois livros.
Sempre frontal, teme represálias ou poder vir a ser silenciado? O que seria pior para si, ser criticado ou ignorado?
Em Portugal, só é silenciado quem quer, isto é, quem não quer ter o trabalho de procurar argumentos para fundamentar opiniões diferentes. Neste caso, das duas uma: ou a pessoa diz o que é politicamente correto e o mesmo que todos os outros dizem, ou se cala, por comodismo. Há muita autocensura em Portugal e há pouca ou nenhuma censura. Os interesses modernos são muito mais sofisticados que a ditadura do Estado Novo e o célebre lápis azul.
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