Vila Viçosa é uma vila portuguesa de rara beleza, situada no distrito de Évora, na região do Alentejo. Este local encantador, muitas vezes apelidado de “Princesa do Alentejo”, deve o seu nome à fertilidade dos seus solos e ao charme que atrai visitantes de todo o país e do estrangeiro. Apesar da sua dimensão reduzida, Vila Viçosa é uma verdadeira “vila-museu”, com um vasto património cultural, histórico e arquitetónico que enriquece a sua identidade.
Segundo o Ncultura, uma das figuras mais ilustres nascidas nesta vila é D. Catarina de Bragança, filha do Rei D. João IV e de D. Luísa de Gusmão. Catarina nasceu a 25 de novembro de 1638 e acabou por se tornar Rainha de Inglaterra, Escócia e Irlanda, após casar, em 1662, com o rei Carlos II. Este casamento, celebrado em Portsmouth, foi uma vitória diplomática para Portugal, num período em que o país lutava pela consolidação da sua independência, recentemente reconquistada em 1640.
A união matrimonial trouxe vantagens importantes para ambos os reinos. Inglaterra recebeu um dote generoso, incluindo dois milhões de cruzados, a praça-forte de Tânger, em Marrocos, e a cidade de Bombaim, na Índia. Em troca, o Alentejo recebeu um reforço de 2700 soldados ingleses para apoiar na defesa da região, onde a Guerra da Restauração contra Espanha era mais intensa. No entanto, a chegada de D. Catarina a Inglaterra foi marcada por dificuldades, desde problemas de saúde a uma receção inicial fria, agravada pela ausência do noivo.
A relação entre D. Catarina e Carlos II foi complexa. Embora o rei sempre a tenha protegido das intrigas políticas, o casamento foi marcado pela ausência de filhos e pelas muitas amantes do monarca. A rainha, sendo católica num país predominantemente protestante, enfrentou resistência e preconceito, especialmente entre os políticos ingleses. Apesar disso, D. Catarina deixou a sua marca, introduzindo o hábito do chá na corte britânica e popularizando o uso de loiça de porcelana em substituição dos pratos de metal.
Depois da morte de Carlos II, em 1685, e da ascensão do cunhado Jaime II ao trono, D. Catarina viveu momentos de grande tensão. A sucessão, favorável ao catolicismo, gerou descontentamento entre os protestantes, aumentando as suspeitas sobre a rainha portuguesa. Em 1692, após 30 anos fora de Portugal, D. Catarina regressou ao seu país natal, fixando-se no Palácio da Bemposta, em Lisboa.
Mesmo longe da corte inglesa, D. Catarina continuou a desempenhar papéis importantes em Portugal. Foi regente do reino em duas ocasiões, durante as ausências do seu irmão, D. Pedro II, e apoiou a assinatura do Tratado de Methuen em 1703, um acordo comercial que fortaleceu a relação entre Portugal e Inglaterra. D. Catarina faleceu a 31 de dezembro de 1705, com 67 anos, e os seus restos mortais encontram-se no Mosteiro de São Vicente de Fora.
Além do seu legado histórico, Vila Viçosa destaca-se pelo património local. O Paço Ducal, mandado construir em 1501 por D. Jaime, 4.º duque de Bragança, é uma das atrações mais emblemáticas da vila, sendo testemunho da nobreza e do poder da Casa de Bragança. Outras atrações incluem o castelo medieval, a Tapada Real e diversos museus, como o Museu da Caça e o Museu de Arqueologia, que exibem coleções únicas ligadas à história e cultura da região.
A vila é também conhecida pelas suas igrejas e conventos, como o Santuário de Nossa Senhora da Conceição e a Igreja de São Bartolomeu, que refletem a riqueza do património religioso local. A Praça da República, repleta de laranjeiras viçosas, é outro ponto de destaque, proporcionando um ambiente tranquilo e cheio de encanto.
Finalmente, é impossível falar de Vila Viçosa sem mencionar o mármore, recurso natural abundante na região. Reconhecido internacionalmente pela sua qualidade, o mármore de Vila Viçosa tem sido explorado há séculos e continua a ser uma das principais atividades económicas do concelho, com mais de 160 pedreiras em funcionamento.
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