A escritora Lídia Jorge vai receber a Medalha da Liberdade Livre na sessão solene de comemoração dos 50 anos do 25 de abril, que se comemora no Teatro Lethes nesse dia, anunciou esta sexta-feira a Assembleia Municipal de Faro.
Lídia Guerreiro Jorge nasceu em Loulé, Boliqueime, em 18 de junho de 1946, e é uma escritora do período pós-Revolução, autora consagrada de romances, contos, ensaios, poesia e crónica.
Atualmente, é membro do Conselho de Estado, órgão político de consulta do Presidente da República.
O nome escolhido para a medalha que a Assembleia Municipal instituiu em março, “Liberdade Livre”, tem como objetivo homenagear o poeta farense António Ramos Rosa e a sua obra homónima “Poesia, Liberdade Livre”.
Sobre a vida e obra de Lídia Jorge
Lídia Guerreiro Jorge, nasceu em Loulé, Boliqueime, a 18 de junho de 1946. Licenciou-se em Filologia Românica, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo sido professora do ensino secundário em Portugal e em Angola e Moçambique, durante os últimos anos da guerra colonial, começa a publicar em 1980.
Foi membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social, integrou o Conselho Geral da Universidade do Algarve e, actualmente, é membro do Conselho de Estado (20212026), designada pelo Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. Destacamos também o seu reconhecimento pela academia, com cátedras na Universidade de Genebra, na Universidade de Massachussets Amherst e na Universidade Federal de Goiás, e salientamos o reconhecimento da Universidade do Algarve que lhe atribuiu, em 2015, o Doutoramento Honoris Causa.
Com uma personalidade e espírito inigualável, foi condecorada com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal (9 de Março de 2005), condecorada como Dama da Ordem das Artes e das Letras de França (13 de Abril de 2005) e elevada a Oficial da Ordem das Artes e das Letras de França (14 de Julho de 2015).
O reconhecimento da sua obra tem reflexo nacional e internacional, sendo premiada com inúmeros prémios literários desde 1981, com especial ênfase para o Prémio Médicis para melhor livro estrangeiro, com o seu livro Misericórdia (2023), tratando-se da primeira obra em língua portuguesa a receber esta distinção.
O seu percurso literário colocou-a, em 2013 pela revista francesa Magazine Littéraire, como uma das 10 vozes mais importantes da literatura estrangeira, ao lado de vultos literários internacionais como Zadie Smith, Richard Powers, Mo-Yan (Nobel), Alice Munro, Orhan Pamuk (Nobel), Laura Kasischke, Enrique Vila-Matas, John Irving e Arnaldur Indridason.
A sua obra, cujo estilo é adjectivado como “soberbo, manuelino” por Joseph MacéScaron, está traduzida em mais de vinte línguas, é vastíssima e profundamente eclética, conta com romances, contos, literatura infantil, ensaio, peças para teatro, poesia e crónicas, escrevendo ainda, com regularidade, para o Jornal das Letras, Público e El Pais.
A temática da sua obra prende-se, evidentemente, com o seu passado em Angola e Moçambique durante o período da guerra colonial e tem intrínseca a realidade da sociedade algarvia no período ante e pós revolução de Abril.
Assim, o passado colonial e ditatorial, o Algarve, o significado das revoluções, os conflitos geracionais, rupturas familiares e a condição feminina são temáticas constantes. Em 2022, Lídia Jorge é galardoada com o Prémio do Clube das 25 (associação feminista espanhola) que distingue mulheres que se destacaram pela luta pela igualdade de oportunidades.
A forma crua, a atmosfera do realismo mágico e os planos narrativos de estrutura polifónica, em que as personagens assumem uma dimensão metafórica, com especial ênfase sobre as personagens femininas, demonstram a relação que Lídia Jorge imprime nas suas obras com a história recente – especialmente com a sociedade pré e pós 25 de Abril. São reflexo desta conclusão as obras “O Dia dos Prodígios” (1980) e “Os Memoráveis” (2014).
Nestes 50 anos sobre o 25 de Abril, na sessão solene, a Assembleia Municipal de Faro “destaca e humildemente homenageia, com a entrega da Medalha da Liberdade Livre, Lídia Jorge, uma mulher, algarvia, portuguesa, mas acima de tudo, do mundo, com a garra dos valores de Abril”.
A crónica sobre o período pré e pós revolução de Abril ínsita na sua obra deixará vincada e marcada a história de Portugal para as actuais e as vindouras gerações, fazendo com que a história não se esqueça.
O seu contributo e legado para a democracia, para a igualdade e liberdade será, de forma singela perante a enormidade do seu carácter, frisado e ficará cunhado, para além da medalha, também na história de Faro.
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