Estamos no mês em que temos um acto eleitoral a nível europeu e o dever cívico de votar. É importante votar nas próximas eleições, entre várias razões, porque “é preferível assumir a responsabilidade pelo futuro do que culpar os outros pelo presente”.
Vivemos num mundo cada vez mais globalizado e competitivo, e embora a democracia seja considerada como um dado adquirido, esta também parece estar sob ameaça crescente, tanto nos princípios como na prática.
A história da Europa é a história dos seus extremos, tanto foi berço dos direitos humanos como foi o albergue de devastadoras intolerâncias.
Possamos todos contribuir para uma Europa mais unida, apesar das suas diversidades e, como referiu Jacques Delors, uma Europa “mais forte porque solidária, mais influente porque poderosa e generosa”.
Escolho, muito brevemente, falar-vos deste cidadão francês que teve um papel relevante na Europa a nível político, económico e educacional.
Estudou Economia na Sorbonne e em 1981 foi nomeado ministro da Economia e das Finanças do seu país.
Entre 1985 e 1995 presidiu à Comissão Europeia e contribuiu para a implementação de uma série de medidas fundamentais para a criação da União Europeia (UE).
Em 1993 foi convidado a presidir à Comissão Internacional de Educação para o Séc. XXI. Dessa Comissão saiu um relatório para a UNESCO, tendo sido Jacques Delors organizador e autor. O título que deu a esse importante documento foi: Educação, um Tesouro a descobrir publicado em 1999 e no qual se exploram os Quatro Pilares da Educação ou Pilares do Conhecimento.
Quatro Pilares e um tesouro a descobrir
O quarto capítulo do relatório, transformado em livro, é dedicado aos referidos quatro pilares onde se propõe uma educação direccionada para quatro aspectos fundamentais:
– aprender a conhecer
– aprender a fazer
– aprender a viver com os outros
– aprender a ser
No desenvolvimento de cada pilar está a aprendizagem como uma riqueza fundamental. O conhecimento como chave que levará à compreensão de aspectos cruciais tais como percebermos quem somos, compreendendo-nos a nós próprios e aos outros.
Aprender a viver e a conviver com os outros talvez seja o maior desafio dentro dos pilares apresentados. A maior parte da história da humanidade é marcada por guerras e conflitos resultantes da dificuldade de convivência entre grupos, tal como da dificuldade de resolução de conflitos de modo não violento.
O desafio é certamente construir uma educação que estimule a convivência entre diferentes grupos e ensiná-los a lidar com a diferença de forma pacífica.
A construção de uma cultura de paz que faça parte do dia-a-dia depende da capacidade de viver e conviver com os outros.
Em 2012 foi atribuído o prémio Nobel da Paz à União Europeia pelo seu contributo para a paz e a reconciliação, a democracia e os direitos humanos.
Jacques Delors disse na altura que o prémio tem uma mensagem política e moral na medida em que reconhece países, que renunciando a atitudes do passado, fizeram a paz entre eles.
Referiu também que “este prémio mostra que os valores da solidariedade e da confiança podem levar a um mundo melhor”.
Que a União Europeia seja um espaço de cultura de paz, que continue a preservar os valores imateriais da sua construção, que são a solidariedade, a segurança e a diversidade e possa assim ser parte e contributo para uma Europa mais fraterna.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de maio)