A KTM AG, a emblemática fabricante austríaca de motociclos, enfrenta um dos momentos mais difíceis da sua história. A empresa anunciou que irá recorrer a um processo de reestruturação ao abrigo da Lei de Insolvência Austríaca, numa tentativa de garantir a sua sobrevivência. A situação coloca em risco o emprego de milhares de trabalhadores, sobretudo na sua fábrica principal em Mattighofen, Áustria, e compromete o futuro de um gigante europeu no setor automóvel.
Reestruturação e impacto imediato
Num comunicado emitido pela Pierer Mobility AG, empresa-mãe da KTM, ficou claro que o processo de reestruturação é inevitável devido às dificuldades financeiras que assolam a empresa. “A KTM AG solicitará o início de um processo de reestruturação judicial com autoadministração a 29 de novembro de 2024. Os requisitos de financiamento da KTM AG atualmente somam um alto valor de três dígitos de milhões. A administração agora não espera conseguir garantir o financiamento provisório necessário a tempo”, indicou a marca.
Esta decisão abrange também duas subsidiárias diretas da KTM AG, a KTM Components GmbH e a KTM F&E GmbH, mas exclui outras empresas do grupo, sobretudo as dedicadas à distribuição.
A empresa estima que o processo de reestruturação levará a perdas significativas, incluindo despedimentos, com mais de 700 postos de trabalho em risco imediato. Segundo o portal ORF.at, o pagamento dos salários de dezembro está assegurado, mas o tradicional bónus de Natal não será atribuído aos trabalhadores.
Plano para 90 dias
O grupo tem agora 90 dias para chegar a acordo com os credores sobre um plano de reestruturação que visa redimensionar a operação e equilibrar os excessos de produção que afetam o setor. Este processo inclui a interrupção temporária da produção em janeiro de 2025, com a retoma programada para março, embora a um ritmo reduzido.
Entre as medidas anunciadas, destaca-se a redução do volume de produção, o que permitirá ajustar os elevados stocks acumulados tanto na fábrica como nos concessionários. Este esforço implicará perdas operacionais adicionais e um impacto de cerca de mil milhões de euros entre 2025 e 2026.
“O objetivo destes procedimentos é de chegar a acordo para um plano de reestruturação com os credores dentro de 90 dias. Redimensionar o grupo não só vai garantir a existência do grupo KTM Sportmotorcycle GmbH no futuro, mas também criar as bases para um regresso mais forte após os procedimentos”, explicou a empresa no comunicado.
Uma história marcada pela inovação
A KTM, fundada em 1934 por Hans Trunkenpolz, começou como uma oficina de reparação de automóveis antes de se tornar um dos maiores fabricantes de motociclos do mundo. Desde 1991, sob a liderança de Stefan Pierer, a empresa passou por uma transformação notável, expandindo a sua presença global e alcançando um recorde de vendas em 2023, com 280 mil unidades comercializadas.
Apesar das dificuldades atuais, Stefan Pierer mantém-se confiante no futuro da marca. “Ao longo das últimas três décadas, crescemos até nos tornarmos o maior fabricante de motociclos da Europa. Inspiramos milhões de motociclistas em todo o mundo com os nossos produtos. Agora estamos a fazer uma paragem nas boxes para preparar o futuro. A marca KTM é a obra da minha vida e irei lutar por ela”, sublinhou o CEO.
O futuro da KTM e do setor automóvel europeu
A insolvência da KTM AG surge num momento de transição para a indústria automóvel, marcada por desafios como a inflação dos custos de produção, alterações na regulamentação ambiental e mudanças nas preferências dos consumidores. O caso da KTM não só coloca em evidência a vulnerabilidade das grandes marcas face a estes desafios, como também levanta questões sobre o futuro do setor na Europa.
Com o destino desta fabricante de motociclos nas mãos dos credores e das decisões judiciais, a esperança reside na capacidade da KTM de se reinventar e regressar ao mercado com a força que a tornou num ícone global. A reestruturação, ainda que dolorosa, poderá ser a oportunidade de ouro para assegurar que o legado da marca continue a inspirar gerações de motociclistas em todo o mundo.
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