Os autores de uma nova investigação acreditam ter identificado a pessoa que denunciou Anne Frank e a sua família às autoridades nazis em 1944. A equipa composta por historiadores e outros peritos identificou um proeminente homem judeu que terá informado a Gestapo (polícia secreta da Alemanha nazi) sobre a existência do anexo secreto, em troca de proteção para a sua família.
A rapariga judia, autora do diário que é o testemunho na primeira pessoa mais famoso do Holocausto, morreu no campo de concentração de Bergen-Belsen em 1945. Anne, a família e alguns amigos tinham conseguido sobreviver escondidos no sótão da empresa do pai, em Amesterdão, durante dois anos. O seu esconderijo foi descoberto pela Gestapo em agosto de 1944. A jovem de 15 anos acabou por morrer cerca de dois meses antes da libertação do campo onde se encontrava.
Durante 77 foi uma incógnita como é que as autoridades nazis descobriram a existência do sótão. A nova investigação durou seis anos e recorreu a técnicas de investigação modernas, incluindo um algoritmo que identificou ligações entre diferentes pessoas. Esta tarefa teria demorado centenas de horas a ser realizada por um ser humano, noticia a BBC.
A equipa de investigadores concluiu então que a família terá sido provavelmente denunciada por Arnold van den Bergh. Judeu proeminente na capital holandesa, era membro do Conselho Judaico de Amesterdão, um órgão formado para implementar a política nazi nas áreas judaicas. Este organismo foi dissolvido em 1943 e todos os membros foram enviados para campos de concentração. A excepção foi van den Bergh, que permaneceu em Amesterdão, onde levava uma vida normal.
“Quando van den Bergh perdeu as proteções que o isentavam de ter de ir para os campos, teve de fornecer algo valioso aos nazis com que teve contacto para o deixarem a ele e à sua mulher, nessa altura, ficar em segurança”, explicou um dos elementos da equipa, o ex-agente do FBI Vince Pankoke ao programa 60 Minutos da televisão norte-americana CBS.
Os investigadores encontraram indícios que um dos membros do Conselho Judaico de Amesterdão estaria a passar informação aos Nazi. A equipa disse ter tido dificuldades em aceitar que a família Frank tinha sido denunciada por outro judeu.
No entanto, os investigadores encontraram também provas de que o pai de Anne Frank, Otto (o único habitante do sótão a sobreviver), sabia quem tinha sido o denunciante, mas manteve o segredo. Otto terá recebido um bilhete anónimo a identificar o delator.
Durante a entrevista à CBS, Vince Pankoke especula que Otto Frank pode ter optado por não divulgar a identidade do denunciante para não “atiçar ainda mais o fogo” do antissemitismo. “Temos de nos lembrar que o facto de [van den Bergh] ser judeu só significa que foi colocado numa posição impossível pelos nazis em que tinha de fazer algo para salvar a própria vida”, disse o ex-agente do FBI.
Segundo do jornal holandês Volkskrant, Arnold van den Bergh morreu em 1950.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL