A Rússia tem negado o ataque a alvos civis, mas as imagens da guerra mostram o contrário.
No hospital de Chernihiv há cerca de 140 civis feridos de guerra. O hospital foi bombardeado quatro vezes, esteve sem luz durante um mês e ainda não há aquecimento. Faltam meios e medicamentos.
Os enviados especais da SIC, Ana Peneda Moreira e Fernando Silva, estiveram no hospital, falaram com doentes que lutam para recuperar a mobilidade e com médicos que confessam que, os traumas da guerra, fizeram disparar os casos de suicídio.
No dia em que conseguiu salvar a vida do pai, com um garrote que lhe estancou a hemorragia, a vida de Osipenko passou a ser nos corredores deste hospital.
“Quando a bomba caiu, caiu tudo em cima de nós. Começámos a puxar o meu pai, a minha mãe correu para a rua a pedir ajuda. Eu prestei os primeiros socorros ao meu pai: fiz-lhe um garrote para que a hemorragia parasse”, conta à SIC.
Com a perna dilacerada, o pai, Valentim, aguenta a dor em silêncio. Osipenko viu o avô morrer, perdeu a casa e dorme agora ao lado da cama do pai. A família está junta há quase um mês no hospital.
“A minha mãe também estava ferida, correu com a perna ferida, com um pé partido, mas não importava, ela só o queria salvar”.
Há 135 feridos de guerra neste hospital de Chernihiv.
Volodomir, de 63 anos, estava na fila para o pão quando um míssil os atingiu.
“Foi um espetáculo terrível. As pessoas foram atiradas com a força da explosão. Senti um impacto por baixo do meu joelho na minha perna esquerda. Levantei os meus braços e pernas, estava inteiro, mas a minha perna já não funcionava, não me conseguia levantar”, conta.
O dia do ataque à fila do pão está cravado na memória do ortopedista Igor Khandoga.
“Foi muito difícil porque tínhamos muitos pacientes e poucos médicos. Havia sangue no chão da altura de dois dedos. Todos os que nos chegaram sobreviveram, mas foi muito, muito difícil”, contou o médico à equipa de enviados da SIC.
No dia em que dezenas de civis foram bombardeados na fila para o pão, o hospital também foi atacado. Esteve sem luz durante um mês e ainda não há aquecimento.
“Temos luz e água fria há três dias, mas ainda não temos aquecimento nem água quente. Há também problemas com o fornecimento de medicamentos e outros consumíveis”, conta o diretor clínico do hospital.
Os russos não conseguiram ocupar a cidade de Chernihiv, a 70 quilómetros da Bielorrússia, mas pelo ar destruíram casas, hotéis, hospitais, edifícios da polícia, vidas e sonhos.
Igor, o ortopedista, reconhece que há quem consiga agarrar-se à esperança, mas os traumas de guerra têm levado muitos a desistir.
“Chegam-nos casos de suicídios, tentativas de suicídio, pessoas que cortaram os pulsos, saltaram de janelas, simplesmente não conseguem aguentar”, revela.
Chernihiv tinha cerca de 300 mil habitantes. O presidente da Câmara estima que tenham morrido cerca de 700 moradores.
Alertamos para a violência das imagens.
- VÍDEO: SIC Notícias, televisão parceira do POSTAL