Eis uma vintena de imagens da desolação ucraniana, cada uma com a sua pequena mas trágica história, mostradas e contadas pelos enviados do Expresso.
A ponte em Irpin foi destruída pelo próprio exército ucraniano, para impedir que os tanques russos avançassem até à capital. Por causa disso, centenas de pessoas tiveram de deixar os carros onde fugiam de um lado e passar por baixo da ponte para os autocarros de evacuação que as autoridades ucranianas prepararam. O combate continuou mesmo durante a retirada de civis
Na rua Vokzal, em Bucha, um subúrbio cheio de florestas perto de Kiev ocupado pelos russos chegaram dia 27 de fevereiro, há dezenas de tanques desfeitos, carrinhas queimadas, destroços e entulho por todo o lado. Dezenas de curiosos tiram fotos à destruição. Os ucranianos conseguiram destruir vários tanques russos nesta rua estreita, com a ajuda de drones armadilhados
A destruição na cidade Borodyanka, nos arredores de Kiev, uma das que mais ataques sofreram e onde as autoridades ucranianas acreditam que vão ser encontrados ainda muito mais mortos. Na quinta-feira foram encontrados 26 corpos debaixo de um edifício residencial
Na cidade de Irpin ainda existem corpos pela rua, há minas anti-tanque desativadas por todo o lado e os centros comerciais, lojas, bombas de gasolina estão totalmente destruídos, só ficou a estrutura dos edifícios e em muitos casos nem isso
Na ponte de Irpin, o fogo da artilharia destruiu e incendiou dezenas de veículos, que ainda lá permanecem. Há carros completamente baleados e veem-se roupas, brinquedos, óculos, comida, malas, dentro deles, coisas que as pessoas deixaram ao fugir
Uma mulher passa com um saco de comida doada por uma das carrinhas de ajuda humanitária que têm feito as rondas das cidades recentemente libertadas mas onde não existem já supermercados. Muitos dos bens alimentares foram usados pelas forças russas durante a ocupação, outros estabelecimentos simplesmente bombardeados com todas as mercadorias dentro
Em Borodyanka, um homem mostra as balas que encontrou em sua casa. Das três cidades libertadas que o Expresso visitou, esta, com cerca de 12 mil pessoas, é aquela onde a destruição de casas e prédios é mais clara
Um soldado ucraniano caminha na rua Vokzal, em Bucha. Os jornalistas que têm visitado o local encontram quase sempre mais corpos que ainda não tinham sido vistos, alguns com marcas claras de tortura como queimadura de cigarros, outros decapitados.
Durante a evacuação da cidade de Irpin, muitas pessoas morreram nos casos a tentar fugir, em tiroteios dos soldados russos, que, segundo múltiplas testemunhas, dispararam diretamente contra estes carros, mesmo contra os que levavam papéis colados no vidro a dizer “crianças”
Um homem passa de bicicleta à frente de um prédio na rua Vodoprovidna, uma zona residencial onde apenas um edifício está totalmente destruído mas os moradores contam histórias da ocupação das suas casas e da morte de vizinhos. Os soldados russos passaram vários dias a dormir e a comer em casa de ucranianos que foram obrigados a recebê-los
A cidade de Borodyanka já não pode ser considerada um local habitável. As pessoas não têm comida, luz, rede de telemóvel, água corrente. A ajuda humanitária começa a chegar aos poucos e os que não fugiram ficaram a viver debaixo do solo semanas a fio
Na Igreja de Santo André, em Bucha, ainda está aberta a vala comum onde as autoridades locais tiveram de vir deixar os corpos que iam encontrando pela rua e dentro dos carros baleados enquanto as famílias tentavam fugir. O padre disse que ninguém aqui enterrado estava vestido de farda militar. Pelo menos 300 pessoas estão já sepultadas nestas valas
Galina Melnyk, ucraniana de Irpin, vive a poucos quilómetros da ponte que foi cenário de uma das manobras de resgate mais difíceis de todas as que decorreram nos territórios à volta de Kiev. Perdeu o filho e o pai, mas diz que quer ficar a ajudar quem sobreviveu
Da casa de Sergey Bakliyak, técnico de manutenção de sistemas de ar condicionado de Bucha vêem-se, através dos buracos de balas, as cúpulas da igreja. Sergey mostra várias portas arrombadas em todo o edifício, incluindo a da sua casa, onde os russos estiveram durante a ocupação
Uma mulher que habita sozinha um prédio totalmente destruído, abre os braços em incompreensão quando os jornalistas lhe perguntam como faz para sobreviver no dia a dia. Perto deste prédio ainda estavam visíveis vários cadáveres no dia em que o Expresso visitou o local, apenas três dias depois da libertação pelas tropas ucranianas
Muslim Cheberloevsky, comandante do batalhão Sheik Mansour das forças chechenas aliadas da Ucrânia (existem também as que lutam ao lado de Putin) inspeciona as carcaças dos tanques em Bucha. Os chechenos já tiveram a sua experiência com os ataques russos – em duas guerras: 1994–1996 e 1999–2009.
Uma mulher olha a destruição de Borodyanka na parte de trás de um carro. A cidade tem marcas de artilharia mas também de bombas que destruíram totalmente alguns dos prédios residenciais da principal rua da cidade. As ondas de choque partiram janelas e destruíram canalizações
Uma boneca encostada a um carro na ponte de Irpin, o veículo está totalmente cravado de balas de calibre elevado. A maioria dos refugiados são mulheres e crianças já que os homens até aos 60 anos de idade não podem sair da Ucrânia porque podem ser chamados a combater
A hora de almoço em Bucha, onde há valas comuns e fotografias aéreas que mostram dezenas de corpos esplhados pela rua, é passada ao ar livre, onde hoje em dia todos os sobreviventes cozinham. Uma mulher descasca beterrabas e coloca-as numa panela que tem água a ferver em cima de uma fogueira
Iryna, professora de Filologia, ajeita o gorro numa manhã fria em Borodyanka, onde viveu cinco semanas debaixo do seu prédio com a mãe e os dois filhos. Agora a família vive numa outra casa numa vila próxima e Iryna diz que não vai ser fácil regressar a um local onde os russos deixaram “a sua crueldade”
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL