Novatek, Gazprom e Lukoil: são algumas das empresas às quais os oligarcas encontrados mortos nos últimos meses tinham ligação. O volume de casos noticiados, em circunstâncias por apurar, tem gerado especulação.
Na semana passada, foi noticiada a morte do oligarca russo Alexander Subbotin, antigo gestor da companhia de energia Lukoil, tendo sido aberta uma investigação, noticiou a agência russa TASS, que acrescentou que iriam ser feitos testes para detetar a presença de drogas no corpo. Subboti foi encontrado morto na cave de um xamã em Mytishchi, depois de sofrer um aparente ataque cardíaco, escreveu a Newsweek. Também este mês, Andrei Krukovsky perdeu a vida ao cair de um penhasco, noticiou a DW. Tinha apenas 37 anos e era o diretor do resort Krasnaya Polyana.
Em abril, dois oligarcas russos foram encontrados mortos junto das suas famílias com apenas um dia de intervalo: Vladislav Avayev e Sergei Protosenya. Vladislav Avayev, antigo vice-presidente do Gazprombank, foi encontrado morto, com ferimentos de bala, no seu apartamento em Moscovo, escreveu a Business Insider. A teoria em cima da mesa é a de que Avayev terá disparado sobre a mulher e a filha, antes de pôr termo à sua vida. A pouco mais de três quilómetros de distância, Sergei Protosenya, ex-membro do conselho de administração da empresa de gás natural Novatek, foi encontrado enforcado, e a mulher e filha esfaqueadas até à morte.
Segundo o canal espanhol Telecinco, as primeiras investigações apontavam também para que o milionário tivesse morto primeiro a mulher e filha enquanto dormiam e cometido depois suicídio. Mas a Novatek emitiu um comunicado a descrever Protosenya como um homem de família: “Infelizmente, emergiram especulações nos média sobre este tópico, mas estamos convencidos de que estas especulações não são reais. Esperamos que as autoridades espanholas façam uma investigação imparcial e detalhada para determinar o que aconteceu”.
INVESTIGAÇÕES NÃO ESCLARECEM CAUSAS
Não foram os únicos casos a apresentar semelhanças. No final de março, reportava-se a morte de Vasily Melnikov, dono da empresa de equipamento médico MedStom. A CNN noticiou que os detalhes da morte da família de Melnikov noticiados pelo jornal russo Kommersant estavam alinhados com o que foi anunciado pela investigação russa: um homem e a sua mulher, bem como os filhos de quatro e dez anos de idade, foram encontrados esfaqueados e sem vida a 23 de março.
“[Os investigadores] estão a considerar diferentes versões do que aconteceu, incluindo o assassinato das crianças e mulher” por Melnikov, seguido de “morte auto-infligida”, esclareceram fontes russas, citada pela CNN. Não havia sinais de entrada à força no apartamento, mas não foram divulgadas mais informações sobre o andamento da investigação.
Um dos casos neste rol antecede o início da guerra na Ucrânia. Em janeiro, Leonid Shulman, da Gazprom, foi encontrado morto. Segundo a Business Insider, foi deixada uma nota de suicídio no local, mas cuja autenticidade estaria a ser questionada.
Um mês depois foi encontrado o corpo de outro funcionário da Gazprom. A publicação “Ukrayinska Pravda” aponta que o corpo de Alexander Tyulyakov, gestor na empresa de energia russa, foi encontrado na manhã de 25 de fevereiro. A polícia foi alegadamente afastada do local por seguranças da Gazprom e o suicídio foi apontado como causa aparente.
No início de março, um oligarca nascido na Ucrânia foi encontrado morto também em sua casa. Tratava-se de Mikhail Watford, que tinha 66 anos e fez fortuna no petróleo e no gás. “Está a decorrer uma investigação sobre a morte, mas não acreditamos que haja circunstâncias suspeitas neste momento”, disse um porta-voz da polícia de Surrey, citado pelo “The Guardian”. Não havia sinais de que tivesse sido alvo de sanções do Reino Unido pela sua proximidade a Putin nem de qualquer operação comandada pelo Kremlin.
ESPECULAÇÃO SOBRE O ENVOLVIMENTO DA RÚSSIA
Os vários casos têm levantado suspeitas. Num artigo publicado pelo Warsaw Institute, um think tank polaco de assuntos internacionais, defende-se que há suspeitas de as mortes terem sido encenadas como suicídios, questionando-se quem poderia ser o responsável. “Possivelmente, pessoas ligadas ao Kremlin estão a encobrir vestígios de fraude em empresas estatais”, conclui-se.
Bill Browder, um investidor que fez fortuna na Rússia até entrar na lista negra do Kremlin, em 2005, disse à Newsweek que “sempre que há muito dinheiro envolvido, deve-se assumir o pior”. Browder defende que “há evidência empírica suficiente” de assassinatos organizados pelo Kremlin ou de rivais de negócios na Rússia para enquadrar estes casos como suspeitos. Mas, até ao momento, não há provas de envolvimento externo em nenhum dos casos.
Contactos e serviços disponíveis para prevenção do suicídio:
SOS VOZ AMIGA (16h-24h): 213 544 545 / 912 802 669 / 963 524 660 / 800 209 899 (21h-24h, linha verde gratuita)
CONVERSA AMIGA (15h-22h): 808 237 327 / 210 027 159
VOZES AMIGAS DE ESPERANÇA DE PORTUGAL (16h-22h): 222 080 707
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- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL