Durante o mês mais curto do ano, o único planeta fácil de observar é Marte. Logo ao anoitecer está virado a Sul, quase no zénite (o ponto do céu por cima das nossas cabeças) e fica visível até por volta da uma da manhã. Ao longo do mês, o planeta (aparentemente) move-se cerca de 15 graus e no céu passa da constelação do Carneiro para a do Touro. No final de fevereiro e início de março estará bem próximo das “moscas” do Touro, o enxame aberto de estrelas das Plêiades.
Também conhecidas como as sete irmãs ou o “sete estrelo” (por causa o número de estrelas do enxame facilmente visíveis, mesmo em céus com poluição luminosa), as Plêiades não formam uma constelação, embora sejam por vezes confundidas com a Ursa Menor.
Já a Lua atinge a fase de quarto minguante no dia 4 e uma semana depois, o dia 11 é dia de lua nova. Sem o brilho da Lua, aproveitem para procurar as constelações de Andrómeda e de Orion, pois em cada uma destas há um objeto de céu profundo, visível a olho nu em céus escuros (ou com binóculos, nas cidades) – a Nebulosa de Orion e a Galáxia de Andrómeda. Por volta das 20:00 as constelações estão viradas, respetivamente, a Sul e a Oeste.
A Nebulosa de Orion, um aglomerado de gás e poeira com cerca de 30 anos-luz de diâmetro, é uma das maiores maternidades de estrelas das redondezas. Daqui a umas dezenas de milhões de anos dará origem a um enxame de estrelas semelhante às Plêiades.
A Galáxia de Andrómeda está a cerca de 2,5 milhões de anos-luz de distância, mas a aproximar-se rapidamente. Daqui a cerca de 4 mil milhões de anos vai colidir e fundir-se com a Via Láctea, dando origem a uma galáxia elíptica gigante.
No dia 18 a Lua passa a cerca de 5 graus de Marte, no céu. E nesse dia pousa em Marte o Perseverance, o rover da NASA que leva consigo os nomes de quase 11 milhões de terrestres (o meu incluído), gravados em 3 chips de silício do tamanho de uma unha.
O “carrinho” Perseverance é um autêntico laboratório autónomo sobre rodas, do tamanho de um todo-o-terreno. Na cratera Jezero, vai procurar sinais de antiga vida microbiana. Vai ainda testar tecnologia de transformação de dióxido de carbono em oxigénio, que será essencial para a futura exploração (ou até, quem sabe, colonização) humana de Marte.
Dia 19 a Lua atinge o quarto minguante e ao amanhecer do dia seguinte, os madrugadores têm o desafio de observação do mês:
Os planetas Júpiter e Saturno, que acabaram de cruzar o Sol e passam a estar visíveis ao amanhecer, juntam-se ao planeta Mercúrio, que se está a afastar do Sol até ao fim do mês, para formar um triângulo no céu. O problema? Júpiter só nasce às 6:45, já envolvido pelo brilho do Sol que também não tarda em nascer, com Mercúrio, o mais alto dos três, apenas 5 graus acima do horizonte!
Dia 27 é dia de lua cheia e para terminar o mês, no dia 28, mesmo antes de amanhecer, Mercúrio atinge o ponto mais alto no céu.
Não deixem de observar o céu, mas em segurança, em casa. E se tiverem mesmo de sair, mantenham o distanciamento, cumpram a etiqueta respiratória, usem uma máscara certificada que cubra do nariz até ao queixo e lavem frequentemente as mãos com sabão.
Com a colaboração de todos, (esperemos) num futuro próximo, havemos de nos voltar a juntar, às dezenas ou centenas, em muitas e grandes noites de observação do céu.
Boas observações.
Ricardo Cardoso Reis
(Planetário do Porto e Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço)