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Falar com António Carvalho, director do Museu Nacional de Arqueologia (MNA), é falar com quem de forma clara consegue elaborar sobre a magnitude da exposição “Loulé. Territórios, Memórias, Identidades” (LTMI) sob todo os prismas.
Numa entrevista que o POSTAL publicará na integra on-line amanhã, porque imperdível, o responsável do “mais local de todos os museus nacionais” não deixa por mãos alheias a explicação de uma exposição que lança sobre Loulé um novo foco e que demonstra “a capacidade de em torno de Loulé se congregarem esforços de dezenas e dezenas de pessoas, instituições e especialistas, para colocar na ala oitocentista do mais visitado monumento nacional – o Mosteiro dos Jerónimos, onde se situa o MNA – uma exposição que percorre sete mil anos de história” de um território permanentemente ocupado e vivido e de que se tem um precioso acervo patrimonial devidamente estudado e que agora se pode mostrar ao mundo.
Os ganhos para investigação
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Um dos focos da entrevista com o POSTAL foi o quanto a investigação, mas também o conhecimento em geral, ganham com a realização desta exposição.
Eis a clareza de António Carvalho, uma vez mais a fazer a diferença na explicação da dimensão da exposição: “Loulé está muito representado nas colecções do MNA e nos últimos anos, desde o final do último quartel do século XX para cá, tem havido um conjunto de investigações muito profundas sobre o concelho de Loulé, que não se tocam – investigadores que trabalham sobre sítios arqueológicos, no âmbito das suas teses de doutoramento, das suas investigações – e que vêm desaguar ao Museu Nacional de Arqueologia por uma ou outra razão, por exemplo, porque depositam aqui o espólio, porque se relacionam com o museu ou porque revisitam a velha colecção Estácio da Veiga”.
“Face a isto, o que é que a Câmara de Loulé, o Museu Municipal, o MNA e a Direcção-Geral do Património Cultural fizeram? Sentaram-se e celebraram um protocolo com o objectivo de perceber de que forma poderiam criar um guião, convidando muita gente, há muita gente envolvida na exposição, comissários científico de excelência, todos com trabalho feito em Loulé, para apresentar essa realidade de sete milénios de ocupação humana do território que é hoje Loulé”.
O que se conseguiu com o esforço: “Loulé um Portugal em miniatura”
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É este trabalho que dá origem à LTMI e à sua excelência, como explica o director do MNA: “foi assim possível reunir uma massa de espólios muito significativa e, portanto, termos núcleos da Pré-História, da Proto-História, da Idade do Bronze, da Idade do Ferro, da Época Romana, Islâmica e Medieval, tratando tudo isto na perspectiva da memória. O que é que as memórias nos deixaram das ocupações humanas no território de Loulé mas sempre em continuidade, ou seja, o território de Loulé é um território que tem uma continuidade permanente de ocupação do Homem”.
Por outro lado, continua, “esse território não é um território, são três territórios pelo menos: a serra, o barrocal e o litoral”. “Em função da época, o Homem ocupa determinadas áreas e, portanto, esse Portugal em miniatura que é Loulé, importa também ser e é apresentado”.
Finalmente, diz, “a questão da identidade… É tudo isto que forma uma identidade, é todo este registo de ocupações humanas que a arqueologia nos revela do passado, que estuda, que descobre, que escava, que investiga, que analisa e que interpreta das realidades do passado, que nos permite caracterizar a ocupação humana e formar um conceito de identidade.
Claro que não foi esquecido o presente, porquê? Porque damos muita atenção a quem guarda esse património de Loulé, o núcleo da identidade que no fundo é simbolizado pelos pioneiros da arqueologia, pelas pessoas que guardam os sítios arqueológicos, que conservam esse espólio no subsolo, que é uma espécie de reserva arqueológica para o futuro, e que são parte integrante deste processo de guarda do património”.
Saiba mais sobre a exposição em:
Exposição mostra sete mil anos da História de Loulé nos Jerónimos
Vítor Aleixo quer louletanos a tirar o máximo proveito desta “oportunidade rara”