A Presidente do Peru, Dina Boluarte, está a ser alvo de uma investigação devido a uma cirurgia ao nariz realizada em 2023, que não foi comunicada oficialmente. Este procedimento pode agora colocar em risco a sua permanência no cargo, uma vez que há suspeitas de que tenha violado a Constituição ao não informar o Governo e o Parlamento, conforme exige a lei em situações que possam comprometer o exercício das suas funções. A líder peruana foi ouvida pelo Ministério Público, numa audição que durou mais de quatro horas, para esclarecer os detalhes da operação e as circunstâncias em que foi realizada.
Segundo a ZAP, a questão central da investigação prende-se com a possibilidade de abandono de cargo, uma infração que pode levar a um processo de destituição. Juristas no Peru defendem que, ao omitir esta informação, Boluarte terá infringido a Constituição, tornando-se alvo de um possível impeachment. No entanto, a Presidente alega que a cirurgia não foi de natureza estética, mas sim um procedimento necessário para tratar uma condição de saúde. “Não foi uma intervenção estética”, afirmou, explicando que sofre de rinite crónica desde 2011 e que a operação foi essencial para melhorar a sua funcionalidade respiratória.
Além disso, Dina Boluarte garantiu que a cirurgia não afetou a sua capacidade de exercer o cargo, sublinhando que utilizou as suas “horas de sono” para a intervenção. Ainda assim, as suspeitas permanecem e o caso pode agravar-se, especialmente devido ao atual contexto político do país. O Peru tem enfrentado uma elevada instabilidade nos últimos anos, com sucessivas crises de governo e mudanças frequentes na liderança presidencial.
A polémica da cirurgia soma-se a outros escândalos que já fragilizaram a popularidade da Presidente. Um dos mais mediáticos é o chamado “Rolexgate”, em que Boluarte é acusada de enriquecimento ilícito por não ter declarado relógios e joias de luxo na sua posse. Há suspeitas de que esses bens possam ter sido oferecidos como contrapartidas por pessoas envolvidas em casos de corrupção, aumentando a pressão sobre a sua gestão.
Para além disso, a Presidente também esteve sob investigação pela repressão das manifestações que ocorreram após a destituição do seu antecessor, Pedro Castillo, em dezembro de 2022. Os protestos, que se prolongaram até 2023, resultaram na morte de 50 pessoas, e Boluarte chegou a ser acusada de “genocídio”. Embora essa acusação tenha sido arquivada, continuam a decorrer investigações sobre os alegados homicídios ocorridos durante as manifestações.
Outro caso que envolve a Chefe de Estado peruana está relacionado com Vladimir Cerrón, fundador do partido Peru Livre, que se encontra foragido há um ano devido a acusações de corrupção. Dina Boluarte, que foi membro deste partido até 2022, é suspeita de ter facilitado a sua fuga à justiça, o que levanta mais dúvidas sobre o seu envolvimento em redes de influência e corrupção no país.
Com todas estas polémicas a pairar sobre o seu mandato, não é certo que Dina Boluarte consiga manter-se no cargo até ao final do seu mandato, previsto para julho de 2026. A crescente contestação popular e as investigações judiciais colocam a sua liderança sob forte escrutínio, e o risco de um processo de destituição continua a ser uma possibilidade real.
O Peru tem sido palco de sucessivas crises políticas, registando seis Presidentes em apenas oito anos, o que demonstra a instabilidade institucional do país. Resta agora saber se Dina Boluarte conseguirá resistir à pressão ou se será mais um nome a juntar-se à longa lista de líderes peruanos afastados do poder antes do final do mandato.
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