A 902 metros de altitude estamos no ponto mais alto do Algarve. Altaneira a Fóia encima a Serra de Monchique, feita de xisto e de fóiaite, um tipo raro de sienite (rocha granítica), e dela se pode mirar o oeste Algarvio que se espraia até ao mar.
A localização junto ao Atlântico dá à Serra de Monchique um clima único na região, misto de mar e altitude, denominado subtropical marítimo de montanha, característico pela humidade.
É neste enquadramento que a serra de origem vulcânica se faz serra d’água, não só pelas famosas termas, nas Caldas de Monchique, onde a água medicinal brota a elevadas temperaturas (aproximadamente 32 graus centígrados) mas, também, porque no inverno a face da serra exibe a sua beleza sob a forma líquida.
Para quem desconhece o Algarve também tem cascatas e em Monchique estão três das mais belas da região, com a força bruta da rocha a deixar-se acariciar pela água em catadupa que se solta das entranhas das escarpas.
Vale a pena conhecer e deixar-se envolver pela beleza sempre impressionante das quedas de água enquanto se solta o pensamento ao ritmo borbulhante do marulhar das águas que só à gravidade obedecem rasgando, por força dos séculos, sulcos na encosta capazes de contar histórias de outros tempos.
A cascata do Barbelote é a primeira de três jóias de Monchique que se convida a conhecer. Por entre as vegetação luxuriante do inverno monchiquense, num estradão que sai da estrada nacional 266-2, ali se revela a queda de água onde o branco da espuma se impõe contra o fundo cinza da rocha pontilhado daquele verde único de Monchique que faz desta serra a ‘Sintra do Algarve’.
Para chegar ao segundo deslumbre desta rota das cascatas o destino é a cascata do Penedo do Buraco, que se pode encontrar quando se segue na estrada que liga Monchique Casais e Marmelete, desviando para a direita no sentido Marmelete – Chilrão antes de chegar ao sítio dos Gralhos.
Por fim, perto do sítio com o mesmo nome, pode ver-se a cascata do Penedo do Buraco, também ela acessível a partir da estrada nacional 266-3, e com esta terceira maravilha se fecha o périplo pelas cascatas da Serra de Monchique.
Junte-se à paisagem rara oferecida por estes três sítios únicos com o que de melhor a serra tem para oferecer por aquelas paragens, leia-se enchidos, boa gastronomia serrana e o inestimável medronho de Monchique e o passeio é mais do que uma simples proposta e revela-se um must do por estes tempos de maior invernia.
Há de facto para descobrir muitos algarves dentro do Algarve, insuspeitos e inusitados lugares que são segredos guardados por uma região onde a serra resistiu estóica aos avanços dos tempos e do homem.
Imperdíveis estes lugares secretos são as preciosidades de uma região que tem muito por descobrir, mesmo para os algarvios, e há lá melhor forma de viver o Algarve do que conhece-lo no seu íntimo e muito para além do óbvio.
Deixe-se transportar para outro mundo, numa realidade em que tempo avança fora do compasso do relógio e em que a água em queda livre se propõe ser, por momentos, dona e senhora dos seus pensamentos, aqui mesmo ao lado na Serra de Monchique, a serra d’água.
(Foto: Nelson Inácio)