Meia dúzia de empresas de lóbi dos EUA rompeu laços com negócios ligados à Rússia na semana passada, um retrocesso dramático para um setor que muitas vezes tem poucos escrúpulos em representar interesses controversos.
A rapidez deste corte decorre do impacto das novas sanções da administração norte-americana, que foram impostas depois do Presidente russo, Vladimir Putin, ter ordenado a invasão da Ucrânia na semana passada.
Estas sanções tornam difícil, se não totalmente ilegal, que as empresas norte-americanas tenham negócios com entidades sediadas na Rússia.
Empresas incluindo McLarty Associates, BGR Group e Venable LLP cancelaram abruptamente acordos que coletivamente renderam milhões de dólares em taxas de lóbi nos últimos anos, de acordo com os registos. Entre os seus antigos clientes estão investidores e operadores do gasoduto Nord Stream 2, agora suspenso, que deveria entregar gás russo à Alemanha, bem como bancos estatais russos e outros.
Até agora, inverteu-se a ordem normal dos negócios quando a guerra rebenta, o que muitas vezes estimula governos estrangeiros a recrutar empresas sediadas em Washington para fazer lóbi junto do governo norte-americano.
“Estas empresas de lóbi e lobistas estavam a puxar enormes quantias de dinheiro“, afirmou Craig Holman, um lobista registado do grupo Public Citizen, que acompanha de perto o setor. “Realmente tenho dificuldade em acreditar que eles, de repente, se tornaram altruístas quando a Rússia invadiu a Ucrânia“, salientou.
Holman acrescetou que um cenário mais provável é que as empresas estivessem “a fazer lóbi em nome dos setores, indústrias e projetos” que foram cobertos pelas sanções e, portanto, obrigados a interromper seu trabalho.
É difícil avaliar quantas empresas russas ou empresas ligadas à Rússia ainda estão a ser representadas por lobistas nos Estados Unidos, mas o recente êxodo sugere que a invasão da Ucrânia pode ter tornado a representação dos interesses do país demasiado tóxica, mesmo para uma indústria que no ano passado recebeu pagamentos de empresas de defesa, déspotas e grupos rebeldes.
Em 2019, por exemplo, um general líbio que procurava consolidar o seu poder no país do Norte de África gastou dois milhões de dólares (cerca de 1,7 milhões de euros, à taxa de câmbio atual) na contratação de uma empresa sediada no Texas para estreitar relações com os Estados Unidos.
Muitas das empresas ligadas à Rússia que foram deixadas cair estavam envolvidas no projeto Nord Stream 2, um gasoduto submarino que contornaria a Ucrânia para fornecer gás russo à Europa via Alemanha.
A abertura do gasoduto, que daria à Rússia uma enorme alavancagem ao torná-la uma fornecedora de energia ainda maior para Europa, foi suspensa pela Alemanha na semana passada, na sequência da invasão da Ucrânia.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar com três frentes na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamentos em várias cidades. As autoridades de Kiev contabilizaram, até ao momento, mais de 2.000 civis mortos, incluindo crianças, e, segundo a ONU, os ataques já provocaram mais de 100 mil deslocados e pelo menos 836 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia.
O Presidente russo, Vladimir Putin, justificou a “operação militar especial” na Ucrânia com a necessidade de desmilitarizar o país vizinho, afirmando ser a única maneira de a Rússia se defender e garantindo que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional, e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas para isolar ainda mais Moscovo.