Os números, em circunstâncias normais, são como o algodão: não enganam. Mas a normalidade é um bem escasso no mundo desde que Vladimir Putin ordenou a invasão da Ucrânia. Já lá vão 27 dias de conflito e, como se sabe, a verdade é sempre a primeira vítima numa guerra, onde a desinformação e a propaganda são usadas como granadas de fumo. Mas, afinal, quantos soldados russos morreram até agora?
O Ministério da Defesa russo comunicou, a 2 de março, que 498 militares russos perderam a vida em combate, enquanto 1500 soldados das forças de Moscovo foram feridos durante os ataques. Esses são os últimos dados oficiais divulgados pelo Kremlin.
Os meios de comunicação russos continuam proibidos de falar em “guerra” ou “invasão” mas podem — ou acharam que podiam — falar em mortes. Assim fez o tablóide “Komsomolskaya Pravda”, com ligações ao Kremlin.
O jornal escreveu esta segunda-feira que, de acordo com os números do Ministério da Defesa russo, 9.861 soldados russos morreram na Ucrânia e 16.153 ficaram feridos. Ora, isto é 20 vezes superior às baixas comunicadas pelas autoridades russas. Poucos minutos depois de ter sido publicada, a notícia foi apagada do site.
A versão apresentada pelo jornal para o sucedido é a de que o site “foi hackeado e uma falsificação foi feita naquela notícia sobre a operação especial na Ucrânia”. Por isso, justifica o “Komsomolskaya Pravda”, “as informações falsas foram excluídas imediatamente”.
As contas de Washington e de Kiev são também bem diferentes: as autoridades norte-americanas e ucranianas alegam que as baixas russas podem ser 10, 20 ou 30 vezes mais elevadas do que aquelas que foram reportadas pelo Kremlin.
O governo ucraniano garantiu, esta segunda-feira, que mais de 15 mil soldados russos foram mortos, um número bastante próximo das estimativas oficiais de soldados soviéticos mortos durante uma década no Afeganistão, entre 1979 e 1989.
Os serviços de inteligência norte-americanos, por sua vez, dão conta de 7 mil soldados russos mortos desde o início da invasão, o que seria equiparável às baixas militares de Moscovo durante os dois anos da Primeira Guerra Chechénia, que ocorreu de 1994 a 1996.
Porém, é preciso cautela e encarar os diferentes balanços com algum ceticismo, até porque “não se sabe exatamente” quantos soldados morreram, adverte um comentador militar russo, em declarações ao “The Guardian”. “É quase um segredo de Estado”, diz o especialista, que pediu para não ser identificado no artigo.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL