O reitor da Universidade Estatal de Mariupol, no sudeste da Ucrânia, acusou hoje o exército russo de estar a destruir a cidade como ato de vingança pela vontade dos seus habitantes quererem viver na Ucrânia.
Com cinco mil estudantes e 600 funcionários, a universidade é uma das maiores do país e hoje Mykola Trofymenko olha “com horror” para a “destruição do magnífico campus” universitário, bem como do resto da cidade.
Em entrevista à Lusa, o reitor mostrou-se preocupado com a situação humanitária da cidade. “O cenário é realmente muito dramático e os russos, continuam a bombardear para devastar a cidade” e o mundo está a assistir ao “genocídio do povo ucraniano”, com o bombardeamento sistemático de “bairros e casas civis sem qualquer infraestrutura militar”.
Os russos estão a “destruir Mariupol para mostrar que fizemos uma má escolha em 2014, escolhendo o desenvolvimento na Ucrânia”, numa referência ao facto de a cidade ter sido recuperada por militares ucranianos, com o apoio de paramilitares do Batalhão Azov (com ligações à extrema-direita), aos independentistas do Donbass, que contavam com forte apoio russo.
Sobre o peso do batalhão Azov na defesa da cidade ou as acusações de extrema-direita que Putin imputa à Ucrânia e a Mariupol em particular, Mykola Trofymenko é taxativo: “Sou totalmente contra os nazis, o nazismo e as suas ideias, mas, na verdade, quem hoje são os nazis são os russos”.
Dias antes do início da invasão, a 24 de fevereiro, a reitoria mudou a base de dados e os documentos mais importantes para a cidade de Dnipro, no centro do país.
“Eles bombardearam os hospitais, os jardins de infância, as escolas, e destruíram totalmente a minha universidade, o meu belo campus e os seus edifícios”, desabafou o reitor, que esteve na cidade até há uma semana, com a mulher e o filho de dez anos.
“O meu filho”, exemplificou, “sabe que quando ouve o silvo da bomba, deve correr e esconder-se algures no corredor, na casa de banho ou no abrigo”, recordou, admitindo que “foi um desafio encontrar o que comer” nos últimos dias, “porque os russos decidiram bombardear todas as nossas infraestruturas sociais”.
“A nossa cidade era bela”, salientou Trofymenko, recordando os projetos de desenvolvimento em curso que estão agora destruídos.
“Não sei como passámos estas três semanas, vivemos como animais sem eletricidade, sem água, sem comida”, acordando logo às quatro e meia de manhã com o som de explosões, porque os russos “gostam de começar estas atividades de manhã cedo”.
Durante esses dias, Mykola Trofymenko não se recorda de ver soldados russos nas ruas, apenas as violentas explosões incessantes.
Hoje, “sabemos que eles estão a manter algumas partes da cidade e os nossos soldados a tentar defender o que resta”.