O general Agostinho Dias da Costa defendeu que o conflito entre a Ucrânia e Rússia termina quando o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, “pegar no telefone e a resolver”, sustentando que a resolução da guerra passa pelos EUA.
“Estamos também convictos de uma coisa: esta guerra acaba quando Joe Biden pegar no telefone e a resolver. A resolução desta guerra passa pelos EUA e isto não pode ser visto como uma questão pontual, tem que ser vista numa questão de arquitetura de segurança europeia”, considerou o vice-presidente da direção da EuroDefense Portugal.
Em entrevista à agência Lusa, o major-general Agostinho Costa foi questionado sobre a presença de Joe Biden esta semana em Bruxelas para participar, dia 24, na reunião dos chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE) e na cimeira extraordinária da NATO, devido à guerra ucraniana.
“Temos que perceber o que é que traz Biden à Europa, não creio que seja apenas para dar um conforto psicológico, até porque a questão ucraniana é uma peça apenas deste xadrez. Este xadrez é muito mais importante, o que está neste momento em causa é a hegemonia mundial entre a China e os EUA”, disse.
Na opinião do general, a estratégia de segurança nacional americana “está bem definida” sendo “direcionada para o seu grande rival em termos de disputa pela hegemonia global que é a China” e tendo também “um rival estratégico revisionista que é a Rússia, que neste momento procura neste tabuleiro de xadrez marcar a sua posição naquilo que é a nova arquitetura de segurança global”.
O general referiu que os Estados Unidos têm tradicionalmente “três grandes teatros: o teatro europeu, o do Médio Oriente e o do Indo-Pacífico”, acrescentando que “em termos de importância relativa, é nestes três teatros que se defronta, em que se faz a fricção entre o mundo ocidental e aqueles que disputam a hegemonia”.
“A estratégia de defesa nacional americana tradicionalmente definia como nível de ambição ser capaz de defrontar dois adversários estratégicos em dois teatros e conduzir, portanto, duas operações de alta intensidade ao mesmo tempo e uma operação de baixa intensidade. Era este o nível de ambição a que estávamos habituados antes do período da guerra global contra o terrorismo”, disse.
Neste momento, continuou, “os americanos já assumem que têm capacidade apenas para um teatro, uma operação de grande intensidade”.
“Já percebemos qual é a prioridade não é? Já percebemos qual é o fusível, o fusível que pode fazer saltar a ‘luz’ chama-se Taiwan”, acrescentou.
O general Agostinho Costa apontou ainda que atualmente os EUA estão num “período de regeneração” depois de “20 anos de guerra contra o terrorismo que lhes degradou a sua capacidade operacional em termos de operações de alta intensidade” e que, apesar de continuarem a ser a maior potência global, “em relação ao conjunto de compromissos de segurança que fizeram globalmente estão numa situação que se pode dizer de insolvência estratégica”.
“E é essa insolvência estratégica que os americanos estão a procurar resolver no sentido de se prepararem para um conflito no Indo-pacífico, para continuarem a ser a potência hegemónica, e para poderem retomar a sua liderança inequívoca que é verdadeiramente uma liderança nos planos militares, não tenhamos dúvidas, mas não é o que foi”, disse.
Numa leitura pessoal, o general considerou que os americanos estão a fazer uma “retração do Médio Oriente”, Biden está a aproximar-se do Irão e a trazer “de novo a NATO para a Europa”.
“Muito provavelmente vamos ter a Europa num atrito permanente com a Rússia nos próximos anos e o senhor Biden de vez em quando vai tomar chá com Putin como foi o ano passado em março quando lhe chamou assassino e tomou chá a seguir, agora chamou-lhe criminoso de guerra, vamos ver quanto tempo é que demorará (…). Para que efetivamente os Estados Unidos se possam dirigir com a ‘global Britain’ e com os assertivos australianos direcionados contra a China”, acrescentou.