O preço elevado do azeite, agravado por uma menor produção, tem alimentado uma preocupante onda de fraudes no setor em Portugal. A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) já instaurou, até outubro deste ano, 54 processos-crime e 30 contraordenações relacionadas com fraude no azeite, revelando um crescimento significativo face a anos anteriores. Este fenómeno, que reflete uma tendência europeia, está a ser impulsionado pela possibilidade de ganhos económicos substanciais no contexto do aumento de preços.
Fraude sofisticada e redes criminosas organizadas
A ASAE aponta para o envolvimento de redes criminosas sofisticadas que manipulam o produto e falsificam rótulos, induzindo os consumidores em erro. De acordo com Luís Lourenço, inspetor-geral da ASAE, “não é possível cometer este tipo de crimes de forma individual”, uma vez que requerem conhecimento técnico e coordenação ao longo de toda a cadeia de abastecimento.
Entre os esquemas mais comuns estão a mistura de azeite com óleos de menor qualidade, como soja, e a criação de rótulos falsos que indicam características premium, como produção biológica ou denominações de origem protegida. Em 2023, a ASAE apreendeu cerca de 100 mil litros de azeite e óleo falsificados, encerrando cinco estabelecimentos envolvidos nestas práticas.
Impacto nos consumidores e no mercado
O principal dano para os consumidores não é tanto a saúde, mas a perda económica e a quebra de confiança. Produtos falsificados não possuem a composição nutricional de um azeite verdadeiro e, consequentemente, não oferecem os seus benefícios alimentares. O impacto vai além do indivíduo, com potenciais repercussões na reputação do azeite português no mercado internacional.
Como identificar um azeite adulterado?
Distinguir um azeite verdadeiro de uma fraude nem sempre é fácil, mas há alguns métodos e dicas úteis para ajudar os consumidores a evitar fraudes:
- Aroma
O azeite extravirgem autêntico deve ter um aroma fresco, semelhante ao da azeitona. Se detetar um odor que lembra óleo de cozinha comum, há uma grande probabilidade de adulteração. - Teste de congelamento
Coloque uma pequena quantidade de azeite no congelador. Se adquirir uma consistência sólida semelhante à manteiga e mantiver a cor, é provável que seja autêntico. Caso contrário, pode conter óleos adulterantes, como soja. - Preço
Preços muito abaixo da média de mercado são um sinal de alerta. Produzir azeite de qualidade tem custos elevados, pelo que preços reduzidos podem indicar adulteração. - Certificações e rótulos
Opte por produtos com certificações como Denominação de Origem Protegida (DOP) ou Indicação Geográfica Protegida (IGP). Verifique também informações claras sobre a origem e data de produção. - Evite rótulos ambíguos
Produtos descritos como “tempero português” ou “tempero espanhol” são indicativos de baixa qualidade ou adulteração.
Como conservar corretamente o azeite em casa?
Mesmo o azeite genuíno pode perder qualidade se não for armazenado adequadamente. Siga estas recomendações:
- Guarde-o em garrafas de vidro escuro ou de aço inoxidável, longe da luz e do calor.
- Evite o contacto com temperaturas muito baixas ou altas, que podem alterar a consistência e sabor.
- Consuma o azeite num prazo razoável para garantir a frescura.
A intervenção da ASAE e a proteção do consumidor
Para garantir a qualidade do azeite nacional e proteger os consumidores, a ASAE tem reforçado as investigações e redirecionado recursos para a inspeção deste setor. Até agora, foram apreendidos mais de 350 mil euros em produtos falsificados. “A intervenção da ASAE foi no sentido de procurar garantir a qualidade do produto nacional e manter a confiança no mercado”, sublinha Luís Lourenço.
A crescente fraude no azeite é um reflexo do impacto económico e social do aumento dos preços. No entanto, com informação adequada e práticas de consumo conscientes, os consumidores podem proteger-se destas fraudes, preservando a autenticidade de um dos produtos mais emblemáticos da gastronomia portuguesa.
Leia também: Conheça o arroz muito consumido em Portugal que é bastante contaminado por agrotóxicos