
As alterações climáticas, a perda de habitat devido ao uso excessivo do espaço marítimo e a captura ilegal são alguns dos fatores que têm contribuído para um decréscimo acentuado do número de cavalos-marinhos na Ria Formosa.
A ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, visitou esta terça-feira, dia 4, o Centro do Ramalhete em Faro, infraestrutura da Universidade do Algarve gerida pelo Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve (CCMAR) para conhecer e contactar com os investigadores que estudam as questões relacionadas com os cavalos-marinhos.
A criação de santuários foi uma das hipóteses apontadas durante a visita. “É exatamente essa a nossa intenção. Um dos propósitos de vir aqui é contactar com os investigadores para absorver a informação que é necessária para fazer este planeamento”, disse a ministra.
“Estamos neste momento em fase de aprovação em Conselho de Ministros, do Plano de Ordenamento do Espaço Marítimo. Estamos também a começar a conceber os Planos de Gestão para as Áreas Marinhas Protegidas e, em concertação com isso, queremos ter aqui santuários de cavalos-marinhos”.
“Mas nem todas as áreas marinhas protegidas precisam do mesmo nível de interdição e nem todas conseguem absorver o mesmo tipo de solução. É importante que, em paralelo, e em conjunto com as áreas marinhas protegidas, façamos este tipo de projetos, de instalação de habitats, sejam eles recifes, sejam pradarias marinhas, ou de outro tipo”, prosseguiu a governante.
A ministra do Mar acrescentou ainda que é preciso “por um lado ter projetos fantásticos de investigação, como este da Universidade do Algarve, mas, paralelamente, temos de ter mecanismos e projetos de recuperação da costa, dos meios marinhos”, sublinhando que é importante “termos pradarias marinhas artificiais, termos recifes artificiais para recuperar aquilo que fomos perdendo ao longo dos anos”.
“Cada um de nós tem uma responsabilidade muito grande na preservação do meio marinho, na preservação dos ecossistemas e é muito importante não esquecer essa parte”, frisou a governante.
Os cavalos-marinhos têm desaparecido de uma forma bastante acentuada da Ria Formosa ao longo dos últimos anos.
Os dados apontam para um decréscimo de cavalos-marinhos na ordem dos 90% desde 2001.
Ana Paula Vitorino salienta que “existe uma perspetiva que tem a ver com a poluição, com o uso excessivo do meio marinho, de capturas ilegais. Há uma panóplia de razões que devem ser a causa desta redução tão substancial”, reforçando que “temos de combater cada uma delas”.
“Nas capturas ilegais é importante aumentar a fiscalização que está a ser feita e é também fulcral que o meio marinho seja recuperado”, no entanto, existe uma “causa que nos ultrapassa e para a qual temos todos de contribuir que são as alterações climáticas, que dependem de todos nós. É uma questão a nível global”, acrescentou.
Miguel Correia é investigador da Universidade do Algarve e explicou como funciona a questão da reprodução dos cavalos-marinhos. “Nós temos o projeto a decorrer há dois anos, mas na realidade temos um programa de reprodução que já vem desde 2007”.
“Comecámos com o cavalo-marinho de focinho curto com uns resultados muito limitados na altura, com uma taxa de reprodução na ordem dos 20%. Mais tarde fomos otimizando o sistema e a alimentação que fornecíamos e aí já conseguimos uma taxa de 60/70% que é a taxa que temos atualmente”, refere o investigador.
“O projeto Mar 2020 vai permitir-nos otimizar o alimento e dar-nos alguma independência quanto ao alimento natural”.
“O que queremos fazer é usar a artémia salina que é um crustáceo que é usado na alimentação da maior parte das espécies em aquacultura”, sendo este “um processo muito simples que permite depois transmitir às fases juvenis todos os conteúdos nutricionais necessários para terem uma boa taxa de sobrevivência e crescerem em tamanhos adequados”, sublinhou.
Atualmente existem cerca de 500 cavalos-marinhos na Estação do Ramalhete, no entanto, nenhum deles foi ainda introduzido no habitat natural.
“Nós temos muito poucos indivíduos e se a pesca ilegal e outras formas de pressão continuarem a existir, podem levar ao desaparecimento dos cavalos-marinhos”, lamentou o cientista.
“A nossa ideia é criar os santuários para preservar o habitat dos cavalos-marinhos e o espaço onde eles possam estar, sem que estes fatores de pressão incidam sobre eles”, realçando que com a criação dos santuários “estamos também a criar condições para que as pradarias marinhas possam crescer, pois também são zonas de berçário para muitas outras espécies que aparecem na Ria Formosa”.
Quanto ao repovoamento da espécie, o investigador concluiu dizendo que “não está para já nos planos, pois queremos garantir que os cavalos-marinhos tenham condições para sobreviver na Ria Formosa e também estudar se os números estão muito baixos para que seja necessário esse repovoamento”. Caso estas condições se verifiquem, “existem os meios necessários para criar os cavalos-marinhos em cativeiro e, eventualmente, fazer a sua reintrodução no meio selvagem”.
(Stefanie Palma / Henrique Dias Freire)