O presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) considerou hoje que a aplicação atempada das medidas de confinamento e distanciamento social permitiu poupar o Serviço Nacional de Saúde ao desgaste observado em outros países, como Espanha e Itália.
Em entrevista à agência Lusa a propósito do levantamento do estado de emergência e das lições que poderão ser retiradas da pandemia de covid-19, Alexandre Lourenço afirmou que “o contexto português não pode ser visto fora do contexto internacional” e considerou que “a condição geográfica do país acabou por poupar muito o que poderia ter sido algo de mais dramático para Portugal e para a população portuguesa”.
Contudo, disse, ficou demonstrado que “os serviços universais de cuidados de saúde, como o português, poderiam ter melhores resultados e melhor resposta a este tipo de epidemia”.
Por outro lado, ficou igualmente demonstrado que os hospitais portugueses tinham “equipas muito bem preparadas” para responder na primeira etapa da pandemia, disse, destacando os profissionais do Hospital de São João, no Porto, e do Centro Hospitalar Lisboa Central, que estiveram na linha da frente do combate à covid-19.
Mas o facto de ser “uma circunstância nova” suscitou sempre “um grau muito elevado de incerteza”, devido à própria dinâmica da infeção, o que “condicionou também parte da resposta”.
Alexandre Lourenço lembrou as primeiras medidas tomadas no SNS, nomeadamente a redução da “atividade eletiva”, como era recomendado, até pelo risco que foi verificado, por exemplo, em Itália, em que os hospitais do Norte acabaram por ser vetores da infeção na comunidade.
“O nosso sistema de saúde acabou por reduzir a sua atividade de uma forma drástica”, que terá “consequências” com que os hospitais vão ter de lidar “nos próximos tempos”.
O combate ao novo coronavírus SARS-Cov-2, que provoca a doença covid-19, também deixa uma lição para que no futuro haja uma coordenação nacional na aquisição de equipamento de proteção individual e dispositivos, disse, afirmando que o modelo muitas vezes seguido de uma compra descentralizada “não foi o mais ideal”.
“Por exemplo, foi deixado praticamente a cada entidade a aquisição de equipamentos de proteção individual, de ventiladores, de testes e isso impulsionou, de uma forma involuntária também, algum inflacionamento de preços e, por outro lado, também uma distribuição não equitativa deste tipo de equipamentos”, salientou.
Mas essa coordenação nacional deve-se sentir também na definição do que é a rede covid-19, defendeu Alexandre Lourenço, considerando essencial concentrar a resposta em “alguns hospitais mais bem preparados tecnicamente e até em termos de instalações”.
“Devido ao grau de incerteza todas as instituições foram chamadas para responder à covid-19, até o setor privado”, mas a rede foi poupada devido à dimensão da epidemia, havendo hospitais de média dimensão que não têm mais de uma dezena de doentes, notou.
Para Alexandre Lourenço, a rede covid-19 vai ter de definir quais são os hospitais, as camas e os profissionais alocados e permitir flexibilidade de resposta.
“Não faz sentido, e nós temos que reconhecer isso, que alguns hospitais tenham hoje dois, quatro doentes com covid internados e que na prática tenha reduzido toda a sua habitual atividade eletiva, o que faz sentido é que estes doentes possam ser transferidos para outros hospitais que tenham maior capacidade de resposta e estes hospitais se comecem a dedicar à atividade eletiva dando resposta dos cuidados gerais que é o que a população necessita”, defendeu.
Mas isso necessita de “uma grande articulação, de uma grande coordenação” na resposta inter-hospitalar, concluiu.
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