Pelo terceiro ano consecutivo, Andreas Noe voltou à estrada em defesa do meio ambiente e da sustentabilidade. Desta vez, o biólogo alemão, conhecido no Instagram como The Trash Traveler (“O Viajante de Lixo”), está a percorrer o país de bicicleta para alertar para a necessidade de “valorizar todos os materiais” e de “olhar para o lixo como uma oportunidade”.
“O projeto The Trash Cycle [“O Ciclo do Lixo”] foca-se em como resolver a montanha de lixo feita pelo Homem no futuro e enfatiza a necessidade de uma economia e sociedade circulares”, explica Andreas Noe ao Expresso.
Segundo as Nações Unidas, pelo menos 11 milhões de toneladas de plástico vão parar ao mar todos os anos. Em Portugal, cada pessoa produz em média 500 quilos de lixo anualmente. De acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente, 41% destes resíduos acabam em aterros.
Por isso, argumenta o biólogo alemão que vive em Portugal há cinco anos, “precisamos de valorizar e reutilizar, pois estamos a encher o nosso mundo literalmente com lixo. Precisamos pensar mais numa economia circular se não quisermos destruir ainda mais o nosso planeta.”
À semelhança das suas iniciativas anteriores, Andreas Noe decidiu promover a sua mensagem de uma forma menos convencional. “Construí uma bicicleta apenas com peças de segunda mão. Se quisermos pensar de forma visual, combinei mais de 10 bicicletas diferentes numa só”, conta. “Para abrir os olhos [das pessoas para o facto de] que podemos fazer tudo com algo antigo, precisava de uma aventura extraordinária, quase impossível. Assim, decidi fazer uma verdadeira Volta a Portugal.”
Em 45 dias, o The Trash Traveler já percorreu 1881 quilómetros com a sua bicicleta “Frankenstein”, a que deu o nome de Rosa. “Pedalei até Sagres, depois pelo Algarve até Vila Real Santo António, depois fui pela Nacional 2 até à Serra da Estrela, Chaves por Caminha e agora cheguei a Espinho.” O objetivo é chegar aos dois mil quilómetros em dois meses sem paragens, até regressar ao ponto de partida, em Cascais.
Nesta iniciativa mantém a sua imagem de marca. Ao longo de todo o trajeto tem apanhado garrafas de plástico e latas nas bermas das estradas. “Por exemplo, recolhi 191 garrafas e latas em apenas 1,8 km de uma estrada nacional perto do Fundão. Num outro local, a caminho de Chaves, recolhi em apenas 100 metros, junto a uma estação de serviço, quatro sacos com 178 garrafas e latas.”
“Esta é apenas uma pequena gota do que na realidade poderia ter sido apanhado”, sublinha. São apenas aquilo que consegue transportar consigo na bicicleta até encontrar a carrinha de apoio. Ainda assim, no total, já são mais de 3900 garrafas e latas apanhadas, que estarão em exposição no evento final do projeto, que vai decorrer a 19 de junho junto à Torre de Belém.
Para enfrentar este problema, está a promover uma petição pública, lançada por uma rede de 38 ONGs, que exige a implementação de um sistema de depósito de embalagens de bebidas (tara recuperável) em Portugal. A ideia é que ao dar um “valor económico” às garrafas, “as pessoas tenham uma razão para as devolver às lojas”. A iniciativa já recolheu mais de 7500 assinaturas.
O The Trash Cycle é a terceira edição do projeto The Plastic Hike. No ano passado, durante a The Butt Hike, recolheu um milhão de beatas de cigarro em várias cidades de Portugal. Antes, em 2020, apanhou 1,6 toneladas de plástico das praias portuguesas.
Em todos os projetos, o biólogo alemão faz-se acompanhar por um ukelele e publica vídeos divertidos no Instagram para chamar atenção para o problema da poluição dos oceanos com uma “abordagem positiva”. “Acredito que quando nos estivermos a divertir somos mais propensos a receber a mensagem”, disse ao Expresso em 2021.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL