A indústria do chocolate enfrenta uma crise sem precedentes, levando várias marcas a ajustarem as suas receitas para reduzir custos de produção. Embora os preços dos produtos possam não ter aumentado de forma significativa, o tamanho das embalagens tem diminuído, enquanto alguns ingredientes estão a ser substituídos por alternativas mais baratas.
Menos produto, mesmo preço
O fenómeno, conhecido como “reduflação”, tem sido admitido por grandes empresas como a Mondelez, responsável pela Milka e Oreo, e pela Mars Wrigley, que detém marcas como M&M, Snickers e Mars. A Mondelez Portugal já indicou que os preços poderão mesmo aumentar no futuro, caso a tendência continue
A principal razão para estas alterações prende-se com o aumento do custo das matérias-primas, especialmente o cacau. De acordo com especialistas do setor, os preços da produção atingiram valores recorde, tornando difícil para as empresas manterem as receitas originais sem comprometer as margens de lucro.
Para evitar subir os preços de forma significativa e correr o risco de perder consumidores, várias marcas optaram por reformular as suas receitas. A substituição da manteiga de cacau por outras gorduras de menor qualidade é uma das estratégias mais utilizadas, podendo alterar a textura e o sabor dos chocolates.
Alterações nas receitas
Para evitar subir os preços de forma significativa e correr o risco de perder consumidores, várias marcas optaram por reformular as suas receitas. A substituição da manteiga de cacau por outras gorduras de menor qualidade é uma das estratégias mais utilizadas, podendo alterar a textura e o sabor dos chocolates.
Uso de gorduras alternativas
Óleos como palma, palmiste, coco e até gordura anidra do leite estão a ser usados para substituir a manteiga de cacau, uma vez que são mais baratos. No entanto, estas gorduras não possuem as mesmas propriedades, o que pode resultar numa experiência de consumo inferior.
Especialistas alertam que a manteiga de cacau é fundamental para a qualidade do chocolate, pois derrete à temperatura do corpo, proporcionando uma sensação suave e cremosa na boca. Quando substituída por outras gorduras, o produto pode apresentar uma textura mais gordurosa e menos refinada.
Alteração nos adoçantes
Além da troca de gorduras, algumas marcas estão também a substituir o açúcar por xaropes de glicose e frutose. Esta alteração pode afetar a aparência do produto, tornando-o mais baço e favorecendo o aparecimento de manchas brancas de gordura, além de aumentar a doçura de forma excessiva.
Qualidade dos chocolates
A Organização de Consumidores e Usuários (OCU), uma entidade espanhola de defesa do consumidor, realizou uma análise detalhada a 30 caixas de chocolates de diferentes marcas. O estudo revelou que apenas um terço dos produtos analisados mantinha um nível de qualidade considerado bom ou muito bom.
Entre os produtos com piores avaliações está a icónica caixa vermelha da Nestlé, que contém uma combinação de manteiga de cacau, gordura de palma, karité, gordura anidra do leite e manteiga.
Apesar da composição considerada inferior, este produto continua a ter um preço elevado, custando cerca de 47,96 euros por quilo em Espanha.
Outra marca que dececionou foi a Trapa Sublimes. Apesar de não recorrer a xaropes de glicose, a substituição da manteiga de cacau por manteiga, óleo de coco e óleo de girassol resultou num produto com sabor e textura considerados insatisfatórios. No entanto, o seu preço é mais acessível, rondando os 17,8 euros por quilo em Espanha.
Os bombons Lindt Lindor, conhecidos pelo seu sabor requintado, também não escaparam às críticas. Embora contenham açúcar de alta qualidade, a inclusão de óleo de coco, óleo de palmiste e gordura anidra do leite comprometeu a experiência de consumo, especialmente tendo em conta o preço elevado de 37,45 euros por quilo em Espanha.
As famosas conchas de praliné Guylian SeaShell foram outra desilusão no estudo. Apesar de não apresentarem grandes alterações na receita, a aparência e o sabor ficaram aquém das expectativas. A sua textura foi considerada inadequada, possivelmente devido ao excesso de açúcar. Com um preço de 32,6 euros por quilo em Espanha, esperava-se uma qualidade superior.
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Marcas brancas e a redução da qualidade
As alterações nas receitas não se limitam às marcas mais conhecidas. Muitas marcas brancas também estão a recorrer a ingredientes mais baratos para manter os seus produtos competitivos no mercado. Esta tendência reflete a dificuldade que as empresas enfrentam para lidar com a inflação nos custos de produção.
Reação dos clientes
Os consumidores, por sua vez, começam a notar diferenças no sabor e na textura dos chocolates que compram habitualmente. A redução da qualidade pode levar a uma mudança nas preferências dos clientes, que poderão optar por alternativas mais fiéis às receitas tradicionais.
Segundo a Marketeer, a recomendação de especialistas é que os consumidores verifiquem a lista de ingredientes antes de comprar. Um chocolate de qualidade deve conter 100% de manteiga de cacau e evitar gorduras alternativas que podem comprometer a experiência de consumo.
O futuro do chocolate
Embora algumas marcas ainda mantenham elevados padrões de qualidade, a crise poderá continuar a afetar a indústria. Resta saber se as empresas encontrarão formas de equilibrar custos sem comprometer a satisfação dos consumidores.
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