
O Plano de Adaptação às Alterações Climáticas da Comunidade Intermunicipal do Algarve (PIAAC-AMAL) foi apresentado durante esta terça-feira, dia 4, no Grande Auditório da Universidade do Algarve.
As alterações climáticas são, cada vez mais, uma preocupação a nível mundial.
A AMAL, através deste projeto, pretende a implementação de medidas que ajudem a reverter os problemas relacionados com as alterações climáticas.
Segundo Jorge Botelho, presidente da AMAL, “este plano é de elevada complexidade e envolveu muitos técnicos, entidades regionais, nacionais, vários stakeholders que deram opinião técnica sobre a matéria e hoje é apresentado publicamente”.
“Todos os municípios subscreveram, por unanimidade, a necessidade de fazer o plano e estão de acordo relativamente ao mesmo”, referindo que “apresentou custos na ordem dos 470 mil euros e foi financiado em 80% pelo PO SEUR – Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso do Recurso”.
O responsável sublinhou ainda que “a implementação do projeto nas suas múltiplas variáveis poderá representar um custo na ordem das dezenas de milhões de euros”, sendo que “estamos a trabalhar na mitigação e tratamento de questões do território como as falésias, nível do mar, desertificação, vias de comunicação, saúde, questões como mortalidade, seca e recolha de água”.
“Este plano é apresentado agora porque queremos fazer dele uma agenda para as prioridade de investimento no próximo quadro comunitário 2030” e “será apresentado ao Governo porque queremos que seja considerado nas perspetivas financeiras do próximo quadro comunitário de apoio, onde seguramente as alterações climáticas serão um eixo chave de desenvolvimento do trabalho e investimento”.
Jorge Botelho referiu ainda que “as alterações climáticas estão aí, pelo que é importante “sabermos o que queremos para a região para depois sermos agentes da mudança, trabalhando afincadamente para cumprir o plano”.
Osvaldo Gonçalves, presidente da Câmara Municipal de Alcoutim, disse ao POSTAL que “nós temos no Algarve um problema na orla marítima que tem a ver com a degradação de toda a costa motivada pelas intempéries que se fazem sentir e que estão muito associadas às questões das alterações climáticas”, que são “algo que nos afeta não só na costa como no barrocal e interior algarvio”.
“É importante salientar e enaltecer a postura que a AMAL teve em avançar com este plano, uma vez que demonstra uma sensibilidade muito grande relativamente às preocupações que tem de ser de todos nós enquanto cidadãos”, acrescentou o autarca.
O Plano de Adaptação às Alterações Climáticas pretende dar resposta a dez setores prioritários: recursos hídricos, agricultura, biodiversidade, economia, energia, florestas, saúde humana, segurança de pessoas e bens, transportes e comunicações e zonas costeiras e mar.
O plano foi encomendado à Universidade Técnica de Lisboa em 2017 e é dirigido pelos professores Luís Dias e Filipe Duarte Santos.
“De uma maneira geral todas as projeções relacionadas com as alterações climáticas terão impacto aqui no Algarve”, referiu Luís Dias, coordenador executivo do projeto.
“Existem questões bastante relavantes como a diminuição da precipitação e as questões relacionadas com os recursos hídricos. Depois existe a questão do aumento da temperatura que terá impacto na saúde humana, nomeadamente, em situações de calor que poderão aumentar a mortalidade. A subida do nível médio do mar também é uma questão bastante relevante”, refere o responsável.
Luís Dias prossegue dizendo que “existem alguns fatores combinados que poderão ter impactos consideráveis, nomeadamente, a conjugação de algumas modificações, no vento, na humidade relativa e precipitação que poderão ter um impacto significativo para a biodiversidade e para os fogos florestais também”.
O Plano de Adaptação às Alterações Climáticas assenta na adoção de várias medidas.
Luís Dias explicou ao POSTAL algumas delas.
“No que diz respeito aos recursos hídricos, fazer intervenções menos pesadas, nomeadamente, com a colocação de pequenos lagos, pequenos reservatórios, com a construção de pequenos diques que já existiam nas ribeiras, a criação de alguns lagos artificiais e a diminuição de perdas são coisas que já estão a ser feitas mas podem ser melhor executadas, existindo a necessidade de mais recursos para que tal seja realizado”.
“A reutilização de águas residuais é também uma solução e parece-nos importante”, concluiu o investigador.
“Depois existem outras soluções de fim de linha, ou seja, quando não existir mais nada que se possa fazer temos sempre a possibilidade de criar uma ou outra barragem, no entanto “as barragens têm tendência para no final do século virem a ter menos água porque chove menos”.
Luís Dias refere ainda que “uma das ideias é a criação de uma central de dessalinização”, sendo que “se prevê que os impactos ambientais venham a diminuir com o avanço da tecnologia e aí sim podemos produzir toda a água desde que tenhamos acesso ao mar”.
No que diz respeito às temperaturas, “o mais importante é o conforto térmico dos edifícios e existem algumas soluções” sendo que “a solução que me parece mais importante acaba por estar relacionada com a arquitetura bioclimática porque, muitas vezes, basta um cuidado na construção dos edifícios” que “passa muitas vezes pelo facto de uma janela estar com determinada orientação ou ter uma cobertura que faça com a luz não incida diretamente dentro da divisão e, consequentemente, não aqueça”. Por fim, o professor referiu que “a utilização da água do mar para arrefecer edifícios também poderá ser uma solução”.
Ana Paula Vitorino, ministra do Mar, disse ao POSTAL que “o Algarve tem uma grande tradição no planeamento e acima de tudo naquilo que se refere à ligação ao mar”.
“Devo frisar a importância muito grande da Universidade do Algarve e dos dois Centros de Investigação relacionados com o mar que, com abordagens um pouco diferentes, um mais virado para os recursos naturais vivos e outro mais voltado para as tecnologias sempre marcaram pontos no nosso percurso”.
(Stefanie Palma / Cristina Mendonça)