Escondida sob a paisagem algarvia, uma rede de galerias subterrâneas serpenteia pela rocha calcária, criando um dos mais enigmáticos ecossistemas subterrâneos de Portugal. Formada ao longo de milhares de anos pela erosão da água, esta gruta destaca-se pela sua complexidade geológica, lagos subterrâneos e uma biodiversidade única, atraindo a atenção de cientistas e exploradores.
O nome da gruta remonta ao poeta e político Abû Bacr Muhammad Ibn Ammar, figura destacada do século XI e possível natural de Estômbar, a localidade vizinha. Conhecida também como “Cavernas da Mexilhoeirinha” ou “Furnas dos Mouros”, esta caverna subterrânea, situada na margem esquerda do estuário do rio Arade, no concelho de Lagoa, exibe sinais de ocupação humana que remontam ao Paleolítico Médio, evidenciando a sua relevância histórica.
A estrutura da gruta apresenta duas entradas principais: uma superior, através de um sifão vertical situado a dez metros acima do nível médio das águas do Arade, e uma inferior, ao nível do rio, composta por condutas tubulares que conduzem a diversas salas subterrâneas. Estas galerias possuem lagos internos e uma hidrogénese peculiar, moldada ao longo dos séculos pela interação entre a rocha calcária e o fluxo das marés.
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A biodiversidade da Gruta de Ibn Ammar é também um dos seus principais atrativos. Este sistema subterrâneo alberga várias espécies endémicas, incluindo o pseudoescorpião gigante das grutas do Algarve (Titanobochica magna), a aranha Teloleptoneta synthetica e o isópode subterrâneo Cordioniscus lusitanicus. Estas espécies, adaptadas a ambientes de escuridão permanente, são raras e têm vindo a ser objeto de estudos científicos.
O património arqueológico da gruta inclui vestígios cerâmicos e metálicos, que sugerem a sua utilização em rituais durante a Idade do Bronze. Alguns especialistas defendem que a caverna poderia ter funcionado como um santuário subterrâneo, onde se realizavam cerimónias de carácter simbólico.
O acesso à Gruta de Ibne Ammar é atualmente restrito, dada a sua fragilidade ecológica e importância científica. No entanto, encontra-se em processo de classificação como património cultural, um passo que poderá garantir a sua proteção e valorização para futuras gerações. A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve tem vindo a acompanhar este processo, sublinhando a relevância da gruta no contexto do património natural e arqueológico da região.
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