O assoreamento da Ilha de Tavira é um processo natural que tem vindo a modificar a paisagem desta ilha-barreira ao longo dos anos. Situada na costa algarvia, a ilha faz parte do Parque Natural da Ria Formosa, uma área de grande importância ecológica e económica. No entanto, a acumulação de sedimentos tem alterado as suas características, trazendo desafios à sua preservação e impacto significativo nas atividades piscatórias e turístico-marítimas.
Sedimentos e alteração da paisagem
Com o passar do tempo, os sedimentos transportados pelas correntes marítimas e pelo vento depositam-se em diferentes áreas da ilha e dos canais adjacentes, alterando a configuração do território e dificultando a navegação. Este fenómeno pode ser agravado por tempestades e pela ausência de intervenções regulares de manutenção, tornando-se uma preocupação crescente para as comunidades locais.
Impacto na navegação e nas atividades económicas
Os efeitos do assoreamento não se limitam à transformação da paisagem. Na barra de Tavira e nos canais de acesso aos portos de Santa Luzia e de Cabanas, este problema tem vindo a intensificar-se, dificultando a saída e entrada das embarcações. O bloqueio progressivo da barra tem causado transtornos significativos aos pescadores e operadores turísticos, que dependem de boas condições de navegação para o seu sustento.
Falta de dragagens eficazes
A falta de dragagens eficazes e regulares tem agravado a situação. Embora tenham sido realizadas pequenas dragagens de remediação ao longo dos anos, os resultados obtidos têm sido insuficientes para garantir a navegabilidade em segurança.
Agravamento do problema durante o inverno
Os efeitos deste assoreamento são particularmente visíveis durante o inverno, quando os temporais intensificam a deposição de areia e a obstrução dos canais, como tem sido o caso recentemente. Durante os períodos de ondulação forte, a barra de Tavira chega a ser encerrada, impedindo a saída para o mar de dezenas de embarcações de pesca, assim como de barcos de turismo e de pesca desportiva.
A situação tem vindo a gerar grande preocupação entre as comunidades piscatórias locais. No porto de Tavira estão registadas mais de 250 embarcações de pesca licenciadas, além de dezenas de barcos em Cabanas e Santa Luzia. Estes profissionais dependem dos recursos piscícolas locais e do acesso ao mar para exercerem a sua atividade, pelo que as dificuldades na navegação representam uma ameaça direta ao seu sustento.
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Intervenções ao longo das décadas
A fixação artificial da barra de Tavira, realizada em 1927, foi uma tentativa de controlar as dinâmicas sedimentares da região. No entanto, as sucessivas intervenções ao longo das décadas, incluindo a reabertura da barra em 1961 e o prolongamento dos molhes, demonstram que este é um problema cíclico que exige monitorização e manutenção regulares. O molhe oeste, ao reter areias a poente, favorece a transposição de sedimentos e contribui para o assoreamento acelerado da entrada da barra.
De acordo com o Mais Algarve, a preocupação com o assoreamento da barra de Tavira levou a Assembleia da República a aprovar, em 2017, uma resolução recomendando ao Governo a implementação de medidas para solucionar o problema. O objetivo seria garantir a navegabilidade segura nos portos de pesca nacionais mais afetados pela sedimentação excessiva, incluindo Tavira e os seus canais adjacentes.
O surgimento de uma nova praia na Ilha de Tavira
Enquanto se aguarda uma resposta governamental mais efetiva, os efeitos do assoreamento continuam a manifestar-se de formas inesperadas. Uma das consequências visíveis deste processo é o surgimento do que parece ser uma nova praia na Ilha de Tavira. O depósito contínuo de sedimentos levou à formação de uma extensa área arenosa, que se tem expandido gradualmente e poderá tornar-se, no futuro, um novo ponto de interesse na paisagem da ilha.
A importância de um planeamento estratégico
A evolução da ilha e dos seus canais de navegação evidencia a complexidade das dinâmicas costeiras e a necessidade de um planeamento estratégico eficaz. A conjugação de fatores naturais e humanos exige uma abordagem equilibrada, que considere tanto a conservação ambiental como a proteção das atividades económicas e da segurança marítima.
A longo prazo, a gestão do assoreamento na barra de Tavira dependerá da capacidade de implementar soluções sustentáveis que garantam a preservação da ilha e a continuidade das atividades que dela dependem. Com uma estratégia adequada, será possível encontrar um equilíbrio entre a dinâmica natural da ria Formosa e as necessidades da população local, assegurando que este território se mantém viável para as gerações futuras.
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