A Plataforma Água Sustentável (PAS) manifestou, esta sexta-feira, uma firme oposição à construção da Estação de Dessalinização de Água do Mar do Algarve (EDAMA). A organização caracteriza o projeto como uma decisão ineficaz, um desperdício económico, e uma obra perdulária, com impactos adversos significativos na pesca, no turismo e no meio ambiente local.
A PAS afirma que a construção da EDAMA é ineficaz, pois, no máximo da sua capacidade, esta infraestrutura produziria apenas 6,8% do total dos consumos anuais da região, que se situam em cerca de 236,5 hm³. Esse volume representa aproximadamente 20% do consumo urbano, enquanto se estima que 30% da água se perca, em média, nas redes de distribuição urbana da região algarvia. A organização sublinha que o foco deveria estar na reabilitação das redes, investindo em tecnologias para deteção e monitorização de fugas, manutenção das perdas de água e aproveitamento das águas residuais tratadas (ApR).
Segundo o comunicado, a construção da dessalinizadora configura um desperdício económico, por redirecionar verbas que poderiam ser alocadas a soluções mais eficazes e sustentáveis. Em vez disso, o projeto aposta numa obra de elevada complexidade e custo, desviando recursos financeiros preciosos.
Além disso, a EDAMA é classificada como uma obra perdulária, uma vez que a água produzida será de menor qualidade e a um custo significativamente mais alto. Consequentemente, esta situação poderá levar ao aumento do preço da água sem resolver, de facto, o problema da escassez.
O impacto na pesca e no turismo é outra preocupação fundamental. A PAS alerta que o projeto da dessalinizadora resultará numa diminuição da quantidade e da qualidade do pescado, além de degradar a qualidade da água do mar. A desfiguração da paisagem natural, nomeadamente na icónica praia da Falésia, constitui também um risco para o turismo, sector fundamental para a economia algarvia.
No que toca ao custo ambiental, o impacto negativo é apontado como um dos principais problemas. A descarga de salmoura misturada com substâncias orgânicas e metais pesados pode provocar efeitos irreversíveis na vida marinha. Além disso, a intervenção nas arribas da falésia, com risco de derrocadas, e os potenciais danos ao Parque Natural da Ria Formosa, à Zona Especial de Conservação da Ribeira de Quarteira, e aos recifes artificiais de Quarteira representam um elevado custo ambiental. A EDAMA, devido à sua operação intensiva, também implicará um elevado consumo de energia, maioritariamente obtida através de combustíveis fósseis, aumentando as emissões de carbono.
A PAS vê ainda nesta decisão uma oportunidade perdida por parte do Governo. Em vez de avançar para soluções mais eficazes e sustentáveis para a região, a aposta numa mega infraestrutura poderá criar novos problemas económicos, sociais e ambientais para as futuras gerações. A recomendação específica do Conselho Europeu a Portugal, em junho de 2024, era clara ao sugerir uma gestão criteriosa dos recursos hídricos, priorizando ações estruturais para aumentar a eficiência hídrica e a promoção do uso racional da água.
A plataforma conclui que a decisão de avançar com a dessalinizadora coloca em risco o futuro da região e dos algarvios, defendendo que a dessalinização deve ser vista como uma solução de último recurso, e não como a primeira opção. Em vez de aumentar a oferta de água, a PAS defende uma gestão sustentável do recurso hídrico, promovendo a reutilização e aumentando a retenção de água no território, de forma a evitar o agravamento dos problemas económicos, sociais e ambientais já existentes.
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