Há mistérios na história de Portugal que continuam a intrigar estudiosos e apaixonados pela arqueologia. Um desses enigmas está relacionado com Dipo, uma cidade perdida há mais de 2300 anos que poderá ter estado situada no Alentejo, mais precisamente em Évora Monte. Trata-se de um dos maiores povoados pré-romanos da região, cuja localização exata ainda permanece incerta. Este sítio arqueológico, que remonta ao século III a.C., guarda segredos sobre um passado longínquo, que as escavações e as investigações arqueológicas começam lentamente a desvendar.
Dipo: Uma cidade celta com 2300 anos de história
Os Sefes, um povo de origem celta, são apontados como os fundadores da cidade de Dipo. Os relatos históricos, incluindo referências de autores clássicos como Tito Lívio e Salústio, mencionam a importância estratégica e militar desta cidade na Idade do Ferro. De acordo com Tito Lívio, Dipo foi um dos principais alvos das campanhas romanas durante as suas primeiras incursões na Península Ibérica. Salústio, por sua vez, descreve Dipo como uma cidade fortificada que resistiu com tenacidade durante vários dias na guerra civil sertoriana. Estas referências históricas sugerem que Dipo desempenhou um papel de destaque na resistência contra as forças romanas.
A localização de Dipo, porém, perdeu-se no tempo. Enquanto alguns arqueólogos acreditam que as ruínas de Évora Monte possam corresponder ao antigo povoado celta, a falta de provas conclusivas mantém o mistério. No entanto, as escavações em Évora Monte revelaram estruturas que remontam ao século III a.C., sustentando a hipótese de que a cidade perdida de Dipo poderá ter existido neste local.
Os Sefes: Povo das serpentes e fundadores de Dipo
Os Sefes, também conhecidos como Ofis, são um dos povos celtas que habitaram a região ocidental da Península Ibérica antes da chegada dos romanos. Estes guerreiros celtas, cujo nome significa “povo das serpentes”, estabeleceram-se no Alentejo e em outras áreas próximas. A cidade de Dipo, situada entre as atuais Évora e Mérida, foi uma das várias cidades fundadas pelos Sefes. Além de Dipo, os Sefes também são creditados com a fundação de outras localidades importantes, como Olisipo (Lisboa) e Colipo (Leiria).
A presença dos Sefes no Alentejo e em regiões adjacentes de Espanha está bem documentada. Este povo deixou um rasto de destruição entre as tribos que habitavam o território, como os Estrímnios, a quem os Sefes subjugaram antes de consolidarem o seu domínio na região. Os seus adversários foram forçados a procurar refúgio nas montanhas, dando origem a povoados fortificados como aqueles que hoje encontramos na Serra d’Ossa.
A descoberta arqueológica em Évora Monte
As escavações realizadas em Évora Monte ao longo dos últimos anos trouxeram à luz evidências de um povoado com mais de dois milénios, reforçando a teoria de que a cidade de Dipo possa ter estado localizada nesta área. Apesar de ainda não existirem provas definitivas, os arqueólogos continuam a investigar as ruínas, na esperança de encontrar mais vestígios da antiga cidade.
Évora Monte, atualmente uma pequena freguesia do concelho de Estremoz, é conhecida pelo seu castelo e pelas suas ruas pitorescas. Contudo, o seu subsolo poderá esconder uma história muito mais antiga do que aquela que se encontra registada nos livros. Para além do seu património medieval, os indícios da ocupação romana e pré-romana tornam este local um ponto de interesse para os amantes da história e da arqueologia.
Turismo e património em Évora Monte
Embora Dipo ainda permaneça como um mistério arqueológico por resolver, Évora Monte é um destino fascinante por direito próprio. A vila medieval, rodeada por muralhas e coroada pelo imponente castelo mandado construir por D. Dinis no século XIV, é uma viagem no tempo para quem a visita. As ruas estreitas, a igreja matriz e a Igreja da Misericórdia são outros pontos de interesse que atraem visitantes à região.
A sua localização estratégica, no topo de uma elevação, oferece vistas deslumbrantes sobre a planície alentejana. A história recente da vila também inclui eventos de grande relevância, como a assinatura da Convenção de Evoramonte em 1834, que pôs fim à guerra civil entre liberais e absolutistas.
Como chegar a Évora Monte
Para os curiosos e aventureiros que desejam explorar este local histórico, Évora Monte é acessível pela estrada nacional N18, que liga Évora a Estremoz. A pequena vila está situada a cerca de 30 km de Évora e a 16 km de Estremoz, sendo facilmente acessível de carro. A visita à vila é uma excelente oportunidade para explorar não só o património arquitetónico da região, mas também para refletir sobre os mistérios de Dipo, a cidade que poderá estar escondida sob os seus pés.
O mistério de Dipo continua a intrigar os estudiosos e a alimentar a curiosidade dos que se interessam pela história antiga de Portugal. Com a sua fundação datada de há 2300 anos, a cidade celta dos Sefes pode estar à espera de ser redescoberta em Évora Monte. Até lá, as ruínas e o património arqueológico da região são testemunhos silenciosos de um passado que, embora perdido no tempo, continua a fascinar e a inspirar novas investigações.
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