Em entrevista ao POSTAL, António Miguel Pina, presidente da Câmara Municipal de Olhão, avança com alguns projetos que estão a ser desenvolvidos no concelho. O responsável falou sobre os eventos futuros no concelho, com especial destaque para o Festival do Marisco de Olhão. O presidente falou ainda sobre os principais investimentos que estão a ser feitos em Olhão, bem como daquilo que ainda falta concretizar neste mandato.
Olhão é uma cidade intimamente ligada ao mar desde sempre. Que atividades estão a ser desenvolvidas neste sector?
Olhão foi desde sempre um concelho com uma forte ligação à pesca e às industrias transformadoras de pescado.
Nos últimos anos, e fruto da diminuição abrupta dos stocks de pescado, nomeadamente da sardinha e do carapau, bem como a redução das quotas e dos meses de pesca, temos vindo a assistir ao desaparecimento de embarcações e, consequentemente ao desemprego neste sector.
Felizmente tem havido um grande investimento na área da aquicultura ou aquacultura offshore, acreditando ser esta a única saída para combater este problema, permitindo a empregabilidade dos muitos desempregados do sector.
Estamos atentos e disponíveis para apoiar, seja ultrapassando alguma burocracia ou ajudando na internacionalização das empresas a operar
nesta área. Outras das atividades em forte desenvolvimento ligadas ao Mar/Ria Formosa são as marítimo-turísticas que, através dos passeios, da visitação do trabalho desenvolvido pelos mariscadores, da observação da fauna (cavalos-marinhos) e dos golfinhos, têm criado mais-valias nesta área.
O Festival do Marisco está a aproximar-se. Quais são as expetativas em termos de receita?
O Festival de Marisco vai este ano para a XXXIII edição e é, sem qualquer dúvida, o maior festival gastronómico e musical a sul de Portugal. Com o cartaz deste ano, a qualidade e diversidade do marisco que temos para oferecer, estamos convencidos que teremos um número de visitantes igual ou superior aos outros anos, traduzindo-se obviamente em bons resultados financeiros.
Espera-se uma maior afluência este ano?
Há no Algarve, e num espaço temporal cada vez mais reduzido, um grande número de eventos, o que pode originar alguma dispersão, porém, apostámos num cartaz eclético e de qualidade, por forma a atrair públicos de todas as faixas etárias e gostos musicais. Se o “São Pedro” nos presentear com bom tempo, com a qualidade que sempre oferecemos na gastronomia e algumas inovações dentro do espaço, este ano teremos, sem dúvida, uma grande afluência durante os seis dias do festival.
Que outras atividades estão agendadas para o verão no concelho?
Entre outras, destaco o Festival Pirata, as Noites do Levante, a Feira do Livro e a Poesia a Sul. Durante os três meses de verão os olhanenses e quem nos visita podem usufruir de um conjunto de eventos bastante diversificados.
Mais de 60% do que nos propusemos fazer já foi feito
Ao nível dos investimentos, quais são as prioridades?
É indiscutível que Olhão é hoje, aos olhos de muitos, seja no Algarve, no resto do país ou no estrangeiros, um concelho onde há crescimento
económico, dinâmica cultural, turismo sustentado e inovador, modernidade e boas perspetivas de crescimento.
Temos investido na modernização do espaço público, como por exemplo na Frente Ribeirinha – Avenida 5 de Outubro – requalificando-a, e na Horta do Pádua, dotando-a de novas áreas ajardinadas.
Na área da educação, estamos a efectuar um investimento de oito milhões no parque escolar, bem como na área tecnológica, dotando todas as salas de aula de equipamentos modernos e adequados às novas realidade.
Oferecemos tablets a todos os alunos dos 4, 7 e 10º anos, num investimento superior a 900 mil euros.
Estamos a requalificar várias zonas e bairros da cidade, o nosso parque habitacional (cerca de 800 fogos) e vamos construir habitação a custos
controlados para minorar o problema de aquisição e aluguer de casa própria aos jovens que pretendem constituir família e residir neste
aprazível concelho.
Para além destes investimentos e requalificações, muitos outros estão a ser estudados e efetuados, como por exemplo no saneamento básico, no melhoramento das acessibilidades, no parque desportivo e na criação/renovação de algumas zonas verdes (jardins e espaços de lazer).
Em estudo e em fase de projeto, entre outros, estão a construção de novas bolsas de estacionamento a nascente e poente da baixa da cidade com capacidade para 1000 automóveis – um deles já em funcionamento – ,bem como a requalificação da entrada poente até à marina, com 26.000 metros quadrados de zona ajardinada, e a Avenida 16 de Junho, dotando-a de zonas pedonais e espaços verdes. O Porto de Pesca irá ser requalificado permitindo um novo espelho de água (marina) para embarcações de grande porte.
Iremos concluir até ao final de 2020 as ciclovias, permitindo ir da Fuseta até Faro de bicicleta ou a pé.
O que é que ainda falta concretizar neste mandato?
O nosso compromisso com os olhanenses foi muito claro. Não prometemos nada que não fosse exequível ou megalómano. Temos consciência que muito há para fazer e até à data mais de 60% do que nos propusemos fazer já foi feito. Há ainda alguns projetos em curso que aguardam pareceres ou estão em fase projeto, nomeadamente a construção do quartel de bombeiros, os jardins de areia junto à marina com cerca de 30.000 metros quadrados e a requalificação dos jardins Pescador Olhanense e Patrão Joaquim Lopes, este último deverá ter início em 2020. O saneamento da Ilha da Armona aguarda a reestruturação do caderno de encargos e irá novamente a concurso público.
Olhão está na moda
Olhão tem vindo a afirmar-se na área do turismo. Quais os projetos e apoios nesta área?
Olhão transformou-se na última década. Somos hoje um concelho, uma cidade que muitos dizem “estar na moda”.
Sabemos que a moda é efémera e Olhão quer afirmar-se como um destino turístico de qualidade e não de quantidade… veio para ficar!
O grande “clique” deu-se com a construção de um hotel de 5 estrelas na frente ribeirinha e a Ria Formosa ter sido considerada uma das 7 Maravilhas de Portugal.
Fomos crescendo e tendo visibilidade, mas recordo que este é um processo lento e não aconteceu por acaso.
Tínhamos uma estratégia de crescimento e, juntamente com alguns agentes económicos ligados ao sector, fomos colocando Olhão como um destino turístico único e de qualidade.
Mas a realidade é que todos os anos aparecem novos destinos turísticos, todos os meses muitos se reinventam por força da concorrência e da modernidade. A pressão que existe para crescer muito e rápido é grande e tentadora.
Em face desta realidade, encomendamos à Universidade do Algarve um Plano de Desenvolvimento Turístico para Olhão. Sabemos o que não queremos! Mas também temos a humildade necessária para ouvir quem sabe: os estudiosos, a população e os nossos visitantes.
Com essa informação e com a ajuda de todos os intervenientes no setor iremos, sem qualquer dúvida, resistir ao aumento da carga, mantendo o nosso concelho como um destino único, apelativo e de qualidade.
Mas cabe-nos a nós, principal player da governança, continuar a modernizar o nosso concelho, esperamos que os empresários façam a parte deles, melhorando o serviço e, consequentemente, atraindo novos visitantes.
Pretendemos, numa gestão tripartida, dar uma vida nova à Quinta de Marim, situada no Parque Natural da Ria Formosa, bem como atrair
novos investidores na área hoteleira.
Quanto à população jovem, que apoios estão a ser concedidos a este grupo?
O turismo traz empregabilidade muitas vezes melhor remunerada, porém, cria nos destinos algumas situações problemáticas, nomeadamente a escassez de alojamento a preços comportáveis para quem vive do seu ordenado, nomeadamente aos jovens e jovens casais.
Cientes desta realidade, estamos a concluir a primeira fase da construção a custos controlados.
A gestão económica de uma família é como uma empresa. Temos o lado da receita e o lado da despesa. O lado da receita é a soma dos dois salários. Do lado da despesa, qual é o primeira grande encargo de uma família? A habitação. O segundo são os filhos.
O desafio passa por conseguirmos proporcionar a aquisição de habitação ou arrendamento em que o esforço seja inferior a 30% do rendimento familiar. Um casal, que ganhem os dois o ordenado mínimo, falamos de 1.200 euros líquido, não deve pagar mais do que 360 euros de renda.
O ideal seria 20% ou 25%. E é possível fazer isso. Vamos colocar no mercado habitações a custos controlados cujo T2 rondará os 90.000
euros.
Com um financiamento bancário de 90 mil euros a 45 anos, a prestação mensal não ultrapassará os 300 euros. E estamos a falar de dois ordenados mínimos.
Outro dos desafios é criar uma rede de berçários/creches com valores mensais igualmente ajustados, permitindo aos jovens, juntarem-se, casarem, comprarem a sua casa, ter filhos, num concelho onde, cada dia que passa, é mais apelativo e aprazível viver.
Para além desta medida, continuamos a ter o apoio à renda aos jovens.
Autarquia quer captar investimento e empreendedores
E no que concerne à população idosa?
Somos um concelho que não descura os menos jovens. Apoiamos direta e indiretamente a população mais idosa, seja através dos serviços do município – ação social – ou dos subsídios às IPSS.
No passado ajudámos na construção de alguns lares, porém, sempre entendemos que a gestão deveria ser efetuada pelas instituições; há
uma maior proximidade e estas estão mais vocacionadas para ajudar/apoiar quem precisa.
Hoje há inúmeros apoios às IPSS para a construção destas estruturas e cabe à autarquia o apoio direto, através de subsídios, e indirecto, cedendo terrenos ou edificado para implementação dessas infraestruturas.
Nos apoios diretos temos, entre muitos, a tarifa social da água e a dos transportes na rede urbana. Estamos igualmente a implementar a criação do cartão “Olhão Amigo” que englobará apoios na área social.
Como potenciar o concelho e captar mais investimento?
Face à atual conjuntura económica e à competitividade territorial das regiões, é determinante a implementação de políticas que conduzam ao crescimento económico.
A autarquia pretende ser um instrumento de apoio à vida económica do concelho, tendo em vista a captação de investimento e de empreendedores, bem como no apoio às empresas existentes, colocando o conhecimento e a força institucional do município ao seu serviço.
É fundamental unir esforços na captação de investimento nos três setores da economia, não só como factor de riqueza, mas também como potenciadores de promoção externa.
O Município de Olhão implementou, recentemente, um Gabinete de Apoio ao Empresário (GAE), que pretende ser uma ferramenta de apoio permanente a possíveis ivestidores e aos empresários já estabelecidos.
Mas temos que ter horizontes mais alargados, razão pela qual temos vindo a desenvolver um conjunto de iniciativas com países irmãos, como por exemplo Brasil, Moçambique e Angola, visando promover o nosso concelho, bem como apoiar a internacionalização das nossas empresas.
A par destas medidas, cabe igualmente ao município a governança do concelho, efetuando um planeamento adequado, seja nas acessibilidades, no desenvolvimento social ou na regeneração urbana, ou seja, ter a dinâmica da construção das cidades.
B.I
O QUE FAZ?
Sou Presidente de Câmara
PERFIL
NOME: António Miguel Pina
IDADE: 43
SIGNO: Escorpião
PROFISSÃO: (Formação) Economista
ONDE RESIDE: Olhão
TEMPOS LIVRES: Gosto de ler, jogar basquetebol com os meus filhos,
conviver com a família e os amigos
LIVROS: Tudo Acontece por uma razão
QUALIDADE: Persistente
DEFEITO: Teimoso qb
DESTINO DAS ÚLTIMAS FÉRIAS: Oriente
(Stefanie Palma / Henrique Dias Freire)