
No mundo atual, marcado pelo aceleramento contínuo, pelo traçado de objetivos e metas pessoais e profissionais em páginas infindáveis de Excel, carregado de píxeis, de influenciadores digitais e hashtags que fazem rolar imagens e conversas pelo mundo fora em poucos minutos, que lugar ocupam os livros? Que leituras, que escritas de papel se escolherão neste nosso mundo global? Representarão estas preferências a espuma dos dias ou inscrever-se-ão numa mais longa tradição de categorias e temas literários?
Os TOP’s de Leitura da maioria das Bibliotecas Públicas do Algarve no ano de 2018 deixando-nos algumas indicações, e outras tantas questões.
COMECEMOS PELA NÃO FICÇÃO
Aqui, o leque de escolhas maioritário entrou forte nas áreas da filosofia, da psicologia, da espiritualidade, e da saúde e bem-estar, ou seja, escolhas de leitura de quem se pôs a caminho.
Os leitores que frequentaram as bibliotecas públicas algarvias em 2018 interessaram-se por estes assuntos, e colocaram no topo das suas preferências três dos mais criativos e originais pensadores da atualidade: a filósofa Susan Neiman, Diretora do Einstein Forum, em Postdam; o historiador Yuval Noah Harari, distinguido por duas vezes com o Prémio Polonski; e o neurologista e neurocientista António Damásio, diretor do Brain and Creativity Institute, na Universidade do Sul da Califórnia, em Los Angeles.

Assim, os livros mais lidos foram “O mal do pensamento moderno: história alternativa à Filosofia”, de Susan Neiman,que questiona os nossos recursos atuais para lidar com o mal, o mal que ameaça a razão humana ao pôr em causa a esperança de que o mundo tenha sentido; o livro de Yuval Noah Harari, o inquietante “Homo Deus – História Breve do Amanhã”, que fala da chegada do homem ao seu mais recente passo evolucional, o “Homo Deus”, e descreve os enormes desafios que temos pela frente, enquanto espécie, à medida que a tecnologia genética, a inteligência artificial e a robótica vão alterando profundamente as nossas relações humanas e as relações com outras espécies; e finalmente “A estranha ordem das coisas: a vida, os sentimentos e as culturas humanas”, o mais recente livro de António Damásio onde o cientista afirma que as grandes forças motrizes primordiais que levaram os seres humanos a criar culturas (a arte, os sistemas morais e a justiça, a governação, a economia política, a tecnologia e a ciência) não foram as tradicionais faculdades humanas da inteligência e da linguagem, mas sim os sentimentos – a dor, o sofrimento ou o prazer antecipado.
No domínio da espiritualidade, os livros de Osho, o místico indiano fundador do movimento Rajneesh, nos anos 80 do séc. XX, dominaram as preferências de leitura, a par de livros sobre desenvolvimento pessoal, saúde e bem-estar e propostas de estilos de vida saudáveis, como é o caso dos livros da coleção “Chegar Novo a Velho”, escritos pelo médico português Manuel Pinto Coelho, especialista em Medicina Anti-Envelhecimento; do livro “Nunca desista dos seus sonhos”, do psiquiatra, psicoterapeuta, e cientista brasileiro Augusto Curry, autor da Teoria da Inteligência Multifocal, explicativa do funcionamento da mente humana e das formas para exercer maior domínio sobre a nossa vida por meio do desenvolvimento da inteligência emocional e do pensamento; e o livro “Hygge – Ser Feliz à Dinamarquesa”, de Anna Skyggebjerg, autora de vários livros sobre psicologia e estilos de vida, que explica que a razão da felicidade dos dinamarqueses está no “hygge” (“bolhas de união”) um conceito de vida assente na prática de rituais simples que alimentam a alma e trazem serenidade e felicidade.

história alternativa à Filosofia”
Outro domínio muito requisitado foi a alimentação e a gastronomia: a importância dos alimentos, e a necessidade de se comer bem e saudável, estiveram na ordem do dia em 2018. Os leitores algarvios andaram à volta dos tachos e panelas, lendo livros e receitas do que se deve comer, e como se podem fazer pratos simples, práticos e acessíveis, com muitas frutas e legumes, numa teimosia danada em não abandonar o gosto de “pôr a mesa” nos dias corridos do presente.
(Luísa Cardoso / Biblioteca Municipal de Lagos)
(CM)