Nos últimos anos, a plataforma TikTok tem registado uma ascensão notável, tornando-se uma das redes sociais mais populares em todo o mundo. Com o seu formato de vídeos curtos e uma interface intuitiva, atrai utilizadores de diversas faixas etárias, embora seja particularmente utilizada pelos mais jovens. Contudo, alguns conteúdos que surgem em resultado de pesquisas na aplicação podem levar a conclusões erradas ou teorias negacionistas. Este fenómeno é especialmente preocupante quando envolve temas amplamente estudados e documentados, como a chegada do homem à Lua ou a origem do vírus responsável pela pandemia de Covid-19.
Uma das questões mais frequentemente pesquisadas na plataforma é: “Quem pisou a Lua pela primeira vez?”. Apesar de existir consenso na comunidade científica e histórica de que foi o astronauta norte-americano Neil Armstrong, em 1969, várias publicações de utilizadores no TikTok defendem teorias que negam este acontecimento. Segundo vídeos acessíveis na plataforma, há criadores de conteúdo que afirmam que a alunagem foi inteiramente encenada pela NASA, tendo sido gravada em estúdios de cinema. Não obstante as provas fotográficas, vídeo, registos de comunicações e testemunhos de outros astronautas da missão Apollo 11, estas teorias de conspiração mantêm-se vivas, encontrando eco nas redes sociais.
Conforme reportado pelo Observador Fact Check em vários dos seus artigos de verificação, grande parte destes vídeos negacionistas utiliza excertos de documentários fictícios ou imagens manipuladas para corroborar a ideia de que o homem nunca pisou a Lua. Tais conteúdos podem criar confusão, sobretudo entre os utilizadores que não estão familiarizados com informações fidedignas ou que não confirmam as fontes. De acordo com especialistas citados pelo Observador, a disseminação de teorias da conspiração na internet está relacionada com a facilidade de partilha, a falta de controlo editorial e os algoritmos de recomendação das redes sociais, que costumam privilegiar vídeos com maior engagement.
O segundo tópico que gera igualmente preocupação é a origem da Covid-19. A Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou várias publicações científicas que relacionam o aparecimento do vírus SARS-CoV-2 com um possível contacto humano inicial em mercados de animais vivos, ainda que investigações complementares tenham avaliado outras hipóteses, incluindo a possibilidade de um incidente laboratorial. Apesar dos estudos e relatórios divulgados pela OMS, muitos utilizadores do TikTok continuam a difundir teorias que apontam para explicações variadas, desde conspirações de governos estrangeiros até teorias que negam completamente a existência do vírus.
De acordo com uma análise da Reuters Fact Check, uma das razões para este tipo de conteúdos se propagar rapidamente no TikTok é o apelo sensacionalista: vídeos curtos e altamente partilháveis que captam a atenção, sobretudo se apresentarem revelações ditas “bombásticas”. Essas publicações podem ganhar tracção em poucos minutos, alcançando um grande número de utilizadores antes mesmo de serem reportadas ou verificadas. Em muitos casos, os criadores destes conteúdos utilizam técnicas de edição ou depoimentos fora de contexto, tentando passar uma mensagem que contraria as conclusões da comunidade científica.
Além disso, o MIT Technology Review alerta para o facto de os algoritmos do TikTok poderem ampliar o efeito de “bolha de informação”. Assim, quando o utilizador manifesta interesse num determinado tema ou assiste a um determinado tipo de conteúdo, a plataforma passa a recomendar mais vídeos semelhantes. Desta forma, quem acredita em teorias da conspiração sobre a Lua ou sobre a Covid-19 acaba por receber cada vez mais conteúdos negacionistas, reforçando a sua própria convicção de que se trata de “verdades escondidas”. Esta dinâmica de recomendação algorítmica torna-se especialmente perigosa quando envolve temas de saúde pública, pois pode levar a comportamentos de risco ou a recusa de medidas de prevenção recomendadas pelas autoridades.
O TikTok, por sua vez, afirma que está comprometido em combater a desinformação, inclusive sobre a Covid-19. Na sua Política de Conteúdo e através de comunicados oficiais, a empresa refere que colabora com entidades de verificação de factos e que remove conteúdos considerados enganosos ou potencialmente prejudiciais. Contudo, organizações de verificação de factos, como a PolitiFact e a AFP Fact Check, identificam que os processos de moderação nem sempre são suficientes para suprimir a vaga de conteúdo desinformativo, já que novas publicações aparecem a cada minuto.
Para os utilizadores que pesquisam por tópicos sensíveis ou historicamente relevantes, fica o alerta de que muitas das respostas que surgem entre os primeiros resultados podem ser desinformativas ou negacionistas. Especialistas em literacia digital recomendam verificar múltiplas fontes credíveis, tais como jornais de referência, estudos científicos ou agências de fact-checking reconhecidas. Ao encontrar um vídeo polémico no TikTok ou em outra rede social, é aconselhável procurar evidências documentais e não se ficar apenas pelo que o criador do conteúdo afirma.
Em conclusão, ainda que o TikTok proporcione momentos de entretenimento e de partilha criativa, é igualmente importante reconhecer que, em determinadas pesquisas, surgem respostas que contrariam factos históricos e científicos amplamente confirmados. Tanto no caso da chegada do homem à Lua como na origem do SARS-CoV-2, existem dados oficiais e estudos sólidos que explicam os acontecimentos. A falta de moderação eficaz, aliada à proliferação de conteúdos virais, permite que teorias negacionistas continuem a espalhar-se. Por isso, o confronto com a desinformação exige sempre uma postura de análise crítica, seguindo as recomendações de fontes fidedignas e garantindo que, antes de partilhar ou aceitar um dado conteúdo, se confirme a sua veracidade.
Referências utilizadas para este artigo:
- Observador Fact Check
- Reuters Fact Check
- MIT Technology Review
- PolitiFact
- AFP Fact Check
- Organização Mundial da Saúde (OMS)
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