Foi a guerra que motivou a sessão solene de boas-vindas ao Presidente ucraniano, mas foram também guerras aquilo que Volodymyr Zelensky abriu esta quinta-feira no Parlamento. No centro de todas esteve a notada ausência do PCP no plenário, que foi alvo de críticas pela maioria dos partidos.
Apesar de não ter estado presente na sessão, a líder parlamentar comunista voltou a justificar a decisão da sua bancada. Em declarações aos jornalistas, Paula Santos defendeu que o discurso do Presidente ucraniano confirmou-se como um “ato de instrumentalização da Assembleia da República” para aumentar a escalada da guerra. Mais: condenou a referência de Zelensky à revolução dos cravos, qualificando-a como um “insulto”.
“A revolução de abril foi feita para pôr fim ao fascismo e à guerra. É um insulto esta declaração que faz referência ao 25 de abril”, disse a líder parlamentar comunista. Reafirmando que o PCP insiste na necessidade de realizar “todos os esforços no sentido da paz contra a escalada da guerra”, Paula Santos apelou à via do “diálogo” e criticou os pedidos de Zelensky de mais armamento e sanções.
RESTANTES PARTIDOS ELOGIAM EVOCAÇÃO DOS VALORES DE ABRIL
Para o PS, a evocação de Zelensky do 25 de abril tem “especial significado” pela “luta pela liberdade”. “Este é o momento de todos estarmos ao lado dos que sofrem, lutam e dão a vida pela liberdade e democracia”, sustentou o líder da bancada socialista, Eurico Brilhante Dias, ignorando a ausência do PCP.
O PSD, através do líder parlamentar, lamentou, por sua vez, a posição dos comunistas. Mas não se mostrou surpreendido, afirmando Mota Pinto que “não é a primeira vez que o PCP faz isto”, preferindo “regimes opressores” e “ditaduras”, referindo-se à Rússia.
Pelo Chega, André Ventura, criticou também as seis cadeiras vazias do PCP na sessão, falando numa “indignidade”, mas preferiu sublinhar que a “maioria dos grupos parlamentares” e do poder político demonstraram estar hoje “ao lado dos ucranianos”.
Também o PAN, que propôs a sessão solene com a participação à distância do Presidente ucraniano, lamentou que “nem todas as forças políticas de forma unânime tenham acompanhado” as boas-vindas a Volodomyr Zelensky no “momento em que invocou os valores de abril, criticando a ausência do PCP no plenário. “Devemos estar solidários e recordar que a História nos ensina que a liberdade e a democracia não são um bem garantido”, advogou.
Na mesma linha, o deputado único do Livre, Rui Tavares, elogiou a referência aos valores do 25 de abril e atacou a falta de comparência dos comunistas. “Os valores que a Ucrânia defende são os da liberdade. É incompreensível que o PCP não tenha prestado o devido respeito ao povo da Ucrânia”, vincou. E defendeu que constitui também uma “responsabilidade” ter ouvido as palavras de Zelensky, uma vez que “nos endossa” a todos a “pugnar pela unidade europeia frente a uma agressão imperialista” russa.
O líder da IL, João Cotrim de Figueiredo, preferiu elogiar o discurso do presidente ucraniano, considerando que os “sacrifícios que os ucranianos estão a fazer” na guerra com a Rússia são feitos “em nome da soberania e integridade territorial”, mas também em “nome da liberdade”. “A luta da Ucrânia é por si própria e por todos nós”, observou.
IL ABANDONA HEMICICLO EM PROTESTO
Mas, apesar de não ter tecido, desta vez, críticas diretas ao PCP, o partido assumiu uma posição clara sobre a ausência dos comunistas na sessão solene no Parlamento e a sua posição face ao conflito na Ucrânia.
A bancada dos liberais abandonou o hemiciclo esta tarde, como forma de protesto, quando o deputado comunista João Dias tomou a palavra na segunda parte do plenário, que serviu para debater a participação de Portugal na Cooperação Estruturada Permanente. Assim que o parlamentar comunista terminou a intervenção, os deputados da IL regressaram aos seus lugares no hemiciclo.
O Presidente ucraniano aproveitou esta quinta-feira a aproximação do aniversário do 25 de abril, que se comemora na próxima segunda-feira, para defender o valor da liberdade e fazer uma comparação com o país. “Vocês sabem perfeitamente o que os outros povos sentem, especialmente na nossa região, onde antes havia liberdade”, declarou Zelensky, comparando a ditadura salazarista com a falta de liberdade agora na Ucrânia por causa da invasão russa.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL