Esta edição da ‘Algarvia’, originalmente agendada entre 17 e 21 de fevereiro, e que estará na estrada entre quarta-feira e domingo, prometia: o quatro vezes vencedor do Tour, Chris Froome, tinha escolhido a prova para estrear-se com as cores da Israel Start-Up Nation, Vincenzo Nibali, vencedor das três ‘grandes’, ia começar aí a sua temporada, havia 25 equipas inscritas, 14 das quais do WorldTour (agora, são metade) – a organização até foi ‘obrigada’ a rejeitar pedidos de convites internacionais.
Contudo, a pandemia, e o disparar do número de infetados e mortos em Portugal em janeiro, no pico da terceira vaga, trocou as voltas à mais prestigiada corrida nacional, ‘forçando’ a um adiamento para novas datas, pouco convenientes para a captação das principais estrelas do pelotão, ‘entretidas’ entre o rescaldo da Volta à Romandia – que terminou no domingo -, o início do Giro – no próximo domingo – ou os estágios (em altitude) de preparação para o Tour.
Assim, quando as bicicletas começarem a rolar em Lagos, na quarta-feira, entre os 175 ciclistas de 25 equipas não se vislumbrarão ‘voltistas’ com currículo nas três grandes Voltas, nem Remco Evenepoel, o prodígio belga que venceu a edição do ano passado, ainda antes de uma prolongada paragem do calendário velocipédico devido à pandemia, mas lá estará Sam Bennett, o irlandês que, em 2020, se afirmou como o melhor ‘sprinter’ do pelotão.
Vencedor da emblemática camisola verde (regularidade) – e de duas etapas – na Volta a França do ano passado, o ciclista da Deceuninck–QuickStep estará no Algarve para perpetuar a senda vitoriosa da equipa belga na prova nacional, fazendo-se acompanhar de Fabio Jakobsen, o holandês que em 2020 deu nas vistas ao conquistar a primeira etapa e a camisola por pontos da ‘Algarvia’, antes de sofrer uma violentíssima queda na Volta à Polónia.
Depois de ter regressado à estrada na Volta à Turquia, após oito meses de paragem e de várias cirurgias de reconstrução facial, Jakobsen dedicar-se-á a trabalhar para Bennett, uma missão que, presumivelmente, também será desempenhada pelos irmãos Ivo e Rui Oliveira, em nome do líder Rui Costa.
Eterno candidato ao triunfo na Volta ao Algarve, onde já foi terceiro classificado em 2014 e acumulou lugares entre os primeiros, o campeão mundial de fundo de 2013 vai liderar a UAE Emirates e tentar melhorar o quarto posto final da última edição, embora possa ‘acusar’ o desgaste da presença na Volta à Romandia, onde foi 13.º.
Numa edição teoricamente mais ‘aberta’, sem candidatos claros à geral final, os maiores adversários do mais experiente dos portugueses da UAE Emirates poderão ser o campeão dinamarquês, Kasper Asgreen (Deceuninck-QuickStep), e o alemão Lennard Kämna (Bora-Hansgrohe), que já venceu este ano na Volta à Catalunha, sem esquecer ainda o combativo Diego Rosa (Arkéa-Samsic), José Manuel Diáz (Delko), vencedor da recente Volta à Turquia, ou o INEOS Jhonatan Narváez.
Mas o ‘joker’ desta edição da única prova da categoria ProSeries disputada em Portugal poderá mesmo vir de uma das formações portuguesas, nomeadamente da W52-FC Porto, que vai alinhar com dois algarvios vencedores da Volta a Portugal: Amaro Antunes intrometeu-se na luta de titãs no ano passado, fechando o ‘top 10’, e João Rodrigues foi nono em 2019, atrás do seu atual colega de equipa, que nesse ano corria na CCC.
Conhecedores como ninguém da serra Algarvia, onde treinam habitualmente, os dois podem surpreender e alcançar algo que nenhum português consegue desde João Cabreira em 2006: vestir a amarela final.