Desde que se navega junto às costas portuguesas que os naufrágios têm sido fonte de preocupação. Os grandes naufrágios ocorridos nos finais do século XVIII, dos quais há registos, sempre despertaram os sentimentos humanitários e deram origem a movimentos de solidariedade humana que se concretizaram com a criação de instituições particulares, cujo objectivo era o salvamento de náufragos.
Em Portugal, como a farolagem era muito deficiente, as embarcações estrangeiras andavam muito afastadas da costa e, assim, ficámos conhecidos como a “Costa Negra”. Pelo facto da navegação comercial se fazer apenas pelos portos de Lisboa e Porto, os naufrágios eram mais frequentes nestas zonas. Nesta altura, foram desenvolvidas medidas e estratégias para diminuir o número de náufragos, mas sem sucesso. O Intendente Geral da Polícia mandou publicar e distribuir gratuitamente um folheto com o título “Método de restituir a vida às pessoas aparentemente mortas por afogamento ou sufocação” e que continha, entre outras, a seguinte recomendação: “Assoprai-lhe com força os bofes por meio de fole ordinário, cuja ponta do canudo entre por huma das ventas…”, referindo-se àquilo a que hoje designamos por respiração “boca-a-boca”. No Porto, em meados de 1800, aparece a primeira embarcação salva-vidas, doada por ingleses que aí tinham interesses comerciais.
Devido aos inúmeros naufrágios ocorridos em 1829, o Rei D. Miguel ordenou criar a Real Casa de Asilo dos Náufragos, situada em São João da Foz do Douro. Em 1892, depois de um temporal na costa portuguesa que matou 105 pescadores, S. Majestade, a Rainha D. Amélia, criou o Real Instituto de Socorros a Náufragos. A 5 de Outubro de 1910, com a implantação da República, a instituição passou a designar-se apenas Instituto de Socorros a Náufragos (ISN). Segundo a Autoridade Marítima Nacional, “O ISN começou como uma organização privada, sob a égide da Marinha de Guerra, formada por voluntários” e só em 1958 passou a ser um organismo do Estado na dependência da Marinha.
Em 1902, o Ginásio Clube Português fundou, na Trafaria, uma escola de natação e, quatro anos mais tarde, organizou a primeira prova para disputar a taça D. Carlos. Surge, assim, o primeiro registo de apoio a banhistas o qual se fazia com uma embarcação que percorria a praia durante a prova.
O Manual de Nadadores-Salvadores refere que, “em 1910, foram implantados 120 postos de praia que dispunham de duas bóias grandes, duas bóias pequenas com uma retenida de 25 metros, dois cintos de salvação, uma retenida de 100 metros e um quadro explicativo dos primeiros socorros a prestar aos náufragos”. Estes postos de praia ficavam à guarda do banheiro que prestava serviço na praia.
Em 1956, realiza-se o primeiro curso de nadadores-salvadores com uma frequência de 90 alunos…
Nos anos 80, fizeram-se numerosas campanhas de divulgação na rádio e na televisão no âmbito da prevenção e surge o lema de Alexandre O´Neill: “ Há mar e mar, há ir e voltar”.
Em 1995, surgem novos meios de salvamento aquático, como a prancha e o cinto de salvamento e a famosa bóia torpedo da série Baywatch, da qual todos, certamente, se lembrarão. Em 1998, foi celebrado um protocolo entre o ISN e a Mitsubishi Motors de Portugal, através do qual se passou a usar as SeaMaster nas praias (veículos 4×4 equipados para o salvamento).
Em 2005, foi celebrado um protocolo com a Fundação Vodafone, que permitiu disponibilizar meios de prevenção e resgate como motas de água, postos de praia, mastros de sinalização e telemóveis. Em 2010, nas praias não vigiadas, surge o reforço do Corpo de Fuzileiros e um ano depois, a Fundação Vodafone lança a aplicação “Praia em directo” que permite, em tempo real, obter informação das condições meteorológicas das praias abrangidas. Em 2012, foi assinado um Memorando de Entendimento com a Sociedade de Importação de Veículos Automóveis (SIVA) com o objectivo de reforçar a segurança balnear disponibilizando diversos veículos Volkwagen preparados para a assistência a banhistas, cujo nome foi batizado por SeaWatch.
Actualmente, existem vários projectos de sensibilização ambiental e de segurança aquática, nas praias e nas escolas organizados pelo ISN, Federação Portuguesa de Nadadores Salvadores e de Associações de Nadadores-salvadores locais.
O que mais aconselho é um “Verão com Melão” com muita precaução!