O movimento comunitário de cidadania activa “Tavira em Transição” denunciou na passada quarta-feira a implementação de uma plantação de abacates num terreno entre Cabanas de Tavira e a Barra do Lacém, uma barra natural que permite a comunicação entre a Ria Formosa e o Oceano Atlântico, e que separa a Península de Cacela (praia da Fábrica) da Ilha de Cabanas.
Segundo avisa o comunicado publicado nas redes sociais, “vem aí mais abacates para o Parque Natural da Ria Formosa, em plena Reserva Ecológica Nacional”.
O movimento lamenta a falta de intervenção das entidades oficiais e pergunta “onde andam o ICNF, a CCDR, a APA, o SEPNA, o IGAMAOT, o Governo deste País, e a Câmara Municipal de Tavira?”.
“Apesar de várias denuncias a todas as autoridades competentes, contestação, intervenção da comunicação social, autos, embargos, ordens de reposição, já foram entretanto lavrados os camalhões, e colocados os tubos de rega”, alerta o movimento que afirma estar “tudo pronto para se plantar mais um exército de abacates”.
O movimento “Tavira em Transição” explica que o terreno em questão está:
Em termos de PDM: “Espaços Naturais e Culturais – Áreas de protecção natural e paisagística; Parque Natural da Ria Formosa; Pré-Parque – Parque Natural da Ria Formosa; Limite da Zona de Protecção; Limite do Parque; Reserva Ecológica Nacional”.
Em termos de REN “está em Faixa de Proteção às Arribas/Falésias”.
E que em termos de outros Programas Especiais de Ordenamento do Território está em: “Planos de Ordenamento de Áreas Protegidas (POAP); Plano de Ordenamento da Orla Costeira Vilamoura – Vila Real de Santo António (POOC); Sítio de Interesse Comunitário (SIC) da Ria Formosa / Castro Marim; Zona de Protecção Especial (ZPE) da Ria Formosa”.
Por fim, o movimento ironiza a situação com a citação de Hamlet: “Há algo de podre no reino da Dinamarca”, cuja peça de William Shakespeare indicava que “já não se tratava somente de uma vingança contra um crime, mas de algo ainda pior, algo que transgride a natureza humana”.
“Algas verdes que parecem plástico”
Um dos comentários que obteve mais interações no comunicado faz alusão ao resultado da agricultura intensiva no mar.
“Ainda não há tantas algas verdes que parecem plástico depois de secas e que muito pessoal pensa que são algas naturais e que a água do mar é saudável por essas algas estarem ali, pois ‘pobre gente’ que anda muito enganada”, lê-se no comentário.
“Aquelas algas são o resultado da agricultura intensiva sobretudo devido aos nitratos utilizados pelos ‘bravos lavradores’ a quem só interessa o ‘dinheiro fácil’, mas os filhos e netos que se desenrasquem pois o dinheiro não tem cheiro mas o esterco sim”, refere o mesmo.
E segue lamentando ao dizer que “a Europa já fez queixa, mas continua a mandar verbas, e enquanto assim for para quê modificar o sistema… o ser humano sempre precisou de paulada, sem isso não compreende o que é a Lei”.
“Enfim, quando o Algarve acabar em deserto, não sabemos para onde irão os descendentes destes irresponsáveis, tanto privados, como todo o tipo de políticos, municipais, regionais, nacionais”, concluiu dizendo que era “levá-los aos sítios poluídos para limpar à mão todo aquele esterco”.
O que é o movimento Tavira em Transição?
O Tavira em Transição afirma-se como um movimento comunitário de cidadania activa que, “através de princípios pacifistas e ecologistas, promove a transição para um futuro mais sustentável, próspero e responsável da relação do Homem com o Planeta”.
O movimento surgiu em 2011 na localidade de Tavira quando vários cidadãos “sensíveis às mais variadas questões eco-sociais se juntaram para procurar encontrar soluções a problemáticas relacionadas com o clima, com a crise económica, a vida das pessoas ou a proteção e uso sustentável dos recursos naturais”.
O movimento diz destacar-se “pelo seu espírito de união, integração e abundância criativa, assim como pelas suas características multiculturais e intergeracionais, numa dinâmica de ação comunitária e proativa, que ao longo dos anos tem contribuído para alavancar e alcançar várias vitórias ambientais e sociais na região. É o caso das causas “Algarve Livre de Petróleo” e “Cidade Romana de Balsa”, mas também da organização de vários eventos que espoletam o diálogo e a mudança na sociedade civil”.
O movimento Tavira em Transição integra a Transição Portugal, HUB português e a Transition Network.