A morte da rainha Isabel II faz esta sexta-feira manchete em jornais em todo o mundo.
No Reino Unido, toda a imprensa recorda o papel da monarca na definição do que é hoje o país. Alguns jornais chamam-lhe mesmo “a mãe da Nação” e agradecem os 70 anos de serviço prestados ao país.
Estas são palavras que se repetem também nas principais publicações no resto do mundo.
Jornais e canais de televisão britânicos só têm um assunto e estão claramente de luto. A distância ou neutralidade que é suposto manterem relativamente aos assuntos que abordam foram suspensas para chorar a morte de Isabel II. Mesmo que as palavras sejam discretas, a mensagem é clara: o país está órfão.
A capa do número duplo que a revista “Time” agora lança pela morte da rainha Isabel II resume o sentimento dos editoriais da maioria das publicações britânicas e anglo-saxónicas. O retângulo ao alto da primeira página é ocupado por uma fotografia da rainha nos seus 50 anos, o corpo está coberto por uma capa preta comprida sobre um fundo azul ciano claro, vagamente esbatido. Isabel II olha para a direita, não diretamente para ninguém, e ao contrário da atenção que dispensava a cada pessoa que com ela se cruzou.
Depois da morte da monarca, parece restar um simulacro de conforto na eternidade e na escolha das palavras que fazem os jornalistas responsáveis pelos editoriais: “A Rainha era o modelo da monarquia constitucional”, escreve a revista “The Spectator”. “Rainha Isabel II, a nossa notável monarca”, “Sua Majestade redefiniu uma instituição, realizou bons atos e discretamente inspirou milhões”.
Para milhões, a rainha estava no trono desde sempre. Era um garante, a tradição, a pedra, a constância, o fator de união que é agora expresso em centenas de títulos contidos, porém indisfarçavelmente elogiosos e reconhecidos.
Isabel II atravessou décadas de guerra e de paz, um século de serviço público e de profissionalismo que lhe é reconhecido com admiração não reprimida. Noutro texto desta publicação britânica lê-se ser testamento do sucesso da rainha no seu papel o facto de o “republicanismo não ter chegado a ter alguma discussão séria na vida social ou intelectual britânica nos últimos 70 anos”.
“É um momento como nenhum outro nos últimos 70 anos, a morte de um monarca” no Reino Unido, lê-se no editorial da Sky News. “A morte da rainha vai abalar profundamente este país — ela era um centro firme num fluxo constante”, escreve o jornal “The Guardian”. A sua dedicação ao serviço público é sublinhada desde os tempos da II Guerra Mundial, em que colaborou para o esforço de guerra como mecânica.
A escolha das citações da rainha pelos jornais testemunha um misto de ternura e de reconhecimento que atravessa a maioria das manifestações de pesar. “Ela era o espírito da Grã-Bretanha e esse espírito vai permanecer”, disse a primeira-ministra Liz Truss, nomeada apenas há dois dias pelo famoso aperto de mão.
“Pode-se fazer muito quando se é bem treinado. E eu espero ter sido bem treinada”, disse Isabel II numa ocasião, citada pelo jornal “The Times”.
A “estadista de dignidade sem igual” foi reconhecida pelo casal Biden, do outro lado do Atlântico, que lembrou a sua “solidariedade nos momentos mais negros”, referindo-se ao 11 de setembro de 2001. O Presidente americano e a mulher lembraram a monarca que reinou, ainda que ao longe, sobre 14 países além do Reino Unido, entre os 56 que fazem parte da Commonwealth, por si presidida e que reúne 2500 milhões de pessoas.
A “presença constante num mundo em mudança” é o valor evocado esta quinta-feira pela BBC. Sete décadas de reinado são a eternidade para muitos humanos que hoje choram.
- Texto: Expresso com SIC Notícias, jornal e televisão parceiros do POSTAL