Olga fugiu da guerra. Primeiro, de Luhansk para a região vizinha de Kharkiv (Carcóvia), no nordeste da Ucrânia, por causa da guerra civil entre ucranianos e separatistas pró-russos. Dessa vez a viagem foi curta. Agora, aos 35 anos, atravessou a Europa de Kharkiv até Setúbal para fugir a mísseis, tanques e soldados russos.
Olga, que prefere não dar a cara e reservar o apelido, mostra o telemóvel com as fotografias nos abrigos, nas viagens de comboio, no refúgio na Polónia. Chegou a Portugal a 19 de março com as duas filhas, de seis e oito anos.
Fugida dos russos, quando foi ao gabinete de apoio aos refugiados da Câmara de Setúbal estranhou ser recebida por russos, que lhe falaram em russo: “Perguntaram-me onde estava o meu marido e o que tinha ficado a fazer”, contou ao Expresso durante uma conversa nos arredores de Setúbal. Fotocopiaram-lhe os documentos: o passaporte e a certidão das crianças. Hoje tem medo.
O mesmo receio é partilhado por outros refugiados em Setúbal, testemunhou o Expresso esta semana. A autarquia, comunista, liderada por André Martins, criou a Linha Municipal de Apoio aos Refugiados — LIMAR, com gabinete no Mercado do Livramento, no centro da cidade, e que há um mês já tinha atendido 160 ucranianos.
Foi lá que Olga encontrou Igor Khashin, um dos líderes da comunidade russa em Portugal, e a mulher, Yulia Khashina, funcionária da câmara setubalense, admitida como jurista nos serviços da autarquia em dezembro, depois de um concurso público.
Yulia era quem “traduzia a conversa do russo para a funcionária que tirou as fotocópias”, conta Olga. “Igor estava ao computador.” Mas não é funcionário da autarquia. Os documentos tinham as moradas da família, a filiação e o nome do marido.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL