Esta é a terceira vez que condenações são anuladas em casos que envolvem Derek Ridgewell, um polícia que serviu na força policial da Rodésia do Sul, hoje Zimbabué, e que morreu na prisão, em 1982, vítima de ataque cardíaco, quando cumpria pena por conspiração para roubo de malas de correio.
Os três homens inocentados, Courtney Harriot, Paul Green e Cleveland Davidson, tinham idades entre os 17 e os 20 anos quando foram detidos, em fevereiro de 1972, no metro de Londres, à saída da estação de Stockwell, situada no sul da capital.
Acusados de tentar roubar Derek Ridgewell, o trio e outros três amigos, rebatizados como “Stockwell Six” (“Os seis de Stockwell”), foram condenados em grande parte graças às acusações do polícia. Apesar de se terem declarado inocentes e queixado de terem sido ameaçados e maltratados, todos os “Stockwell Six”, exceto um, foram condenados e mandados para a prisão ou para um centro de detenção de menores.
O caso voltou a ser analisado pelo Conselho de Revisão de Assuntos Penais e enviado ao Tribunal de Recurso para que as condenações voltassem a ser examinadas, o que acabou por absolver Harriot, Green e Davidson. Ao anunciar a anulação das condenações, o juiz Julian Flaux considerou “muito lamentável que se tenha demorado quase 50 anos.
Em declarações no tribunal, Cleveland Davidson, que tinha 17 anos na altura da detenção, disse que o caso “arruinou” a sua vida e que a decisão do Tribunal de Recurso “é o reconhecimento” de que eram “inocentes na altura”.
“Foi uma fachada, uma emboscada para nada. Afetou-me durante 50 anos, nunca mais fui o mesmo. A minha família não acreditou em mim, ninguém acreditava em mim”, acrescentou em declarações após a sessão, qualificando Derek Ridgewell como um “polícia desonesto e malvado” e interrogando-se acerca do número de vítimas que poderiam existir, já que o alvo do polícia eram jovens homens negros.
Winston Trew, um homem que também foi condenado por tentativa de roubo em 1972 e cuja sentença foi anulada pelo Tribunal de Recurso em dezembro de 2019, afirmou estar “muito satisfeito”. “A minha investigação foi justificada”, declarou, em referência ao livro que escreveu, “Black For A Cause… Not Just Because…” (“Negro Por uma Causa… E Não Só Porque Sim”, em tradução livre), onde descreve os numerosos “golpes montados” por Derek Ridgewell. O livro tinha sido usado noutro caso para anular uma condenação baseada nas declarações do polícia.
O chefe adjunto do departamento onde Derek Ridgewell trabalhou, a polícia de transportes britânica, Adrian Hanstock, emitiu um “sincero pedido de desculpas pela angústia, ansiedade e o impacto causado aos injustamente condenados”. Hanstock acrescentou que, depois de “examinar todos os registos disponíveis” das investigações em que Ridgewell era o agente principal, a polícia “não identificou nenhum caso adicional” que acreditam que “deva ser objeto de investigação interna”.