Foi na quinta-feira que o Governo espanhol, através do Instituto das Mulheres, lançou uma campanha com uma imagem que mostra mulheres com diferentes tipos de corpos e idades (incluindo uma mulher de peito nú após uma mastectomia) na praia e a frase “O verão também é nosso”.
A campanha foi lançada e promovida nas redes sociais pelas ministras que fazem parte do partido “Podemos”, que integra a coligação de esquerda que governa em Espanha, com frases e mensagens como “todos os corpos são de praia” e a denúncia da “violência estética” de que são alvo, sobretudo, as mulheres, com os anúncios publicitários, por exemplo, a insistirem frequentemente em “estereótipos”, nos chamados “corpos de biquíni” ou na “operação biquíni”, condicionando estes conceitos a um padrão corporal.
A ministra que tutela o Instituto das Mulheres é Irene Montero, que tem a pasta da Igualdade no Governo, e que se transformou no principal alvo das críticas e ridicularizações nas redes sociais após a divulgação da campanha.
A etiqueta #IreneMonterodemite (“Irene Monteiro, demite-te”) entrou nas tendências da rede social Twitter em Espanha na quinta-feira, horas depois do lançamento da campanha, com mensagens de ódio contra a ministra e a garantia de que tinha gastado 84 mil euros (o que foi negado oficialmente) com uma iniciativa “desnecessária” porque “as gordas sempre puderam ir à praia” sem necessidade da “autorização da ministra”.
Entretanto, surgiu uma polémica paralela porque duas das mulheres que surgem na imagem da campanha, reproduzida na imprensa internacional, são modelos que garantiram não ter dado autorização para a sua utilização.
A autora da campanha já se desculpou perante as modelos, que já as contactou e com quem vai dividir as receitas do contrato com o Governo espanhol, que teve um valor de 4.500 euros.
Passado o auge da polémica, defensores da campanha, dentro e fora das redes sociais, consideram que as reações que gerou a iniciativa são a prova de que é mesmo necessário insistir na mensagem que queria transmitir, ou seja, de aceitação do corpo.
E que aquilo que a campanha pretendia denunciar e combater existe mesmo: “a gordofobia” e “a violência estética”.
Foi isto mesmo que afirmou na sexta-feira a secretária de Estado da Igualdade, Angela Rodriguez, para quem os milhares de insultos e mensagens de ódio que se seguiram ao lançamento da campanha demonstram que “há um problema” e que estas iniciativas são necessárias.
“Continua a incomodar que as mulheres gordas tenham espaços de visibilidade e por isso é importante começar a fazer política com esta questão”, disse a secretária de Estado, em declarações à agência de notícias EFE.
Para Angela Rodriguez, está em causa uma “discriminação estrutural”, que afeta “mulheres gordas ou homens carecas”.
“É preciso abrir este debate porque a diversidade corporal não é aceite. Onde estão as pessoas gordas? Não sabem ser apresentadoras de televisão, não sabem ser políticas?”, questionou.
A secretária de Estado alertou que “a violência estética” ou a “gordofobia” estão na origem de problemas graves, como distúrbios alimentares ou questões de saúde mental, o que também denunciaram muitas mulheres que participaram na polémica gerada nas redes sociais e que contaram as suas próprias experiências.
“Temos de assinalar que todos os corpos são válidos e que são necessárias campanhas de sensibilização neste sentido”, sublinhou a secretária de Estado, que assegurou que esta campanha foi apenas a primeira de várias iniciativas do Ministério da Igualdade neste âmbito.