Em junho do ano passado, um pescador salvou uma tartaruga de morrer afogada perto das margens do Rio Guadiana, no Azinhal. E porque havia o risco de esta desenvolver uma pneumonia por aspiração (por ter ficado presa nas redes e poder ter, inadvertidamente, inalado água), Ricardo Gonçalves solicitou à equipa de especialistas do Porto d’Abrigo do Zoomarine que a recolhesse, para observação, tratamento e posterior devolução ao meio selvagem.
Treze meses volvidos, a tartaruga-comum regressa ao mar, numa renovada cooperação entre o Zoomarine e a Marinha Portuguesa, “honrando o nobre esforço de um pescador que soube ter agilidade, visão, coragem e empatia”, salienta .
A tartaruga marinha, entretanto baptizada de Salina, é um exemplar da espécie Caretta caretta, a mais comum nas águas portuguesas, é uma espécie protegida, que urge defender da possível extinção. Chegou ao Porto d’Abrigo com 63 cm e 38,7 kg, e vai regressar maior (67 cm) e bem mais pesada (51,8 kg).
“Não tão incomum foi o anzol que um raio-X detectou cravado quase à entrada do estômago desta tartaruga”, explica o Zoomarine em comunicado, acrescentando que “várias tentativas realizadas pelo Dr. José Sampayo, um especialista internacional em endoscopia zoológica, revelaram-se infrutíferas para remover, com segurança, o dito; no entanto, como o evento já é antigo e o anzol já está totalmente envolvido em tecido, assumiu-se que o mesmo já não representa perigo e que, com o tempo, se desintegrará”.
Entretanto, chegou a altura de a Salina regressar ao mar. A devolução terá lugar a bordo do NRP Cassiopeia, que largará às 08:30, no Cais Comercial de Faro, e com destino às 12 milhas náuticas (22 quilómetros) a sul.
“E como de banal a história da Salina pouco tem, também o seu regresso será pouco tradicional – porque acoplado à sua carapaça estará um equipamento (KiwiSat Argos) que, se tudo decorrer como previsto, nos permitirá acompanhar, ao longo dos próximos 425 dias, aproximadamente, a sua progressão pelos mares deste planeta”, avança o parque aquático de Albufeira.
“Decerto que esta será a melhor forma do seu salvador, Ricardo Gonçalves, acompanhar a tartaruga que ajudou a salvar e que para sempre lhe será especial”, observa.
“Graças à generosidade e sensibilidade de um pescador do Azinhal, e à equipa multidisciplinar dos seus cuidadores zoológicos, a partir de agora a Salina pode voltar a tentar cumprir o seu destino – a bem da sua espécie e do nosso Planeta…”, conclui o Zoomarine.