A 8 de dezembro de 1930, Vanda Semyonovna Obiedkova, uma judia ucraniana, nasceu em Mariupol. Tinha apenas dez anos quando, em outubro de 1941, as forças nazis entraram na sua cidade natal e começaram a perseguir os judeus — estima-se que entre 9 mil e 16 mil tenham sido executados em Mariupol durante a Segunda Guerra Mundial.
A mãe foi uma das vítimas, quando foi capturada pelas SS na casa da família, mas a menina conseguiu esconder-se na cave. “Ela nem conseguia gritar, foi isso que a salvou”, conta a filha Larissa. Alguns dias mais tarde, Vanda acabou por ser detida pelos alemães, mas amigos da família conseguiram convencer os nazis de que a rapariga era de origem grega. Foi assim que Vanda Obiedkova sobreviveu ao Holocausto, até Mariupol ter sido libertada em 1943.
Em 1954, casou em Zhdanov, como era conhecida Mariupol durante o domínio soviético. Apesar de todo o horror a que assistiu, nunca abandonou a cidade durante a sua longa vida.
“A mamã amava Mariupol. Ela nunca quis ir embora”, narra a filha Larissa ao jornal “Chabad”.
Oitenta e um anos depois do massacre nazi, Vanda Obiedkova viu novamente a cidade ser invadida e completamente arrasada, desta vez pelo exército russo, o mesmo a quem Putin deu como missão “desnazificar” a Ucrânia e que acabou por ser o responsável direto pela morte desta judia de 91 anos.
Desde que os bombardeamentos se tornaram uma rotina em Mariupol, Vanda passou a sobreviver escondida num abrigo com a filha, enquanto implorava por água que não havia, por algum tipo de luz que nunca mais viu, por alguma coisa que a aquecesse antes de morrer enregelada.
“Porque é que isto está a acontecer?”, perguntava, assustada, cada vez mais doente, já sem forças para se levantar. Assim foram as últimas duas semanas de vida de Vanda Obiedkova, antes de sucumbir a 4 de abril. “A mamã não merecia uma morte assim”, diz, entre lágrimas, Larissa, a filha que, impotente, esteve sempre ao seu lado até ao último suspiro.
Com a cidade debaixo de fogo, Larissa e o marido arriscaram as suas vidas para enterrar o corpo de Vanda num parque público de Mariupol, a menos de um quilómetro do mar Azov.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL