Nila, a mulher de Roman Ishchenko, já estava em Portugal quando soube que o marido tinha sido detido pelos russos a 19 de abril. Quatro meses depois a família aguarda as respostas colocadas por um advogado que trabalha pro buono na Ucrânia, enquanto procura um advogado na Rússia.
Tudo indicia que a situação de Roman Ishchenko seja particularmente complexa: “A profissão do meu pai é transportar e entregar documentos da administração ucraniana”, contou a sua Aleksandra ao Expresso em abril. Na Ucrânia, “esta tarefa é feita por militares, não por correio normal”, acrescentou a filha.
Em declarações à Human Rights Watch, Tamila Tasheva, representante permanente do presidente ucraniano na Crimeia, diz que “não há condições para ter um número exato de desaparecimentos forçados na zona de Kherson”, mas sabe-se que há pelo menos 600 desaparecidos desde 24 de fevereiro.
DETIDO EM CASA NA PRESENÇA DA MÃE
Uma semana depois de Roman ser detido, o Expresso falou com a mulher e a filha que, a partir de Lisboa, pediram à comunidade internacional para prestar “atenção à violação dos direitos humanos em Kherson, que é uma cidade ocupada. Pedimos à Cruz Vermelha, à ONU e a outras organizações que ajudem na libertação de prisioneiros, em particular de Roman Ishchenko, que foi detido ilegalmente por soldados russos”.
Quatro meses mais tarde, Nila continua em Portugal, sem qualquer informação sobre o paradeiro do marido, e o seu estado de saúde. Apenas sabe o que já sabia em abril, ou seja que Roman foi detido em Kherson, na casa do casal, e na presença da sua sogra, mãe de Roman.
Kherson, é uma cidade portuária no Sul da Ucrânia, que tinha 300 mil habitantes quando foi invadida pelos russos, no primeiro dia do conflito, a 24 de fevereiro. Neste mesmo dia, Nila, 51 anos, deixou o emprego de contabilista, a casa, o cão, os sogros e o marido, e partiu de carro com a filha mais velha e os dois netos.
Um relatório da organização Human Rights Watch (HRW) (publicado a 22 de julho), reporta “a detenção e desaparecimento forçado de civis nas áreas ocupadas de Kherson e Zaporijia”. A cidade de Kherson fica a 230 quilómetros do Zaporijia, o que a coloca em risco acrescido em caso de acidente na central nuclear.
A HRW recolheu depoimentos de 71 habitantes de Kherson, Melitopol, Berdyansk, Skadovsk e outras cidades e vilas nas regiões de Kherson e Zaporijia: “A mulher de um homem detido pelas forças russas durante quatro dias, denuncia o espancamento do marido com uma barra de metal, e a aplicação de eletrochoques”.
Nila vai continuar em Lisboa, ainda sem trabalhar – “não trabalho porque não sei falar português” – e sem (as desejadas) informações sobre o destino do marido.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL