Passados cinco anos de trabalhos profundos de reabilitação, a Igreja Matriz de Loulé reabriu este sábado de “cara lavada” e com melhores condições de conforto e segurança, não só para a comunidade católica que frequenta o espaço, mas também para os turistas que visitam o centro histórico da cidade de Loulé e que têm aqui um ponto de paragem obrigatória, informou hoje a autarquia.
Neste dia de festa para os louletanos, a secretária de Estado da Cultura, Isabel Cordeiro, veio até ao Algarve para ver o trabalho realizado neste edifício datado do século XIII, classificado como Monumento Nacional, e que constitui um dos principais testemunhos do período Gótico na região. Em representação da Igreja esteve o Bispo do Algarve, Manuel Quintas, no dia em que celebrou o 22º aniversário da sua ordenação episcopal, juntando-se ainda à cerimónia o louletano António Carrilho, Bispo Emérito do Funchal, que mantém fortes laços a este território e a esta “casa”.
Numa iniciativa do Município de Loulé que passou por várias fases – primeiro a reabilitação dos retábulos e altares, seguindo-se a recuperação do pórtico e finalmente os trabalhos na estrutura que obrigaram ao encerramento do local – esta intervenção, com projeto da autoria do arquiteto Vítor Mestre, foi realizada no “momento limite” até porque como explicou o autarca Vítor Aleixo esta igreja estava em risco de colapso. “Estava a degradar-se silenciosamente, lentamente mas inexoravelmente. Dentro de algum tempo já não teríamos a integridade dos altares e já não seria possível recuperá-los. Foi uma intervenção feita no limite, mas decidida em boa hora”, explicou o presidente da Câmara de Loulé, entidade que financiou a obra orçada em cerca de um milhão e cem mil euros.
Espaço de memória, mas também de afetos e sentimentos, elemento identitário, a Matriz de Loulé vive a partir de agora um novo ciclo na sua vida, depois “de uma Intervenção capital, de A a Z”. “Fica aberto ao culto e fica também aberto à visitação turística, a todos aqueles que vêm a Loulé e procuram conhecer o seu património porque este é também um espaço riquíssimo do ponto de vista da sua representação, da arquitetura, dos altares, dos estilos. Tudo isso é motivo de atração de turistas e foi também a pensar neles que esta intervenção foi feita”, recordou Vítor Aleixo.
A reabilitação deste edifício faz parte de uma linha política de orientação estratégica apostada na valorização e na recuperação do património, “de uma forma consistente e com um olhar estratégico para o futuro”. “Loulé tem tido a sorte dos últimos ciclos políticos da Câmara terem sido governados por pessoas que sempre tiveram o cuidado de valorizar o património mas, nos últimos anos, acelerou-se francamente”, disse o responsável municipal, enumerando alguns dos exemplo como a recuperação do Palácio Gama Lobo ou, logo em frente, o trabalho de requalificação levado a cabo no Solar da Música Nova para instalação do Conservatório de Música de Loulé Francisco Rosado, para o qual o autarca antevê já uma possível “ampliação do espaço”. O edil considerou ainda os projetos “muito ambiciosos” como o Quarteirão Cultural no centro histórico da cidade ou a recente abertura dos Banhos Islâmicos/Casa Senhorial dos Barreto.
E foi, de resto, este o espaço que a secretária de Estado da Cultura visitou antes de participar na reabertura da Igreja Matriz. As palavras desta responsável com a tutela do património foram também para o “trabalho meritoso” do Município de Loulé na área da Cultura “que deve servir de exemplo de boas práticas ao levar em conta harmoniosamente a tradição e a modernidade, colocando o foco nas pessoas e no território para alcançar o desenvolvimento sustentável”.
Quanto a esta reabilitação sublinhou “a importância artística e patrimonial de uma igreja que apresenta notáveis testemunhos da evolução histórica e das sucessivas camadas construtivas e ornamentais, do século XIII aos finais do século XVIII, mas também o que representa enquanto elemento agregador das pessoas e das comunidades”.
O anfitrião da cerimónia, o padre Carlos Aquino, falou da alegria para a comunidade católica de Loulé da reabertura depois de um longo tempo de portas fechadas “desta bela e grandiosa casa onde se aviva a memória de uma história, de uma cultura e de um povo crente”. O pároco evocou o simbolismo da igreja enquanto espaço de representação humana do divino, lugar e assembleia, local de reunião e celebração. “Construir ou reconstruir uma igreja exige sempre que se desenhe e promova esta identidade. O espaço litúrgico, a casa da Igreja é um lugar simbólico na medida em que a sua linguagem nos fala de outra realidade: a do mistério de Cristo significativamente presente na mesa do sacrifício – altar – e no ambão, lugar para a proclamação da palavra”, aludiu o prior.
Neste dia outra das novidades foi a abertura do espaço museológico da Igreja Matriz, numa ala lateral do edifício. Este espaço visitável conta com duas salas: uma dedicada ao cerimonial que envolve a Eucaristia e o Batismo, onde é possível ver elementos como livros litúrgicos, a cruz processional e ciriais, duas custódias ou alguns paramentos; e uma outra onde está patente uma exposição dedicada ao culto da Mãe Soberana e onde se destaca o manto e as coroas da Nossa Senhora da Piedade.
Área envolvente sem carros e com projeto
O presidente da Câmara de Loulé anunciou que a partir deste sábado a circulação e estacionamento automóvel no Largo da Matriz será condicionado apenas com acesso a moradores e viaturas de emergência. “Aproveitámos esta oportunidade para libertar este largo dos carros. Não podemos gastar tanto dinheiro do erário público municipal a recuperar o património e depois deixar que os carros, sem qualquer regra nem disciplina, tirem o brilho”, explicou.
Numa altura em que existe já um projeto, da autoria do arquiteto Gonçalo Byrne, para a requalificação do largo e envolvente da igreja, o autarca adiantou que essa intervenção poderá ser o próximo passo para a valorização do Centro Histórico de Loulé.