Jorge Botelho, presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve, é claro “a AMAL não foi até ao momento contactada pela Refer sobre quaisquer projectos de obras na linha do Algarve, nem foi contactada para acompanhar o presidente da Refer na visita que terá feito à linha do Algarve recentemente”.
A resposta dada ao POSTAL vem no seguimento da visita que o presidente da empresa responsável pela infra-estrutura ferroviária nacional fez à região, na passada semana, onde anunciou investimentos de 120 milhões de euros na ferrovia regional (VER).
Para Jorge Botelho, “tratou-se de uma visita para anunciar obras na linha do Algarve para o horizonte 2016 – 2021, que são positivos mas que até ao momento não têm qualquer contributo da estrutura representativa das autarquias da região”, a AMAL.
O também autarca de Tavira afirma “desconhecer qualquer estudo ou projecto que a Refer esteja a utilizar para definir as intervenções a realizar na linha do Algarve” e não compreende que uma intervenção desta importância possa ser feita à revelia de uma consulta prévia aos municípios que são, afinal, quem mais de perto conhece as necessidades das populações da região.
CCDR também não tem informação
Por outro lado, o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve confirmou ao POSTAL que até à passada segunda-feira “não tinha conhecimento directo de nenhuma das intenções da Refer em termos concretos”.
Muito embora o presidente da Refer afirme que vai ouvir as autarquias da região no processo de requalificação da linha do Algarve, certo é que até ao momento as decisões da Refer ignoram por completo os poderes regionais e parecem remeter a respectiva intervenção para um momento em que a empresa já terá ideias concretas do que quer fazer.
Esta é uma realidade que pode pôr em causa a eficiência das decisões a tomar face às necessidades das populações e uma intervenção deste relevo na ferrovia não é compaginável com outra situação que não a da integração plena e permanente de todos os decisores políticos algarvios no planeamento dos projectos e obras.
Refer já tem decisões
A falta de sinergias entre a Refer e os poderes locais e regionais é já notória, com o presidente da Refer a afirmar à Agência Lusa que não estão equacionadas nenhumas variantes ao actual traçado da linha do Algarve.
A existirem alterações estruturais não serão desvios para aproximar ou afastar a linha dos seus percursos actuais, mas sim “a eventual relocalização de algumas estações no Algarve, o que passa por criar novas e abandonar outras mais antigas”, acrescentou Rui Loureiro, lembrando que a linha do Algarve foi criada há mais de 100 anos”, refere o responsável.
Numa primeira fase avança a electrificação da linha, diz o titular da Refer, esclarecendo que “os trabalhos devem iniciar-se em 2016, estando a sua conclusão prevista para 2019”. A mesma bitola será seguida para a intervenção ao nível da sinalética e sistemas de gestão de tráfego.
A electrificação atingirá a totalidade dos troços ainda não electrificados que ligam Tunes a Lagos e Faro a Vila Real de Santo António.
Aeroporto terá comboio em 2012
Para 2021 está prevista a conclusão do ramal de ligação ao Aeroporto de Faro, que permitirá a circulação de mercadorias e passageiros desde e para a principal porta internacional de comunicação do Algarve, uma obra que se entronca com a plataforma logística de Loulé.
O início das obras para a concepção do ramal para o aeroporto só está previsto para 2017, e só esta obra está orçada em mais de 60 milhões de euros.
A electrificação da linha do Algarve vai permitir que os comboios utilizados passem todos a ser eléctricos, possibilitando que atinjam maior velocidade e que sejam mais frequentes, em termos de horários, o que resultará numa melhoria do serviço, perspectivou o presidente da Refer, que percorreu a linha regional numa viagem de reconhecimento da realidade no terreno.
Assumindo que a linha necessita de algumas correcções, Rui Loureiro observou, contudo, que a plataforma “está bastante razoável” e a colocação de sinalização é prioritária para garantir a segurança dos comboios e maior pontualidade.
Entretanto, resta esperar que as autoridades regionais e locais não sejam tardiamente confrontadas com projectos fechados e convidadas a pronunciarem-se formalmente sobre uma matéria fundamental, deixando-lhes apenas o espaço de manobra necessário para contestarem decisões já tomadas nos corredores de outros poderes.