Os produtores portugueses de flores e plantas alertaram hoje que estão a “deitar ao lixo toneladas de plantas” devido à “estagnação quase total das vendas” causada pela pandemia da covid-19.
“Estimamos que 2,5 milhões de plantas e flores estão a ir para o lixo porque a vendas estão estagnadas. Há mais de 15 dias que as encomendas foram quase todas canceladas, e as toneladas que tínhamos produzido são para deitar fora”, lamentou Victor Araújo, presidente da Associação Portuguesa de Produtores de Plantas e Flores Naturais (APPPFN), à Agência Lusa.
Além das dificuldades para pagar os investimentos feitos, o dirigente afirmou que já há muita incerteza na capacidade das empresas pagarem aos seus trabalhadores, num setor que emprega, diretamente, mais de 5 mil pessoas, de norte a sul do país.
“Somos o setor agrícola que no ano inteiro mais mão-de-obra emprega, porque são processos muito manuais. Já tivemos de mandar muita gente para casa porque não há trabalho. Não queremos abandonar ninguém, mas não sei como no final do mês vamos fazer pagar despesas, porque estamos quase sem faturar”, desabafou o líder da APPPFN.
Victor Araújo diz que a atividade das empresas do setor representar um valor de negócios a rondar os 700 milhões de euros, e com uma forte vocação para exportação, que também estagnou.
“No caso das flores, 30 % é para exportação, mas nas plantas de vazo representa é 70%, e para mercados como Itália, Espanha, França e Reino Unido, que estão numa situação ainda pior que Portugal”, acrescentou.
A crise instalou-se precisamente na primavera, altura em que, naturalmente, a produção de flores e plantas entra no seu pico, e necessita de tratamentos para se desenvolver.
“É uma quebra quase de 100 %, porque as pessoas deixaram de comprar flores. O problema é que temos de continuar a fazer os tratamentos fitossanitários às culturas instaladas, mas sem certeza se vamos conseguir vender”, explicou Rui Algarvio, proprietário de uma exploração na zona centro, com cerca de 20 hectares.
O empresário emprega cerca de 50 pessoas, mas perante a ausência de faturação não sabe com será possível manter os postos de trabalho.
“Se fosse uma quebra de 20 ou 30 % ainda conseguimos aguentar, mas assim é uma incerteza. Os custos são diários, porque ainda pensamos numa retoma a tempo de vender, no verão, algumas coisas que temos cultivado”, partilhou Rui Algarvio.
Mais a norte, na Póvoa de Varzim, no distrito do Porto, a situação é semelhante, mas agudizada por se tratar de pequenas empresas familiares, que igualmente sem vendas já pensam em adaptar a sua atividade.
“Somos quatro na família a viver deste negócio, e já estamos a deitar muitas flores para o lixo porque ninguém as compra. Continuando assim, vamos ter de nos virar para horticultura, porque, pelo menos, os legumes as pessoas têm de consumir”, partilhou à Esperança Moreira, à Agencia Lusa.
A produtora, que também vende numa loja própria, aponta que “com os cemitérios fechados e a Páscoa praticamente sem comércio, o ano ficará quase perdido”, contando “com uma pequena retoma apenas em novembro, por altura do Dia de Todos os Santos”.