Desde o início da pandemia que a perda de olfato e de paladar, bem como certas formas de “nevoeiro” mental, foram identificados como sintomas frequentes em muitas pessoas que contraíram covid-19. A explicação, até agora, permanecia largamente um mistério. Uma pista acaba de surgir num estudo pre-print – isto é, ainda não submetido ao processo de ‘peer-review’ que as publicações científicas de referência exigem) – mas cujas conclusões sites como o news-medical.net descrevem como alarmantes.
Em pessoas que tiveram a doença, houve claramente perdas de massa cinzenta em zonas do cérebro associadas ao olfato e ao paladar, e também às função cognitiva e às memórias associadas a situações emocionais.
O estudo, publicado no site publicado no site medRxiv, foi realizado através do UK Biobank, uma grande base de dados genéticos e de saúde onde constam informações de meio milhão de pessoas, que tinha realizado testes de imagiologia a cerca de 40 mil voluntários antes da pandemia.
Dessas pessoas, centenas foram convidadas a participar no novo estudo. No final, os participantes seriam 782, divididos em dois grupos: Um dos grupos, com 394 participantes, era constituído por sobreviventes da doença. O outro, com 388 pessoas que não a contraíram, era o grupo de controle.
A ligação causal ainda é clara
Entre os membros do primeiro grupo, “Identificámos efeitos significativos da Covid-19 no cérebro, com a perda de massa cinzenta”, escrevem os autores do estudo. Embora a maioria dos participantes tivesse reportado apenas sintomas relativamente ligeiros (ou total ausência de sintomas, nalguns casos), o efeito era transversal. “Todos os resultados significativos foram encontrados nas áreas corticais olfativas e gustativas primárias e secundárias”, diz o estudo.
Por responder ficam questões essenciais: se a perda de massa cinzenta foi consequência direta de uma entrada do vírus no cérebro ou de outros efeitos da doença, se os danos resultantes se prolongarão no tempo, e que implicações isso poderá ter para funções cognitivas e outras no futuro.
Segundo J. D. Mukherji, citado no economictimes.com, as implicações neurológicas da covid-19, que podem incluir, além dos sintomas já referidos, para paralisia cerebral, AVCs, fraqueza dos membros, epilepsia, e outros, verificam-se com frequência.
Outras partes do corpo afetadas
Notando que “as complicações pós-covid-19 afetam tanto o sistema nervoso central como o periférico” e que os mecanismos patológicos envolvidos ainda estão por determinar, Mukherji instou os sobreviventes de covid-19 a consultarem um neorologista no caso de terem sintomas aparentemente inexplicáveis desse tipo.
Em março, a cientista principal do UK Biobank, Naomi Klein, contou à BBC que um estudo sobre os efeitos da covid-19 a longo prazo ia comparar informação de sobreviventes antes e depois da doença. “Soubemos desde o início da pandemia que a covid-19 era largamente uma doença respiratória, e agora também sabemos que também parece afetar outras partes do corpo – o coração, o fígado, os rins, e mesmo o cérebro”.
Ao longo dos próximos meses e anos, novos estudos realizados com base nessas comparações devem contribuir para entender outros efeitos de uma doença ainda mal conhecida em muitos aspetos.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso