Estava eu a pensar em política, exercício contrário à boa disposição, revendo a minha consideração por um partido político, gafo de incompetentes e oportunistas, com medo de serem de esquerda e com vergonha de dizerem que são de direita, simples oportunistas, minando o seu próprio partido. Fico perplexo como é que tantas pessoas honestas e competentes se deixam ultrapassar, por pessoas que não valem a água que bebem, dentro de um partido.
Vieram-me à memória alguns textos do grande Eça de Queirós, escritos no século dezoito, mas com uma actualidade impressionante. Peço desculpa pela ousadia de, como português, subscrever alguns trechos daqueles textos nos dias de hoje.
Não há semana que não se saiba de mais uma negociata com prejuízos de centenas de milhões de euros para o Estado, isto é: para nós que pagamos os impostos.
Os contratos são feitos de forma a beneficiar escandalosamente entidades nacionais e estrangeiras, por vezes a fundos financeiros que não se sabe quem são os donos, exemplos não faltam. Obras que ficam pelo dobro ou triplo do orçamentado e contratado. As leis parecem ser feitas por e para interesses particulares. Aqueles que votam sempre igual queixam-se do preço da água, da luz, do gás, dos combustíveis, da internet e dos carros, queixam-se dos impostos, da (in)justiça e da assistência na doença e na velhice, mas continuam enfileirados.
O Povo está serenamente adormecido, preferindo discutir se os estádios devem ter espectadores, quando uma ‘formiga sai do carreiro’ dão-lhe a volta de mil uma maneiras, a verdade é escamoteada e cilindrada pelas máquinas partidárias nas redes sociais, ao governo basta-lhe afirmar a sua ‘verdade’. As poltronas mantêm-se, só as ‘moscas’ vão rodando em volta da mesa servida pelos distraídos. Há ‘Melancias’ por todo o lado, mas não são tão pequenas. Há várias dezenas de processos pouco ou nada esclarecidos, as prisões foram feitas para os pobres e ninguém é obrigado a devolver nada.
Como disse Eça “Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente pela mesma razão”.
Parece-me que já não chega mudar políticos, o problema é mais profundo.
Se Eça de Queirós fosse vivo não sei se teria alguma coisa a acrescentar ou a retirar àqueles textos, eu creio que ele nem mudaria o português para o acordo ortográfico por respeito à língua materna. O que me parece é que a superestrutura jurídico-política-económica do país não mudou grande coisa, só se transformou numa república, que mais parece das bananas, “Os lustres estão acesos; o país distraído;”.
Por vezes ouço dizer que “a política é assim”, eu digo ‘não pode ser assim’! A resignação e o seguidismo futebolístico de taberna suportam a nuvem de oportunistas e incompetentes. A promiscuidade entre interesse público, interesse privado e interesse pessoal, é enorme. A bajulação e o compadrio são dominantes. A lógica é “cada qual desenrasca-se” ainda que seja à custa de todos os outros.
Alguma coisa tem que mudar!