O Algarve tem apenas um psiquiatra da infância e adolescência no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e no Alentejo existem só dois, mostrando grandes disparidades no acesso a cuidados de saúde mental em Portugal.
Segundo um relatório do Conselho Nacional de Saúde que hoje vai ser divulgado, o número de psiquiatras aumentou globalmente no SNS nos últimos quatro anos, mas ainda há muitas desigualdades geográficas, tanto na psiquiatria de adultos como na da infância e adolescência.
Sob o título “Sem Mais Tempo a Perder”, o documento do Conselho Nacional sobre saúde mental aponta para uma concentração de especialistas em psiquiatria na faixa litoral entre Lisboa e Porto e destaca que há ainda “maior escassez” no SNS de outros profissionais de saúde mental, como psicólogos, terapeutas e técnicos de serviço social.
Na área da infância e adolescência há apenas um psiquiatra no SNS no Algarve, no Alentejo há dois, na região Centro são 18, no Norte há 46 e em Lisboa e Vale do Tejo há 53.
A zona Norte e a região de Lisboa apresentam um rácio de sete psiquiatras de infância e adolescência por 100 mil habitantes menores de idade, enquanto o rácio no Algarve é de 1,1 e no Alentejo é de 2,5 por 100 mil.
Nas regiões autónomas, os Açores têm também apenas um psiquiatra nos serviços públicos de saúde e a Madeira tem três.
Ainda assim, o número de psiquiatras de infância e adolescência cresceu quase 25% entre 2014 e este ano, com um acréscimo de 24 profissionais.
Também na psiquiatria de adultos, o SNS teve um reforço de quase 28% no número de psiquiatras nos últimos quatro ou cinco anos, havendo atualmente 631 psiquiatras de adultos nas unidades de saúde públicas, que inclui os hospitais em regime de PPP.
Em termos de rácio, a psiquiatria de adultos regista melhores valores que a da infância e adolescência, com oito psiquiatras para 100 mil habitantes da população adulta.
Apesar do acréscimo de psiquiatras, há vários hospitais a ultrapassar os tempos máximos clinicamente aceitáveis para uma primeira consulta de psiquiatria, como Braga, Guarda, Setúbal, Júlio de Matos (Lisboa), Santa Maria (Lisboa) ou Santarém para as consultas muito prioritárias.
Contudo, o relatório nota que os tempos médios de resposta para primeira consulta de psiquiatria apresentaram melhorias entre o verão de 2018 e o verão de 2019.
Na análise ao panorama da saúde mental, o Conselho Nacional de Saúde salienta também que há uma “maior escassez” em outros profissionais da área além dos psiquiatras, referindo o caso dos psicólogos, terapeutas ou assistentes sociais.
Também em relação aos enfermeiros especialistas em saúde mental e psiquiátrica, há um desequilíbrio no rácio com os médicos, que é de apenas 1,6. Chega mesmo a haver serviços hospitalares com mais psiquiatras do que enfermeiros especialistas.
ARP // ZO (Lusa)