Aberto nas actuais instalações desde 1973, depois de estar instalado na Igreja do Convento de Santo António dos Capuchos até 1971, o Museu Municipal de Faro é herdeiro do Museu Archeológico e Lapidar Infante D. Henrique e é a mostra por excelência do património, da história e da cultura do concelho de Faro.
É no antigo Convento de Nossa Senhora da Assunção, em plena cidade velha, que se dá a conhecer muito do que é a herança histórica e patrimonial deixada às actuais gerações pelos povos que durante centenas e centenas de anos foram sucessivamente habitando as terras hoje compreendidas pelos limites geográficos do concelho.
À frente de um espólio de milhares de peças está, desde há cerca de quatro anos Marco Lopes, que aposta em fazer evoluir um museu que muito tem mostrado da identidade colectiva farense aos próprios farenses, aos portugueses em geral e aos turistas.
Muito do que hoje se pode ver no museu municipal é ainda fruto do trabalho realizado sob a direcção de Dália Paulo, mas apesar de muitas das exposições estarem patentes há vários anos o museu já tem novidades que valem bem uma visita.
Uma das apostas de Marco Lopes foi a de dar dignidade expositiva acrescida à peça conhecida por ser o ex-libris do museu, o mosaico do Deus Oceano.
O mosaico do Deus Oceano, uma peça de destaque numa sala renovada
Datada de finais do século II ou inícios do III d. C., o painel de grandes dimensões esteve exposto numa sala que “não correspondia em termos de condições à dignidade da peça”, refere Marco Lopes.
Agora, depois de uma intervenção totalmente suportada por mecenas, criou-se um enquadramento e um discurso expositivo que constituem uma mais-valia para o visitante e para a compreensão do conjunto de peças ali exposto.
“Conseguimos um apoio integral de mecenas numa aposta pessoal minha que teve como resultado um projecto da equipa do museu cujo empenho mereceu uma apreciação positiva dos mecenas privados”.
O percurso criado em torno do mosaico permite actualmente ao visitante contornar a peça com um perspectiva de visão descendente, ao mesmo tempo que pode ler informação de enquadramento em painéis ao longo do percurso.
Mosaico proposto para Tesouro Nacional
Outra das apostas do museu está na classificação do Mosaico de Deus Oceano como tesouro nacional, um processo já iniciado e que conta com o parecer favorável – já emitido – da Direcção-Geral do Património Cultural.
“Será o primeiro caso de uma classificação como tesouro nacional atribuída na região do Algarve”, destaca o responsável do museu farense, que esclarece que de momento se “aguarda o parecer do conselho consultivo para que o ministro da Cultura possa finalmente despachar” no sentido da classificação do mosaico com a mais alta categoria da classificação nacional de património.
Faro ganhará assim, mantenha-se o bom percurso desta empreitada, o primeiro exemplo de tesouro nacional do Algarve, o que potenciará sem dúvida a importância do museu municipal e do património do concelho em termos regionais e nacionais.
As reservas: um património ‘escondido’
São milhares as peças que o museu de Faro tem em reserva, longe do olhar do público, e que muitos se perguntam porque não vêem a luz do dia em exposições.
No percurso que leva as peças das reservas até uma sala de exposição há pequenos grandes pormenores que fazem com que muitas peças demorem muito tempo até poderem ser expostas ou mesmo nunca o venham a ser.
“Não se trata de não querer mostrar as peças”, clarifica Marco Lopes, “trata-se antes de perceber que a museologia tem nos dias de hoje de ter em atenção que a exposição de peças pelo simples acto de expor não faz grande sentido”.
“As peças para poderem ser expostas têm antes de ser estudadas a fundo e restauradas em condições que permitam a sua mostra ao público. Estamos a fazer esse estudo – que muitas vezes é muito demorado – e trabalhamos no serviço de conservação e restauro afincadamente para que as peças possam ser expostas em exposições estruturadas, com um discurso museológico adequado e que respeite os critérios de qualidade e credibilidade que queremos todos que o museu tenha”, diz o director do museu.
“Muitas das peças em reserva integram exposições temporárias que vamos realizando, temos actualmente no museu regional (também sob a alçada da Câmara de Faro) uma exposição dedicada ao acordeão e à tradição musical de Bordeira, uma verdadeira mostra de património imaterial do concelho que abrimos ao público em Janeiro”, recorda Marco Lopes, que dá outro exemplo de sucesso com a exposição dedicada aos 125 anos da chegada do Comboio a Faro, “bastava ler o livro de visitas da exposição para ter noção dos testemunhos emocionados de visitantes que recordaram com aquela mostra momentos da História do concelho e da sua história pessoal”.
A aposta passa, afirma o responsável museológico, “por cumprir aquele que é o papel primordial deste museu, preservar e dar a conhecer o património, a história e a cultura do concelho de Faro”, mais do que trazer a Faro exposições importadas, “e por explorar todo o potencial cultural e educativo de cada exposição”.
O serviço educativo, uma aposta continuada
O serviço educativo do museu municipal é considerado um sucesso, mas para Marco Lopes “há que continuar a melhorar e estender o serviço a todos os espaços museológicos da responsabilidade do município”.
“Com a abertura do Centro Interpretativo do Arco da Vila passámos agora a ter mais uma área de serviço educativo a somar ao museu municipal que tem cerca de cinco mil visitas anuais oriundas das escolas e do museu regional que recebe deste segmento cerca de 1.500 visitantes ano”, refere o director do museu, que programa integrar no serviço educativo a Galeria Trem, actualmente dinamizada através de um novo protocolo entre a autarquia e o curso de Artes Visuais da Universidade do Algarve, de onde resultou a actual exposição “Arte: um assunto de mulheres”.
As exposições permanentes
Numa visita ao museu municipal podem ainda ver-se as exposições permanentes “Caminhos do Algarve Romano”, “Sala Islâmica”, “Pintura Antiga dos séculos XVI a XIX” e “O Algarve Encantado na obra de Carlos Porfírio”.
Nesta área o director do museu gostava particularmente de poder renovar a “Sala Islâmica”, “criando, com o que temos em reservas, um ambiente de uma casa da época” e dando maior dignidade e significado a este período da História do concelho.
Na exposição de pintura antiga, a aposta passaria pela melhor iluminação da área de exposição, um tema em estudo com a área de conservação e restauro para que se possa tornar uma realidade.
Mas estas são intervenções de menor monta, as de grande dimensão que poderiam ou deveriam ser feitas dependem de tempo de preparação e de financiamento adequado de mecenas e da autarquia.
Os desafios de futuro
A par da melhoria das exposições já existentes, o museu de Faro quer encarar como desafio de futuro a melhoria das condições de acolhimento dos visitantes, por exemplo criando condições de acesso ao primeiro andar do museu para pessoas com mobilidade reduzida, o que actualmente é impossível.
Na área de restauro, o museu mantém o esforço de conservação e restauro das peças em reserva ao mesmo tempo que desenvolve um trabalho muitas vezes tão pouco visível de manutenção do património do concelho, nomeadamente ao nível das igrejas e respectivos retábulos e estruturas e vai mesmo este ano sair do concelho de Faro para apoiar a Câmara de São Brás de Alportel na recuperação do jazigo do poeta Bernardo de Passos.
Na calha estão também uma exposição dedicada ao Barroco, feita em parceria entre o museu municipal e o Museu de Belas-Artes de Sevilha, e uma exposição dedicada ao azulejo baseada na colecção de azulejos do Almirante Ramalho Ortigão de que o museu é proprietário e que já integrou a mostra “O Brilho das Cidades” na Gulbenkian.
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