O Movimento Salvar as Alagoas Brancas e várias Organizações Não Governamentais (ONGs) portuguesas reúnem-se na próxima segunda-feira com o ministro do Ambiente e da Acção Climática, Duarte Cordeiro.
O movimento vai deslocar-se a Lisboa, à Secretaria-Geral do Ministério do Ambiente e da Acção Climática, com o objectivo de que o ministro Duarte Cordeiro se posicione no sentido de salvar as Alagoas Brancas e mudar o loteamento do sítio.
A petição “Salvar a zona húmida das Alagoas Brancas” já conta acima de 7.500 assinaturas e em breve será introduzida na Assembleia da República para ser levada a discussão em plenário. Esta, que já é a segunda petição levada a cabo pelo movimento de cidadãos, pode ser consultada e assinada aqui.
O movimento explica em comunicado que “foi recentemente encontrada nas Alagoas Brancas uma rara comunidade de plantas associadas aos meios aquáticos, com várias espécies raras e ameaçadas. Trata-se da maior população nacional de Damasonium bourgaei, espécie criticamente em perigo em Portugal, só conhecida em dois outros locais (num local ocorre uma planta isolada e noutro local são poucas dezenas de indivíduos)”.
Além desta, também foram registadas outras plantas raras, “como Cressa cretica e Elatine macropoda e outras espécies, como Sporobulos aculeatus, que atestam o bom estado de conservação da comunidade”.
As recentes descobertas e os últimos pareceres e estudos técnicos feitos sobre o local “têm contrariado a posição daqueles que durante demasiado tempo tentaram desvalorizar a importância ecológica e ambiental das Alagoas Brancas”.
“Uma das ideias sugeridas por alguns políticos tem sido que a solução para o problema seria translocar os animais selvagens de lugar e construir um habitat húmido artificial, mudando a zona húmida das Alagoas Brancas de sítio. Esta é uma ideia que o movimento de cidadãos contesta solenemente e que aponta como sendo uma não-solução, nem a curto nem a longo prazo, muito menos na conjuntura climática em que nos encontramos e muito menos tratando-se de uma zona húmida de água doce com as características e serviços das Alagoas Brancas”, afirma o Movimento Salvar as Alagoas Brancas.
“Quantos anos leva para recriar as condições necessárias para o funcionamento sustentável das cadeias tróficas ali presentes? As zonas húmidas são considerados os ecossistemas mais ricos e produtivos da biosfera – como pretendem recriar aquilo que a natureza leva milénios a sedimentar? O que fazem os animais que ali habitam entretanto? Onde vão viver as milhares de aves que pernoitam nas árvores das Alagoas Brancas? Quanto custaria um projeto destas características? Se o erário público pode ser usado para recriar habitats artificiais (neste caso o que está em causa é uma zona húmida de água doce) onde não há garantias suficientes de que o suposto habitat artificial funcione ou resulte, então porque não usar o erário público para mudar o loteamento de lugar? ou para pagar a indemnização? Muito se tem ouvido e lido sobre os receios de uma hipotética indemnização ao promotor, mas serão esses receios fundamentados? E os montantes propelidos foram baseados em quê?”, questiona.
“Há cerca de dois meses atrás, a propósito de uma reunião entre a Câmara de Lagoa e o movimento, o presidente Luís Encarnação informou que mudaria o loteamento de lugar se o governo apoiasse e o promotor aceitasse. Recentemente, Luís Encarnação contactou um dos membros do movimento de cidadãos e informou que teria sinalizado terrenos para esse efeito e que também já teria falado com o promotor nesse sentido, prometendo agendar uma nova reunião com o movimento após a ocorrência da FATACIL”, pode ler-se.
“A campanha de sensibilização vai continuar imparável”, afirma.
O movimento tem marcado presença na FATACIL. No dia da inauguração da feira, falou com a ministra da Presidência Mariana Vieira da Silva, dando conhecimento da causa e dos valores em questão. Recentemente, foi colocado um outdoor na cidade de Lagoa junto à estrada nacional 125.
O movimento tenciona “projectar um segundo outdoor na zona, de modo a que a causa continue presente na consciência de todos”.
Alagoas Brancas albergam 300 espécies registadas de fauna e flora
As Alagoas Brancas são uma pequena zona húmida de água doce no seio de um aquífero aluvionar que ao longo do ano alberga 300 espécies registadas de fauna e flora, entre as quais 146 espécies de avifauna.
Este ecossistema dependente de água subterrânea (EDAS) funciona também como uma bacia natural de contenção de água promovendo serviços de ecossistema à cidade de Lagoa, e mitigando riscos para pessoas e bens em caso de cheias e inundações. Esta área deveria pertencer à reserva ecológica nacional como zona ameaçada por cheias (ZAC) e como área estratégica de infiltração e proteção à recarga de aquíferos (AEIPRA).
O movimento diz que “está atento e não se coaduna com posições difusas, ou voláteis, e irá intensificar esforços por esta nobre causa, se tal for necessário”.
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