Mais de mil crianças terão sido sexualmente exploradas ao longo de várias décadas na cidade inglesa de Telford devido à inação das autoridades que terá “encorajado os infratores”, concluiu inquérito independente divulgado esta terça-feira.
A investigação de três anos considerou também que as autoridades permitiram que os abusos continuassem durante vários anos “sem resposta consertada” e que frequentemente as crianças foram culpabilizadas em vez dos perpetradores. Simultaneamente, os professores e outros funcionários de áreas ligadas aos jovens foram desencorajados de reportar os casos.
Segundo o documento, foram vários os fatores que contribuíram para o “chocante falhanço” das autoridades em responder ao problema, incluindo o excesso de zelo em agirem na ausência de “provas irrefutáveis”. Regularmente, o nervosismo associado a questões de raciais foi o razão para as denúncias não serem investigadas.
“O tema esmagador das provas tem sido o terrível sofrimento de gerações de crianças causado pela absoluta crueldade daqueles que cometeram exploração sexual infantil”, afirmou o responsável do inquérito, Tom Crowther QC, citado pelo The Guardian.
“Vítimas e sobreviventes contaram repetidamente ao inquérito como, quando eram crianças, homens adultos trabalhavam para ganhar a sua confiança antes de traí-la impiedosamente, tratando-os como objectos sexuais ou mercadorias. Inúmeras crianças foram agredidas sexualmente e violadas.”
O número de vítimas já tinha sido estimado por uma investigação do jornal Sunday Mirror publicada em 2018. Este número foi questionado, mas Tom Crowther considerou agora que a estimativa de mil crianças afetadas corresponde a uma “avaliação inteiramente medida, razoável e não sensacionalista” por parte da publicação.
Estes resultados da investigação em Telford surgem agora depois de no início do ano o IICSA (inquérito independente ao abuso sexual de menores) ter publicado um relatório sobre a exploração sexual de menores a nível nacional. O documento concluiu que a polícia e municípios estavam a desvalorizar a escala do problema e que as crianças eram frequentemente culpabilizadas pelos abusos sofridos. Segue também outros inquéritos locais a redes de exploração sexual em cidades como Rotherham and Rochdale.
No caso de Telford, em 2013 sete homens foram presos durante a Operação Chalice, uma investigação policial à prostituição infantil na área que apurou que meninas tão novas como 13 anos estavam a ser sexualmente exploradas e preparadas (grooming) com ofertas de álcool e dinheiro. No entanto, o inquérito conclui que, mesmo após esta operação, as autoridades não compreenderam a importância da investigação nesta área.
Consequentemente, “em 2015, tanto o governo local como o departamento [da polícia de West Mercia] para a exploração sexual de menores (CSE) tinham, de certa forma, retrocedido quase uma década”. “Reduziram as suas equipas especializadas de CSE para virtualmente zero – para economizar dinheiro”, acrescentou Tom Crowther.
Segundo o documento publicado esta terça-feira, foram “indivíduos empenhados em vez das direções superiores” que permitiram que o trabalho nesta área continuasse a ser realizado.
Tom Crowther afirmou ainda que o progresso das partes visadas pelo inquérito vão ser novamente analisados dentro de dois anos e que os resultados vão ser divulgados novamente. “Eles vão ser responsabilizados pelas vítimas, sobreviventes e pelo público em geral, pela sua resposta a estas recomendações.”
“Gostaria de pedir desculpas. Desculpas aos sobreviventes e a todos os afetados pela exploração sexual infantil em Telford. Embora não tenha havido descobertas de corrupção, as nossas ações ficaram muito aquém da ajuda e proteção que vocês deveriam ter recebido de nós. Foi inaceitável, decepcionamo-vos”, afirmou o subchefe de polícia Richard Cooper em resposta à publicação do relatório.
“É importante que agora reservemos um tempo para refletir de forma crítica e cuidadosa sobre o conteúdo do relatório e as recomendações que foram feitas. Agora temos equipas dedicadas a prevenir e combater a exploração infantil.”
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL